Livros de Teologia


quinta-feira, 15 de abril de 2021

Morte na panela

"Eliseu voltou a Gilgal. E havia fome na terra; e os filhos dos profetas estavam sentados na sua presença. E disse ao seu moço: Põe a panela grande ao lume, e faze um caldo de ervas para os filhos dos profetas. Então um deles saiu ao campo a fim de apanhar ervas, e achando uma parra brava, colheu dela a sua capa cheia de colocíntidas e, voltando, cortou-as na panela do caldo, não sabendo o que era. Assim tiraram de comer para os homens. E havendo eles provado o caldo, clamaram, dizendo: ó homem de Deus, há morte na panela! E não puderam comer. Ele, porém, disse: Trazei farinha. E deitou-a na panela, e disse: Tirai para os homens, a fim de que comam. E já não havia mal nenhum na panela" (IIRs 4.38-41)
Vemos no texto que a pessoa que saiu ao campo para colher ervas para o caldo fazia parte do grupo de aprendizes do profeta Eliseu; ela era "um deles". Porém, aquele aprendiz não era a melhor escolha para desempenhar a função de decidir o que os colegas iriam comer. O texto diz que "não sabendo o que era", colheu. O desconhecimento daquele aprendiz mostra que estava despreparado para a tarefa; não possuía os conhecimentos mais básicos sobre as plantas da região para decidir o que era saudável e o que era veneno. Da mesma forma, ainda que todos os crentes em Cristo façam parte do grupo de aprendizes do Mestre, há os que não conseguem discernir entre o bom alimento e o veneno. Com toda a boa intenção daquele aprendiz do texto, trazem veneno para a "panela" da Igreja, onde os irmãos comerão. Há muito veneno por aí. Plantas que parecem suculentas e vistosas, mas que por dentro carregam a morte! No entanto, o maior erro daquele aprendiz não foi colher a planta venenosa, mas não perguntar para os colegas mais experimentados no assunto se era boa para alimento, visto que ele mesmo não sabia o que era. Essa negligência foi seu maior erro.
A bênção de Deus veio por meio dos membros do grupo dos filhos dos profetas que conheciam aquele veneno, e por isso alertaram o grupo: "há morte na panela!". Da mesma forma, Deus levante pessoas no meio do Seu rebanho com o conhecimento necessário para alertar a Igreja sobre os muitos e variados venenos que podem estar na panela. O profeta Oséias escreveu: "O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento" (Os 4.6a). Num tempo onde cada um come da sua própria panela, muito mais do que da panela coletiva da Igreja reunida, o alerta dos profetas não é levado em conta por muitos que, comendo veneno como se boa coisa fosse, morrem, sem saber.
Que Deus tenha misericórdia do Seu povo e conceda servos que identifiquem o veneno e alertem Seu povo, e que esse povo ouça!

terça-feira, 13 de abril de 2021

Salvação antes de Cristo

 "Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva" Jo 7.38

Uma pergunta comum, e muito pertinente, é essa: "como as pessoas eram salvas por Deus antes de Jesus Cristo?". Penso que a resposta a essa pergunta foi respondida pelo próprio Jesus no versículo acima.

A salvação está, nesse verso, representada pela figura da água viva que flui abundantemente do interior do crente, analogia comum nos textos do Antigo Testamento (Ex 17.6; Sl 114.8; Is 55.1; 58.11; Jl 2.23; Ez 47.1, 12; Zc 13.1). Para um povo acostumado com a região árida do oriente médio, a imagem da água como portadora da vida é algo comum e muito vívido.

