Livros de Teologia


quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Disposição e obediência

"Veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim. Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do Senhor, para Társis; e, tendo descido a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem e embarcou nele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor" (Jn 1.1-3)

Os três versículos que lemos acima introduzem o livro do profeta Jonas, famoso pela história de ter sido engolido por um grande peixe. Mas, aqui, quero refletir sobre duas verdades que aprendemos já nestes primeiros versos.
O verso primeiro é um verso introdutório, onde o autor apresenta o profeta identificando-o como filho de Amitai. No segundo verso temos o registro da ordem que Deus dá ao profeta. É uma ordem curta e simples, embora sua execução não fosse tão simples assim. Nínive era a capital do maior império da época, a Assíria, terra de um povo muitíssimo violento e que já havia trazido muito sofrimento ao povo de Israel. Os ninivitas eram gentios e pagãos. Muito provavelmente isto contribuiu para que a decisão de Jonas fosse contrária à ordem de Deus de pregar àquele povo.
De qualquer maneira, vemos no terceiro verso que Jonas não obedece a ordem de Deus, fugindo da Sua presença para Társis. A ordem de Deus começava com "dispõe-te", como lemos no verso dois. O verso três começa dizendo que "Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do Senhor". Aprendemos aqui que disposição sem obediência não se aproveita. Não adianta empregarmos todo nosso vigor, tempo e disposição em algo que é o contrário da vontade de Deus. É desperdício de energia, de tempo e de recursos. Na obra de Deus, por exemplo, vemos muita gente disposta, cheia de energia, "cheia de gás", como dizemos no popular; mas toda essa energia, se não for orientada pela vontade de Deus, é vã. Jonas, como vemos, desperdiçou tempo, recursos, e energia na sua disposição desobediente. Portanto, temos de nos lembrar que disposição só é útil quando submissa e orientada pela Palavra de Deus.
Outra lição que aprendemos do texto em questão é que Jonas obedeceu a ordem de Deus pela metade, e isso de nada adiantou. Deus ordenou que ele se dispusesse, e ele se dispôs, mas não para o que Deus havia ordenado. Obedecer pela metade é não obedecer! Na nossa relação com Deus, obedecer Sua vontade e Seus mandamentos pela metade é, simplesmente, não obedecer. Espiritualmente, ou se obedece ou não obedece; não há meio termo! Ou obedecemos toda a vontade de Deus, ou simplesmente não obedecemos. Um mode de obedecer os mandamentos de Deus pela metade, por exemplo, é sermos cordiais e gentis com os irmãos da Igreja, mas rudes e grosseiros com os colegas de trabalho, ou quaisquer outras pessoas. Não serve para Deus a benignidade que só existe "na igreja", mas não fora dela. Obedecer pela metade é não obedecer. Ou somos benignos em todo o tempo, ou simplesmente não somos. O nome que a Bíblia dá para a meia obediência é hipocrisia, que foi um dos pecados mais repreendidos por Jesus nos Evangelhos.
Concluindo, devemos nos atentar para estas duas verdades. Empregarmos toda nossa energia e disposição sob a orientação da Palavra de Deus, para não desperdiçarmos energia, recursos e tempo. E devemos obedecer integralmente a vontade de Deus, pois meia obediência é desobediência.
Que Deus nos ajude a aprendermos e praticarmos estas duas lições tão importantes.

Deus abençoe.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O amor segundo Deus

"E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos. Este mandamento, como ouvistes desde o princípio, é que andeis nesse amor" (IIJo 6)

