"Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe" (Gn 2.18-22).
O texto acima, à primeira vista, não parece ensinar nada sobre a obra do Senhor. De fato, não era esse o assunto de Moisés quando redigiu esse trecho da Escritura. Todavia, o trecho tem, sim, uma lição preciosa sobre o trabalho na obra de Deus na terra.
O verso 18, que inicia o trecho, registra a declaração de Deus de que não é bom que o homem esteja só. Deus, em Sua infinita sabedoria e onisciência, já conhecia os resultados da solidão e tratou logo de preveni-los na vida da sua criatura mais sublime, o homem, Ele idealiza a mulher! O que chama a atenção, entretanto, não é necessariamente a declaração divina, pois um leitor atento da Bíblia não se espanta quando ela trata Deus como Todo-Sábio e cuidador dos Seus. O que realmente me chamou a atenção é que após o verso 18 da declaração de Deus o que nós lemos não é a criação da mulher imediatamente, como seria de se esperar. Não, Deus não idealiza a mulher e a cria imediatamente. Há os versos 19 e 20 entre a declaração e o verso 21, onde Deus de fato dá início ao processo de criação da mulher. E o que há nos versos intermediários, 19 e 20? Deus dá ao homem uma tarefa para cumprir. Exemplares de todos os seres criados são trazidos ao homem para que este os nomeie. O verso 20 diz que o homem, sob as ordens de seu Criador, nomeou os animais e, ao findar sua missão, o homem aprende algo sobre si mesmo. Ele percebe sua própria necessidade de um par. Se é atribuído aos filósofos gregos antigos o dito "conhece-te a ti mesmo", parece-me que Deus o ensinou ao homem desde sua criação.
Como Deus é inteligente! Ele poderia, perfeitamente, nomear Ele mesmo os animais, mas decidiu comissionar Adão para fazê-lo, não porque Sua preocupação era o nome dos animais em si, tarefa já surpreendente e importante, mas levar Adão a conhecer-se mais um pouco e perceber-se necessitado de uma parceira idônea. Só quando o homem se dá conta de que falta-lhe algo é que Deus então cria a mulher. A forma como Deus conduz Adão ao conhecimento é fantástica! Sua pedagogia (andragogia, neste caso) é perfeita!
A lição que vemos aqui é a seguinte: Deus faz com que nos conheçamos melhor e mais profundamente quando estamos cumprindo a missão que Ele nos outorgou. É no cumprimento da missão que Deus nos delega que descobrimos mais Dele e de nós mesmos. Portanto, seja dedicado na obra do Senhor. Não te faças negligente para com o dom que há em ti (ITm 4.14). Sigamos o conselho do apóstolo Paulo, que diz: "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão." (ICo 15.58). Nunca é vão trabalhar para Deus com empenho, pois, no mínimo, nos conheceremos melhor.
Deus o abençoe.
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* A pintura que ilustra esta postagem é a obra "Adão Nomeia os Animais", do pintor dinamarquês Hans Scherfig (1905-1979).
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