Livros de Teologia


sábado, 30 de abril de 2016

Dedicação na obra do Senhor

"Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe" (Gn 2.18-22).

O texto acima, à primeira vista, não parece ensinar nada sobre a obra do Senhor. De fato, não era esse o assunto de Moisés quando redigiu esse trecho da Escritura. Todavia, o trecho tem, sim, uma lição preciosa sobre o trabalho na obra de Deus na terra.

O verso 18, que inicia o trecho, registra a declaração de Deus de que não é bom que o homem esteja só. Deus, em Sua infinita sabedoria e onisciência, já conhecia os resultados da solidão e tratou logo de preveni-los na vida da sua criatura mais sublime, o homem, Ele idealiza a mulher! O que chama a atenção, entretanto, não é necessariamente a declaração divina, pois um leitor atento da Bíblia não se espanta quando ela trata Deus como Todo-Sábio e cuidador dos Seus. O que realmente me chamou a atenção é que após o verso 18 da declaração de Deus o que nós lemos não é a criação da mulher imediatamente, como seria de se esperar. Não, Deus não idealiza a mulher e a cria imediatamente. Há os versos 19 e 20 entre a declaração e o verso 21, onde Deus de fato dá início ao processo de criação da mulher. E o que há nos versos intermediários, 19 e 20? Deus dá ao homem uma tarefa para cumprir. Exemplares de todos os seres criados são trazidos ao homem para que este os nomeie. O verso 20 diz que o homem, sob as ordens de seu Criador, nomeou os animais e, ao findar sua missão, o homem aprende algo sobre si mesmo. Ele percebe sua própria necessidade de um par. Se é atribuído aos filósofos gregos antigos o dito "conhece-te a ti mesmo", parece-me que Deus o ensinou ao homem desde sua criação.

Como Deus é inteligente! Ele poderia, perfeitamente, nomear Ele mesmo os animais, mas decidiu comissionar Adão para fazê-lo, não porque Sua preocupação era o nome dos animais em si, tarefa já surpreendente e importante, mas levar Adão a conhecer-se mais um pouco e perceber-se necessitado de uma parceira idônea. Só quando o homem se dá conta de que falta-lhe algo é que Deus então cria a mulher. A forma como Deus conduz Adão ao conhecimento é fantástica! Sua pedagogia (andragogia, neste caso) é perfeita!

A lição que vemos aqui é a seguinte: Deus faz com que nos conheçamos melhor e mais profundamente quando estamos cumprindo a missão que Ele nos outorgou. É no cumprimento da missão que Deus nos delega que descobrimos mais Dele e de nós mesmos. Portanto, seja dedicado na obra do Senhor. Não te faças negligente para com o dom que há em ti (ITm 4.14). Sigamos o conselho do apóstolo Paulo, que diz: "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão." (ICo 15.58). Nunca é vão trabalhar para Deus com empenho, pois, no mínimo, nos conheceremos melhor.
Deus o abençoe.
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* A pintura que ilustra esta postagem é a obra "Adão Nomeia os Animais", do pintor dinamarquês Hans Scherfig (1905-1979).

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Tudo tem seu tempo determinado

A. W. Tozer escreveu certa vez que "Deus não se curvou à nossa pressa nervosa, nem adotou os métodos de nossa era mecânica. O homem que deseja conhecer a Deus precisa dedicar-lhe tempo". Ele tinha toda razão.

Vivemos num tempo apressado. A maioria de nós está, quase sempre, cansado demais para dedicar tempo a Deus. O tempo em si não mudou. O dia continua tendo 24 horas como tinha na época de Tozer, dos reformadores, dos grandes avivalistas e dos heróis bíblicos. Não, não foi o tempo que mudou. Foi nossa agenda. Somos pressionados pela cultura pós-moderna a abarrotar nossa agenda de compromissos. Expressões como "urgente", "sem falta", "pra ontem", são tão comuns que acabam sendo usadas quase sem critério algum. A "geração miojo" quer tudo pronto em 3 minutos. Resultados rápidos são o objetivo da vida da maioria das pessoas: querem crescer rápido, querem namorar rápido, querem tornar-se profissionalmente bem-sucedidos rápido, querem lucro rápido, querem as bênção de Deus rápido,  Tudo fast, fast, fast.