O apóstolo João, como muitos sabem, é conhecido pelos cristãos como o "apóstolo do amor". Isto acontece porque João é muito dedicado a esse tema, e fala muito sobre o amor no seu Evangelho, nas suas cartas, e até no Apocalipse.
O amor sempre foi um assunto muito interessante, tanto para os autores bíblicos, quanto para os escritores seculares, principalmente os poetas. Entretanto, a tarefa de definir o amor sempre pareceu muito difícil para os pensadores, até mesmo para os poetas e filósofos. O amor é realmente difícil de ser definido, quando a noção que se tem dele não é a bíblica.
O pequeno versículo seis da pequenina segunda carta que o apóstolo João escreveu, que lemos acima, nos presenteia com a definição de amor que os apóstolos de Jesus aprenderam do Mestre. Seria o amor, aos olhos de Jesus e dos apóstolos, um sentimento? Seria uma sensação que nos faz suar frio, que nos dá aquele friozinho da barriga? Seria o amor uma emoção avassaladora que brota no seio de uma paixão entre um homem e uma mulher? De certa forma isso tudo também pode ser encontrado dentro do que a Bíblia ensina que é o amor, mas a definição, em termos gerais, que temos do amor é que o amor é obediência aos mandamentos do Senhor. E o mandamento que João lembra que os cristãos ouviram, desde o princípio, é que andássemos nesse amor, não em algum outro amor.
A palavra amor tem ficado desgastada pelo seu mau uso. Os livros e filmes de romance vêm formando uma noção de amor muito reducionista, muito aquém da que Deus ensina na Bíblia. Quem nunca leu um romance, ou viu um filme, e se imaginou vivendo "uma história de amor"? Pois eu lembro que a maior história de amor é a que acontece entre o Criador e suas criaturas, entre o Deus Eterno e a humanidade! E nessa história de amor, todos nós fazemos parte, estamos envolvidos. A diferença é se somos amantes fiéis ou adúlteros do Deus Todo-Poderoso...
O que não podemos é transportar a noção "hollywoodiana" de amor para nossa relação com Deus. O que chamo de noção "hollywoodiana" de amor é que vemos na maioria dos filmes de romance produzidos em Hollywood, onde um casal de apaixona perdidamente, mas para que esse amor seja desfrutado e vivido em plenitude regras precisam ser quebradas ou ignoradas. Com Deus é justamente o contrário! É na obediência que Deus vê o amor, e não na rebeldia.
Veja também o que o próprio Jesus falou sobre o amor: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele" (Jo 14.21). Não há como haver confusão. Na Bíblia, aos olhos de Deus, amor é obediência aos Seus mandamentos. Jesus não ensinou isso só com palavras, mas com Seu próprio exemplo. Enquanto na terra, em tudo foi obediente ao Pai (Jo 8.28; Hb 5.8) servindo de exemplo perfeito para todo ser humano (Jo 13.15).
Agora, a pergunta que não quer calar é a seguinte: E você? Ama a Deus? Em outras palavras, você O obedece? Tem vivido em obediência ao Senhor? Então pode dizer que O ama verdadeiramente. E se não O tem amado como deveria, o amor Dele por você permanece inalterado, pois Ele é amor (IJo 4.8). Conserte-se e passe a viver em obediência, e então você O amará verdadeiramente.

Deus abençoe.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Dê valor à Bíblia!

"Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido" (Js 1.8).

