O Salmo 90 é um cotejo entre a eternidade de Deus e a fragilidade do homem. O primeiro verso já deixa muito clara a distância abismal que há entre o Criador e a criatura, dizendo: "Senhor, tu tens sido nosso refúgio, de geração em geração", ou seja, as gerações humanas passam, mas o Senhor permanece durante todas elas. Deus é de eternidade a eternidade, ou como João diria, Ele é "o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim" (Ap 22.13). Para Ele, mil anos são como um dia (vs. 4). Em contrapartida, o homem é como uma planta que floresce pela manhã, mas à tarde já murcha e seca (vs. 5-6). Sua vida é nada comparada à eternidade de Deus (vs. 10).
Um resumo da vida de Moisés
Quem escreveu o salmo 90 foi Moisés, o grande legislador de Israel que, apesar de filho de hebreus, foi criado na corte do Egito como príncipe e neto adotivo do poderoso faraó, governante supremo da nação mais poderosa do mundo naquela época. Foi educado em toda a ciência do Egito e era poderoso em palavras e obras (At 7.22). Mas Moisés foge para o deserto após matar um egípcio em defesa de um escravo hebreu, seu compatrício, pois faraó procurava matá-lo (Ex 2.15). Contava com 40 anos na ocasião (At 7.23). No deserto de Midiã casa-se com Zípora, filha de Jetro, sacerdote da região. Após 40 anos no deserto apascentando o rebanho da família, Deus lhe ordena que volte ao Egito para libertar o povo hebreu da opressão egípcia (At 7.30). Moisés volta ao Egito com 80 anos de idade. Conhecemos a história: ele é usado por Deus para desencadear as famosas 10 pragas, que culminam na morte dos primogênitos egípcios, sai com o povo hebreu do Egito, é cercado às margens do Mar Vermelho, que Deus abre e livra Seu povo. No deserto Moisés passa mais 40 anos liderando o povo hebreu (At 7.36), ao final dos quais morre aos 120 anos, deixando Josué como líder sucessor do povo.
Moisés foi um milagre vivo, pois foi poupado ao nascer do decreto de faraó em vigor que mandava matar todo hebreu nascido menino (Ex 1.16). Na direção do povo hebreu testemunhou mais milagres e manifestações do poder de Deus do que a maioria dos homens que já viveram. Viu a sarça que queimava sem se consumir (Ex 3.2); viu as pragas sobre o Egito (Ex 7.14 - 11.7); viu o Mar Vermelho se abrir (Ex 14.15ss); viu o maná cair do céu para alimentar o povo faminto (Ex 16); viu água sair da Rocha (Ex 17.6); viu a nuvem que acompanhava o povo durante o dia para protege-lo do sol do deserto, e a coluna de fogo durante à noite para protege-los do frio e iluminar (Ex 13.21); viu as roupas e sandálias crescerem com o corpo das crianças, sem se gastarem (Dt 29.5); viu a serpente de bronze que o picado por cobra era curado ao olha-la (Nm 21.9); viu o dedo de Deus escrever os dez mandamentos na pedra (Ex 31.18); viu Deus livra-lo de vários povos inimigos no deserto; e acima de tudo, falou com Deus como amigo, face a face, e ainda pôde ver a glória de Deus manifestada visivelmente (Ex 33.11, 17-23).
Lições de um humilde sábio
Só as experiências de Moisés impressionam qualquer pessoa. Viveu um terço da vida como príncipe rodeado de riquezas, outro terço como simples pastor de ovelhas no deserto, outro terço como líder do povo de Deus. Experimentou de tudo. Viu de tudo. Fez de tudo. Viu os maiores milagres....
Mas, pensemos. Moisés escreve o salmo 90 durante a caminhada com o povo hebreu no deserto. Portanto, tinha entre 80 e 120 anos de idade quando o escreveu. Se ficarmos na média, podemos supor que tinha 100 anos...
Imagine só, um homem de 100 anos, muito bem vividos, com toda a experiência de Moisés, escrever o salmo 90 e fazer o pedido mais surpreendente no verso 12: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio". Você percebe que quem está pedindo um coração sábio é Moisés, com cerca de 100 anos de idade? Com toda aquela experiência? Isso é a humildade em sua maior maturidade! O próprio pedido de Moisés revela que ele já tinha um coração sábio o suficiente para perceber o valor da sabedoria (cf. Nm 12.3[1])!
Quantas vezes nos achamos sábios e entendidos demais para ouvir uma instrução ou sermos repreendidos quando erramos? Como é corriqueira a arrogância, a petulância e presunção... Como é cada vez mais difícil encontrar pessoas ensináveis, que valorizam a correção e a instrução (Pv 3.11-12, 4.13 13.18), que buscam ardentemente um coração sábio.
Precisamos aprender com Moisés e perceber nossa fragilidade, brevidade e carência. Precisamos aprender a buscar um coração mais humilde! O Único que pode nos ajudar a obtê-lo é o Senhor, que não tem somente 120 anos de experiência como Moisés, mas é Deus de eternidade à eternidade, de geração em geração, Todo-Sábio.
Que Deus nos perdoe os pecados, e nos ajude na busca por um coração sábio.
Deus abençoe.
___________________
[1] Segundo o pastor e teólogo Dr. Luiz Sayão, neste texto de Nm 12.3 a palavra hebraica seria melhor traduzida por "humilde", do que por "manso". Algumas traduções brasileiras da Bíblia que usam a palavra "humilde" são: NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje); SBB (Sociedade Bíblica Britânica) e a Tradução Brasileira.
___________________
[1] Segundo o pastor e teólogo Dr. Luiz Sayão, neste texto de Nm 12.3 a palavra hebraica seria melhor traduzida por "humilde", do que por "manso". Algumas traduções brasileiras da Bíblia que usam a palavra "humilde" são: NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje); SBB (Sociedade Bíblica Britânica) e a Tradução Brasileira.
Nenhum comentário :
Postar um comentário