Essa salvação, Jesus afirma, é dada àqueles que creem Nele. A salvação eterna é pela fé, somente pela fé, e fé somente Nele. Um detalhe, entretanto, deve ser notado. Jesus disse que a Escritura ensina isso - "Quem crê em mim, como diz a Escritura...". Quando Jesus disse essas palavras, o Novo Testamento ainda não havia sido escrito. A Escritura que Jesus tem em mente é o que chamamos Antigo Testamento, e o que o Mestre está dizendo claramente é que o Antigo Testamento já ensinava que a salvação era para os que cressem Nele. Se substituíssemos a palavra Escritura por "Antigo Testamento", que é o que Jesus está dizendo no verso, isso fica óbvio: "Quem crê em mim, como diz o Antigo Testamento...". Logo, aprendemos que a salvação do homem pecador sempre foi pela fé em Jesus Cristo. Como isso era possível antes que Jesus nascesse em Belém da Judeia?

Desde que o pecado entrou na história humana, Deus anunciou que o Messias (o ungido de Deus, o Salvador) é Quem liberta e salva o pecador. Desde o primeiro pecado humano, cometido por Adão e Eva, o Criador anunciou o Messias, embora ainda não chamado pelo nome Jesus ou pelo título de Messias. A primeira anunciação de Jesus está registrada em Gn 3.15, onde Jesus é chamado de "descendente da mulher", que esmagaria a cabeça da serpente, triunfando sobre Satanás e vencendo o mal. Portanto, podemos dizer que a salvação foi oferecida ao homem desde o primeiro pecado cometido, e o primeiro casal humano seria salvo, se colocasse sua fé e esperança no "descendente da mulher". Desde sempre, pela fé Nele. Com o passar do tempo, Deus foi revelando mais sobre o Salvador, até que Jesus pessoalmente estive entre os homens, o Verbo de Deus encarnado (cf. Jo 1.14).

Por isso foi que Jesus disse, "Quem crê em mim, como diz a Escritura", pois a Escritura toda, Antigo e Novo Testamentos, ensinam a mesma verdade, a mesma salvação, somente pela fé, fé somente no "descendente da mulher", somente no Messias, o Cristo, Jesus de Nazaré! A única distinção é de tempo, que os que viveram antes de Cristo eram salvos pela fé no Messias que viria, e os que viveram durante a presença física de Jesus na terra e após, são salvos pela fé no Messias que veio, e que voltará (cf. Hb 13.8). Simples e lindo, não é mesmo?

sábado, 10 de abril de 2021

Dá-nos o pão de cada dia

 
Quando Jesus nos ensinou a orar, Ele o fez de modo tão didático quanto possível.

No verso 11, Ele expõe sua primeira petição: "O pão de cada dia dá-nos hoje".

O pão sempre fora um ícone de força e sustento, bem apropriado por sinal. Quando israelitas viveram nos desertos por quatro décadas, Deus os alimentou com o pão que caía do céu, o maná (cf. Ex 16).

Assim, a imagem que nos vem imediatamente na primeira petição do Pai nosso é a de súplica a Deus para que nossos recursos, nossa provisão não acabe, mas que Ele nos abençoe diariamente com sustento. Isso é verdade e está sim no texto.

Porém, penso que vá além. Num dos discursos de Jesus Ele se comparou com o pão, com o maná (Jo 6.32-58). Ele apresentou-Se como o "Pão vivo que desceu do céu" (vs. 51), não o que "caiu do céu", mas o que "desceu do céu". Apresentou-Se como o "Pão da vida" (vs. 48), diferente do maná que os antepassados dos judeus comeram no deserto e, mesmo assim, morreram. Aquele que "come" o Pão vivo que desceu do céu jamais morrerá (vs. 49-50; 57-58).

Portanto, temos de orar "o Pão de cada dia dá-nos hoje" com isso em mente. O que Jesus nos ensinou ali é que devemos nos alimentar Dele diariamente. Precisamos receber Dele todos os dias. O alimento espiritual que nos dá vida não pode ser relegado à algumas horas no domingo, ou a alguns momentos esporádicos, mas deve ser diário, constante, permanente. O vs. 11 do Pai nosso significa que precisamos de Jesus o tempo todo.

Tem misericórdia de nós, Jesus, e dá-nos de Ti todos os dias!