O Livro de Josué começa com as palavras de ânimo e encorajamento que Deus falou a Josué, quando este assumiu a liderança do povo de Israel após o falecimento de Moisés. Israel andou pelo deserto durante quarenta anos, e agora, diante da tão desejada terra prometida, seu grande líder e "boca de Deus", Moisés, não está mais entre eles. Josué, é levantado por Deus para assumir a dianteira do povo e guiá-los na conquista da terra, agora habitada por diversos povos canaanitas, que não sairiam por livre e espontânea vontade.
Todavia, Josué precisou de palavras divinas que o confortassem e encorajassem, pois substituir alguém tão notável como Moisés provoca uma pressão muito grande. As comparações seriam inevitáveis e Josué, talvez, tenha temido não corresponder, ou não ser tão próximo de Deus como fora seu antecessor. Mas Deus o conforta e garante que estaria com ele até o fim.
Eu chamo a atenção, aqui, para o verso oito, transcrito acima, onde Deus ordena a Josué que não cessasse e falar do Livro da Lei, e que meditasse nele dia e noite e o cumprisse à risca, condicionando o sucesso à essa ordem. O Livro da Lei a que se refere Deus, naquele momento, eram os cinco primeiros livros da nossa Bíblia de hoje, o chamado Pentateuco, composto por Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Moisés os havia escrito por orientação de Deus (Ex 17.14; 34.27), sob a inspiração do Espírito do Senhor. Obviamente, a Bíblia ainda não estava completa. A revelação de Deus ao homem ainda estava em um estágio inicial. Muitos outros livros ainda haveriam de ser escritos após Josué. Podemos dizer que a Bíblia de Josué continha apenas cinco livros, pois viveu antes dos demais serem escritos.
Mesmo que a Bíblia que Josué possuía fosse incompleta, naquela época, a ordem de Deus foi para que não cessasse de falar dela e de meditar nela. Ela deveria orientar o caminho de Josué, que não deveria se desviar nem para a esquerda, nem para a direita das instruções contidas na pequena Bíblia que estava em suas mãos. O que aprendemos aqui?
A lição que temos neste texto é que, mesmo que o que conheçamos de Deus ainda não seja o todo sobre Ele, a ordem que temos é de não cessar de falar do que já temos, e de meditar no que já possuímos, e de orientar toda a nossa vida pela revelação de Deus.
Nossas Bíblias, hoje, já estão completas. Temos todos os sessenta e seis livros inspirados por Deus, e toda a revelação que Deus fez de Si mesmo aos homens já nos está disponível. Entretanto, muito dos que se proclamam servos desse Deus pararam de falar desse Livro Santo, e muitos mais pararam de meditar nesse Livro Santo. Por isso, vemos tantos que não orientam mais sua vida pelas Escrituras, mas a orientam por outras coisas. Por terem desanimado e pararem de falar, ler e meditar na Bíblia, muitos tem orientado sua vida pelos modismos, pelas celebridades e pelos valores e política do mundo pós-moderno. Pensam como pensam seus ídolos da música, do esporte, da TV... Se vestem e adotam a aparência das suas referências... Suas opiniões e modo de julgar e interpretar a vida em geral é toda formada por coisas e pessoas fora da Bíblia. E não é assim que um cristão deve ser e viver. A ordem de Deus dada a Josué ainda ecoa para todos os verdadeiros filhos de Deus, que devem perseverar em falar, ler e meditar na Bíblia Sagrada, orientando sua vida, até nos mínimos detalhes, pela revelação que Deus fez de Si mesmo nas Escrituras Santas.
Já é um privilégio termos a Bíblia completa, em nossa língua, disponível e facilmente ao nosso alcance. Não desperdice este privilégio, antes, obedeça à ordem do Senhor, e tenha cuidado de fazer tudo quanto nele está escrito; então farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido!

Deus abençoe.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Jesus e as mulheres

"Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens" (Lc 8.1-3).