Em contraste, a Bíblia diz que a pressa excessiva leva à pobreza (Pv 21.5). Jesus ensinou que basta a cada dia o seu próprio mal (Mt 6.3). Salomão escreveu que "tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu" (Ec 3.1). O salmista ensinou que, se Deus não é prioridade, toda pressa é vã: "Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem" (Sl 127.1-2).

Cuide bem de sua agenda. Não se renda ao espírito da geração do "já sei" e do "pra ontem". Principalmente quando se trata da relação com Deus. Dedique-lhe tempo. Leia a Bíblia, e com atenção e cuidado. Não faça isso com pressa. Deguste a oração, a meditação bíblica, a comunhão com os irmãos, a presença de quem ama. Não atropele as coisas e Deus o honrará.

Comunhão com Deus

Quando pensamos em Deus muitas coisas podem passar pela nossa cabeça. Entretanto, no final, a única pergunta que importa é a seguinte: nós O conhecemos? Temos comunhão com Ele?

É claro que nunca O conheceremos ao ponto de esgotarmos tudo o que se pode conhecer sobre Deus, pois Ele é infinito em Sua perfeição majestosa. Mas podemos conhecer o que Ele revela de Si mesmo pela criação, pela Bíblia e pelo Espírito Santo que habita todo aquele que crê em Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal.

Hoje, meditando sobre o primeiro capítulo da Bíblia, algo me chamou a atenção. Este capítulo mostra Deus como Criador, Aquele que traz à existência a partir do nada. Toda vez que Deus cria algo usa de três palavras imperativas. Nos versos 3, 6 e 14 Ele usa "haja" luz, firmamento e luzeiros (sol e lua). Nos versos 11 e 24 Ele ordena à terra que "produza" a flora e a fauna terrestres. Ainda no verso 20 Ele usa "povoem-se" para criar a vida marinha. De fato, podemos perceber que Deus tem poder para criar com Sua Palavra. Nada mais é necessário; Sua ordem basta.

Mas, quando Deus cria o ser humano Ele não usa nenhuma das três palavras. Ele não diz: "haja homem", ou "produza a terra homem" e nem "povoe-se a terra de homens". A Bíblia diz que Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança". Pense comigo, Ele não delegou à terra a tarefa de produzir o homem, apesar de tê-lo criado do pó da terra (verso 2.7). Ele mesmo o criou, o formou. Façamos está em contraste com produza e haja, e carrega em seu bojo o embrião da comunhão.

Além disso, ainda temos o fato de que Gn 2.7 diz que Deus soprou nas narinas do homem o fôlego de vida, e o homem passou a "ser alma vivente". Deus não fez isso com nenhum outro ser. Somente o homem carrega em si esse "fôlego" que vem de Deus. Derek Kidner diz que "soprou" é calorosamente pessoal, "com a intimidade do contato face a face de um beijo, e com o significado de que este era um ato de dar, bem como de formar, e de dar-se a si mesmo inclusive"[1]. Nenhum outro ser desfruta deste privilégio. Somente o homem é a imagem e semelhança de Deus. Somos os portadores da centelha divina, pois Ele nos deu de Si. Aliás, Deus ensina que "melhor coisa é dar do que receber" (At 20.35).

Devemos lembrar também que não foi só o sopro de vida que recebemos de Deus. Ele deu algo ainda mais precioso, Ele deu Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).

Comunhão com Deus é possível porque temos algo Dele em nós, e aquele que já recebeu o Filho Unigênito, Jesus, pela fé, goza de comunhão direta com o Deus. Devemos desenvolve-la, aproveita-la.

Deus abençoe.
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[1] KIDNER, Derek. Série Cultura Bíblica: Gênesis, Introdução e Comentário. São Paulo, Edições Vida Nova, 1979, p. 57