Livros de Teologia


sábado, 22 de outubro de 2022

Unidade da Igreja

A oração sacerdotal de Jesus é magnífica e suprema. É a oração mais longa feita pelo próprio Jesus que temos registrada. Nessa oração Jesus agradece por ter concluído Sua obra e pela salvação e segurança dos Seus, pede que o Pai guarde e santifique seus discípulos e que os mantenha unidos e preparados para o céu.

Mas uma pergunta fundamental deve ser feita: Por que Jesus fez tal oração? O que o levou a rogar ao Pai por estas coisas?

    Creio que a resposta a essa pergunta está no versículo imediatamente anterior ao registro da oração. O capítulo 16 termina com o seguinte verso: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33). Então o capítulo da oração sacerdotal de Jesus começa com a seguinte expressão do narrador do Evangelho, João: “Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti” (Jo 17.1). Veja que Jesus começou a orar logo após dizer as palavras do capítulo anterior, onde revelou que a Igreja passaria por muitas aflições. Essa foi a razão principal pela qual Jesus fez a Sua majestosa oração sacerdotal, o fato de que sem a unidade a Igreja não poderá vencer as aflições desse mundo tenebroso!

    A oração pode ser dividida em três partes: Jesus ora por si mesmo (1-5); Jesus ora pela Sua Igreja local que pastoreou (6-19, com aplicações a nós) e Jesus ora pela Igreja em geral (20-26).

    Notamos que, dentre os assuntos de que trata a oração, a unidade da Igreja é recorrente, mostrando a ênfase que Jesus deu ao assunto. Falaremos hoje dessa unidade tão necessária!

    Para falarmos da unidade da Igreja é preciso, antes de tudo, deixar claro que essa unidade pela qual Jesus ora e que a Igreja realmente precisa não é qualquer tipo de unidade, mas a unidade na verdade revelada do Seu Evangelho. Charles Spurgeon escreveu: “Estou certo de que a melhor maneira de promover a união é promover a verdade”. John Trapp, por sua vez: “Unidade sem verdade não é melhor do que conspiração”. E William Temple: “O caminho para a unidade da cristandade não passa pelas salas de comissões... Está na unidade pessoal com o Senhor, de maneira tão profunda e real que possa ser comparada à sua unidade com o Pai”.

    Nos vs. 21-23 lemos sobre o anseio de Jesus pela unidade da Igreja. Portanto, quando ferimos a unidade da Igreja provocamos desagrado no coração de Jesus! E, como já dissemos, essa unidade que agrada ao Senhor não é um tipo de ecumenismo ou ajuntamento que despreze a verdade do Evangelho. O grande pregador e escritor inglês Martyn Lloyd-Jones disse certa feita: “O fato de colocar todos os cadáveres eclesiásticos em um só cemitério não provoca uma ressurreição”. Essa unidade que agrada a Deus deve estar calcada na verdade!

    Ora, se somos participantes da natureza divina (IIPe 1.4; IJo 4.7), então temos de ser um como a Trindade é um. Embora sejamos muitos membros, somos um só corpo em Cristo (ICo 12.12, 20). Como membros de um só corpo somos (sobre)naturalmente inclinados a zelar pela unidade, pois não queremos que partes do nosso corpo, da nossa família, sejam feridos, a menos que não sejamos de fato membros do corpo. O Puritano Thomas Brooks inteligentemente escreveu: “Não causa espanto lobos importunarem as ovelhas, mas ovelha afligir outra ovelha é contrário à natureza e é abominável”.

    Eu penso o seguinte. É ilógico que alguém chame Deus de Pai e se recuse a admitir seus demais filhos como irmãos. Devemos nos lembrar que o irmão mais velho do filho pródigo ficou de fora do banquete do Pai justamente por causa desse sentimento. Se não queremos os filhos do Pai como irmãos, será que Ele deve nos querer como filhos?

    Nossa unidade tem uma missão definida no mundo: evidenciar um Deus que é amor (21, 23). Parece que boa parte de como o mundo reconhece a Igreja verdadeira está baseado na unidade dela (Jo 13.35). A expressão do amor é a apologética definitiva.

    A natureza corporativa da Igreja garante o contágio do corpo todo pelo que cada membro faz, seja para o bem ou para o mal. O que um sofre afeta o outro (ICo 12.26). O abençoado teólogo John Stott escreveu: “No essencial, unidade; no não essencial, flexibilidade; em todas as coisas, o amor”.

    No céu, onde estaremos para sempre com o Senhor (24), seremos aperfeiçoados completamente na unidade. Como, então, não teríamos comunhão com o irmão que morará conosco pela eternidade??? O pastor Hernandes Dias Lopes disse num de seus sermões: “Não faz sentido querer ir para o céu se não amamos as coisas do céu”. E nós, os salvos por Jesus Cristo, somos algo do céu!

    E precisamos ainda dizer algo sobre a unidade. Se você julga difícil exercer comunhão e ser um com algum irmão por falta de maturidade ou santidade da parte dele, siga o exemplo de Jesus no vs. 19, seja santo por ele!

    Vamos zelar pela nossa unidade! Hoje é um excelente dia para a prática do perdão, da reconciliação, para glorificar e honrar a Cristo pela nossa unidade!

    Deus os abençoe!

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