Este pequeno trecho do Novo Testamento é um exemplo de como o evangelista Lucas preocupou-se em destacar a participação de mulheres no ministério terreno de Jesus. Os três versos, independente de lições e aplicações que se possam extrair deles, têm o propósito maior de registrar a visão inovadora e libertadora que Jesus tinha sobre o papel feminino na obra de Deus na terra.
Naquela época, um homem ser sustentado por uma mulher era situação a ser evitada a todo custo. Era humilhante demais para um homem, responsável pela provisão do lar, ser mantido por uma mulher. As mulheres, naquele tempo, não contavam com direitos civis ou religiosos iguais aos dos homens. A causa disso era composta de uma gama enorme de fatores culturais e entendimentos teológicos equivocados. De qualquer maneira, homens evitavam até onde podiam uma situação como essa.
Em contra partida vemos Jesus, um homem feito, que foi arrimo de Sua família desde a morte de Seu padrasto, José, acostumado a trabalhar na carpintaria que herdara, agora integralmente dedicado à pregação do Evangelho em um ministério itinerante, recebendo assistência financeira de um grupo de mulheres. Há uma lição obvia, porém grandiosa, aqui. Jesus não ensinava somente quando abria Sua boca, com palavras ditas. Ele também ensina com gestos e comportamento. Ao aceitar a assistência financeira de mulheres, e permitir que isso fosse de conhecimento público, Jesus busca quebrar um paradigma social vigente por séculos de tradição machista. É claro, porém, que Ele não estava incentivando a gigolotagem ou a malandragem, até porque Ele trabalhava, e muito, no ministério da pregação. Jesus está, na verdade, buscando ensinar que todos têm o direito de participar da obra do reino de Deus na terra, pois como o apóstolo Paulo ensinaria mais adiante, dentre todos os que se revestiram de Cristo "não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gl 3.28).
O ministério de Jesus na terra e as lições do Novo Testamento foram uma contribuição importante, sempre que bem compreendidos, para a formação de uma sociedade mais igualitária, a despeito dos que advogam o contrário. Esse texto é uma prova cabal dessa verdade.
Mas, além disso, o texto ainda ensina mais uma verdade importante. As mulheres que assistiam Jesus financeiramente o faziam voluntariamente, sem nenhum constrangimento. Também não há nenhum texto onde Jesus, ou um dos apóstolos, tenham pedido a ajuda financeira daquelas mulheres. Elas perceberam a necessidade e se dispuseram a socorrer o ministério do Cristo. Jesus as havia libertado de espíritos imundos e curado de enfermidades, e a gratidão e a fé foram as motivações do gesto financeiro. Elas doavam não por constrangimento ou por necessidade, porque Deus ama quem dá com alegria (IICo 9.7).
Se olharmos um pouco mais atentamente também veremos que o verso primeiro diz que os doze "iam com ele, e também algumas mulheres... que lhe prestavam assistência com os seus bens". As mulheres não financiavam um ministério do qual não faziam parte. Elas também "iam com ele". Ninguém deve pensar, por um segundo sequer, que doar dinheiro para a obra de Deus, é suficiente para torná-lo discípulo de Jesus. Os verdadeiros discípulos de Jesus precisam segui-Lo, precisam "ir com Ele". É caminhando com Jesus que percebemos as necessidades do ministério e, na medida da possibilidade, contribuímos no seu sustento. Ninguém compra a salvação, doe quanto doar. Ninguém compra a aprovação de Jesus, seja tão rico quanto for. Nunca foi o valor financeiro que fez com que o nome destas mulheres ficassem registrados eternamente nas Escrituras, mas o coração abnegado e voluntarioso que demonstraram para com o Senhor.
Devemos ter muito cuidado quando ofertamos ou dizimamos, para não o fazermos com as motivações erradas. Todavia, quando seguimos Jesus e temos o desejo real e sincero de suprir as necessidades da Sua obra na terra, para a propagação do Evangelho, Ele jamais rejeitará! Pelo contrário, honrará e abençoará aqueles que assim o fizerem, sejam homens, mulheres, ricos ou pobres.
Que Deus nos ajude a termos um coração como o daquelas mulheres.

Deus abençoe.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O perigo da justiça própria

"E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e seus discípulos. Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Mas Jesus, ouvindo, disse: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento" (Mt 9.10-13).

No tempo de Jesus o judaísmo era uma religião que abrigava várias correntes teológicas e várias "denominações" distintas. Dentre elas haviam os fariseus, possivelmente o grupo mais influente e com maior número de integrantes no sinédrio (cúpula sócio-religiosa dos judeus naquela época). A palavra fariseu significa, literalmente, "separado", e pretendia significar que eram separados da impureza do pecado e dos pecadores. Já o grupo dos publicanos era mais um grupo sócio-político do que religioso, pois eram pessoas instituídas pelos governadores romanos com a função de cobrarem os impostos que financiavam o império romano. Por isso, os publicanos eram vistos pelos demais judeus como traidores e impuros, pois representavam o império gentio que os dominava. Desse modo, os fariseus questionavam como poderia um Rabi (mestre) associar-se com os publicanos, principalmente comendo juntos.
O questionamento dos fariseus acaba por mostrar sua visão sobre a relação de um mestre com os pecadores. Para eles, ao comer com pecadores, Jesus se tornaria um deles ou, no mínimo, estaria demonstrando algum tipo de aprovação ao seu modo de vida, e ainda corria o risco de ser influenciado pelos pecadores, o que era inadmissível. Muitos dos fariseus, sendo também mestres da Lei, talvez temessem ficar constrangidos a ter que lidar também com os pecadores se Jesus fosse bem sucedido na missão, e isso os incomodava profundamente. É muito mais cômodo lidar com os que já desfrutam de boa fama e apresentam uma conduta publicamente aceitável. Pecadores e marginalizados significam um alto investimento de energia, tempo, paciência e recursos, sem a garantia de um "retorno" rápido, além de uma expectativa muito mais modesta de sucesso.
Jesus, entretanto, mostra uma perspectiva completamente oposta. Usando a analogia médico/paciente, Jesus diz que, da mesma forma que um médico não deve esperar que seus pacientes curem-se sozinhos, para então visitá-los, o mestre não deveria esperar que as pessoas se tornassem boas e santas, para só então ministrar a elas. Jesus ainda ensina, com isso, que não Se orienta pelas convenções sociais, nem pelas aparências. O texto de Oséias 6.6 que Jesus cita como justificativa do seu comportamento mostra que a misericórdia deve antecipar os rótulos e estigmas sociais.
No final das contas, Jesus acabou por mostrar que tanto fariseus como publicanos eram pecadores e alvos da mesma misericórdia, por comeu com publicanos, mas também comeu com fariseus (Lc 7.36). A justiça própria em que se apegavam os fariseus não servia para Jesus. Auto proclamar-se justo e santo não torna, necessariamente, isso uma verdade aos olhos de Deus. Como doentes carentes do Médico, Ele é Quem nos justifica e santifica (Rm 5.1). A justiça auto atribuída não tem valor algum diante do Mestre, e frequentemente torna a pessoa exclusivista e preconceituosa. Aquele, porém, que reconhece que a misericórdia de Deus é que o resgatou e salvou, sabe também que pode resgatar e salvar qualquer outro pecador.
Mas e nós? Temos a misericórdia de Deus como base das nossas relações? Até onde julgamos fundamentados em preconceitos e rótulos sociais? Nos apegamos à uma justiça própria ou temos experimentado a misericórdia de Deus em nossas vidas?

