Livros de Teologia


quinta-feira, 8 de setembro de 2022

De Corpo e Alma!

"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.1-2)

    Nesses dois pequenos versos o apóstolo Paulo resume bem a integridade da vida cristã. Esses versos são um "rogo", uma petição insistente e firme para que os crentes atentem para o que envolve ser um discípulo de Jesus Cristo, um cristão.

    Quais são as implicações de ser discípulo de Jesus, integralmente, segundo esse texto? Podemos elencar aqui pelo menos quatro implicações.

    1) Envolve a oferta do nosso corpo a Deus em santidade

    O apóstolo roga que os cristãos apresentem seus corpos físicos como um "sacrifício vivo" a Deus. Obviamente, se esse sacrifício deve ser vivo, não é para ser sacrificado num sentido literal, isto é, imolado, abatido fisicamente. O sacrifício vivo do corpo é a mortificação do pecado que se pratica através do corpo, como o próprio apóstolo explica em outra passagem: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça" (Rm 6.12-13). E ainda: "Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência" (Cl 3.5-6).

    Portanto, um cristão jamais poderia pensar como se ouve muito atualmente, que somos donos do nosso próprio corpo e podemos fazer dele e com ele o que bem quisermos. Não! Um cristão verdadeiro deve entender que seu corpo físico é um objeto de adoração a Deus, antes mesmo de ser um receptáculo para nossa alma. Pertencemos ao Senhor, nos entregamos e nos rendemos a Ele quando nos convertemos mediante a fé no Seu Evangelho, inclusive com nossos corpos mortais.

    2) Envolve a oferta da mente a Deus em santidade

    Paulo roga que nos transformemos pela "renovação da nossa mente". Não apenas nossos corpos, mas nossa mente (mentalidade) deve ser oferecida a Deus como instrumento de adoração. A conversão genuína deve envolver também nossa mentalidade, nosso intelecto, nossas faculdades mentais em geral. Essa renovação acontece na medida em que a verdade revelada de Deus na Escritura chega ao nosso conhecimento (intelecto), é compreendida (raciocínio e assentimento intelectual) e assimilada nos valores, ética, moral, espiritualidade e afeições (renovação do ser).

    A santificação que não envolve a mentalidade e o intelecto sofre um reducionismo, na melhor das hipóteses.

    3) Envolve, por consequencia, uma inconformação com este século

    Paulo insiste que os cristãos não se conformem com este século, isto é, com o modus vivendi desse mundo regido por valores corrompidos pelo pecado. Em outras palavras, a cosmovisão do cristão é (sobre)naturalmente distinta daquela dos não-cristãos.

    Essa inconformação produz uma distinção necessária para que o verdadeiro discípulo de Jesus seja reconhecido tanto por outros cristãos quanto pelos não-cristãos. Ela não é apenas uma indignação contra alguns fatos e atos ocorridos no mundo, mas um desconforto e rejeição do próprio modo de pensar e agir em geral do mundo. A leitura que um cristão faz da realidade à sua volta é feita sobre os valores da revelação da verdade divina na Escritura, enquanto a que o não-cristão faz é fundamentada naquilo que ele crê ser real ou no que gostaria que fosse real. Para cristãos, entretanto, a Escritura é a única realidade infalível e segura para fundamentar sua cosmovisão.

    4) Envolve, por consequencia, desejar agradar a Deus antes de qualquer outro, até nós mesmos

    Como disse Jesus, verdadeiros discípulos Dele são reconhecidos, antes de tudo, pelo amor que têm pelo Seu Deus e Senhor: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama..." (Jo 14.21a). Ele ensinou que o maior dos mandamentos é justamente amá-Lo: "Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força" (Mc 12.29-30).

    Autores do Novo Testamento ensinaram que cristãos vivem para o inteiro agrado do Senhor (Cl 1.10; ITs 4.1; Hb 11.6; cf. Ef 6.6).

   Que Deus nos ajude a sermos cristãos íntegros, de corpo e alma!

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