Deus abençoe.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Orai sem cessar

"Orai sem cessar" (ITs 5.17).

Este pequenino versículo da Escritura é muito conhecido do povo evangélico. Frequentemente é citado nas reuniões e cultos. Mas, o que é "orar sem cessar"? Como isso acontece?
Inegavelmente o verso serve, com razão, como estímulo ao hábito e dever da oração, pois o verbo orar vem conjugado na forma imperativa "orai", como uma ordem divina ao cristão. Portanto, orar não é algo que se faz só quando dá vontade, pois é um mandamento. Faz sentido pensar que, se um cristão ama o Senhor, desejará falar com Ele frequentemente; todavia, não significa que a oração é uma opção ao cristão, pois a força imperativa da ordem vinda de Deus deve suplantar a possível "indisposição" para a oração. Orar é dever do cristão, além de ser um privilégio. Foi o exercício do senhorio de Cristo que embasou o mandamento, e qualquer que seja um discípulo verdadeiro do Mestre deve submeter-se, voluntaria e alegremente, ao Seu comando.
Mas, o texto ainda diz que devemos orar "sem cessar", e é aqui que encontramos algumas dificuldades de entendimento por parte de alguns que, embora sinceros e desejosos de agradar ao Senhor, não conseguiram absorver a real intenção destas duas palavras.
O apóstolo Paulo não quis aqui colocar um fardo insuportável ao cristão, como se esse tivesse que orar vinte e quatro horas por dia, literalmente. É claro que isso seria impossível de sustentar-se durante uma vida toda. O que o apóstolo esperava lembrar ao seus leitores é que o cristão não deve viver a vida como se houvesse assuntos dos quais Deus não precisasse estar envolvido. Em todos os aspectos da vida, sem exceção, Deus deve ser convidado a participar. Nenhuma decisão, nenhuma escolha, por mais simples que pareça, deve ser tomada até que a vontade de Deus seja conhecida. Conhecemos a vontade de Deus por dois meios básicos: a revelação da Bíblia e pela oração. O cristão deve viver colocando a vontade de Deus antes da própria, priorizando o que Deus quer; isso é negar-se a si mesmo (Mt 16.24). Orar sem cessar é negar-se a si mesmo, importando-se com a vontade de Deus em todos os aspectos da vida diária. Orar sem cessar é envolver-se da vontade de Deus de tal maneira que vivamos sob Sua orientação até nas coisas mais singelas, e desse modo nos assemelharmos a Cristo, que desse modo viveu.
E você, tem buscado a vontade de Deus? Qual o valor que tem atribuído à vontade de Deus? Quanto tem negado a si mesmo, para que Deus seja glorificado?

Deus abençoe.