Livros de Teologia


terça-feira, 19 de julho de 2016

Os três amores

"Chegando um dos escribas, tendo ouvido a discussão entre eles, vendo como Jesus lhes houvera respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Disse-lhe o escriba: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele, e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios. Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém mais ousava interrogá-lo" (Mc 12.28-34).

Quando Jesus responde a pergunta do escriba sobre o maior dos mandamentos, a resposta vem composta de dois versos do Antigo Testamento. Jesus condensa Dt 6.5 e Lv 19.18, que dizem, respectivamente: "Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força" e "Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor". Aliás, Jesus gostava de responder usando as Escrituras, era um hábito dele, que devemos imitar. O Mestre, para responder a indagação do seu interlocutor, também faz um resumo perfeito do decálogo (os Dez Mandamentos), que estão registrados em Ex 20.1-17, pois os quatro primeiros mandamentos dizem respeito ao relacionamento com Deus, em amá-Lo, enquanto os outros seis mandamentos dizem respeito ao relacionamento entre os homens, em amar ao próximo.
Aqui, porém, quero focar somente a segunda parte da resposta de Jesus, em que Ele diz ao escriba que devemos amar ao próximo como a nós mesmos.

O Amor Universal
Como vimos, esse mandamento já estava registrado na Lei de Moisés, há uns 1500 anos antes de Jesus nascer em Belém. Não era uma novidade quando Jesus lembrou que amar ao próximo é um mandamento divino; ninguém foi pego de surpresa, todos já sabiam desse dever. Todavia, creio que esse mandamento, de amar ao próximo como a nós mesmos, não é um mandamento restrito aos cristãos ou aos judeus. É um mandamento para toda a humanidade; é a base de relacionamentos saudáveis e duradouros. Os seres humanos foram criados como seres relacionais, carentes de contato com semelhantes e inclinados à vida em sociedade, em comunidade. Mas se o outro não está incluído nos meus cuidados, então como uma sociedade poderá subsistir? O próprio Jesus ensinou que um reino dividido não subsiste (Mt 12.25-26). Neste mandamento, de amar ao próximo como nos amamos, o paradigma, o padrão, o aferidor da medida do amor devido é o amor próprio, o amor que temos por nós mesmos. Devemos amar o outro na medida do amor que temos por nós mesmos. O meu amor por mim é a medida devida ao outro. Isso é difícil, você não acha? Amar alguém como a mim mesmo? Se for minha mãe, meu pai, até minha esposa, até vá lá. Mas amar um estranho, ah, não sei não. É difícil. Mas, é mandamento e é assim que deve ser. Se aprendermos a amar desse modo, boa coisa fazemos, e devemos nos esforçar nessa tarefa. Entretanto, ninguém precisa crer em Deus, na Bíblia, ou ser um seguidor de Jesus para amar a si mesmo. Aliás, amar a si mesmo é tão fácil que muitos exageram nisso, chegando às raias do narcisismo e da soberba. Esse mandamento abrange toda a raça humana.

O Amor Cristão
Mas, e os cristãos? Será que há algum mandamento diferenciado quanto ao amor dos cristãos? Sim, há. Se pensamos que amar ao próximo como a nós mesmos é o maior desafio do amor cristão, então precisamos examinar com mais atenção as Escrituras. Se o mandamento universal do amor já nos desafia, veja então o que Cristo pede daqueles que se tornam Seus discípulos. No texto de Jo 13.34 Ele diz: "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros". Ele repete isso em Jo 15.12. Perceba que Jesus diz que esse é um novo mandamento. Como assim, novo? Novo porque não havia esse mandamento na Lei da Antiga Aliança. Jesus está elevando o nível do amor devido pelos cristãos aos outros. Veja que o padrão de medida do amor do cristão não é o mesmo do mandamento universal. Lá o padrão é o amor próprio, o quanto nos amamos. Mas no novo mandamento não é o quanto eu me amo, mas é o amor que Cristo tem por mim. Ele diz "assim como eu vos amei". Meu Deus! Jesus trocou o padrão de medida! Ele manda que amemos não como nos amamos, mas como Ele nos ama!!! E como Jesus nos ama??? A Bíblia diz que nos amou até ao fim (Jo 13.1). Diz também que Ele nos amou primeiro (IJo 4.19). Diz que o amor Dele por nós é grande (Ef 2.4) e que nos amou a ponto de se entregar por nós (Ef 5.2). Então, como deve um cristão amar? Deve amar primeiro, ou seja, não amar só em retribuição ao amor do outro, mas dar a iniciativa no amor. O cristão deve amar mesmo quando não é amado. Deve o cristão também amar até ao fim, isto é, o amor cristão não pode esmorecer, se esfriar, mas ser persistente e resistente. Deve também ser grande, abundante, abnegado. E, se preciso for, o cristão deve dar a vida pelos seus irmãos: "Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos" (IJo 3.16).
Viu como o amor cristão é um mandamento muito mais profundo do que o amor que o não cristão está obrigado a apresentar? O cristão deve amar como Cristo ama. Que desafio! É demais para nós, e só podemos obedecer esse mandamento do Senhor pelo poder do Espírito Santo que habita no cristão. Paulo ensinou: "Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Rm 5.5). Só pelo amor de Deus em nossos corações será possível amar como Cristo ama. É por isso que só cristãos verdadeiros podem amar dessa forma, pois o Espírito só habita aqueles que amam a Jesus e O receberam pela fé em seus corações (Jo 1.12; 14.23; ICo 3.16; Ef 1.13).

O Amor Pleno e Perfeito
Mas, há ainda um nível de amor tão perfeito, tão imensurável, que somente quando estivermos no céu, totalmente aperfeiçoados e livres do pecado, nos será possível vivenciar. Jesus disse na oração que fez ao Pai o seguinte: "Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja" (Jo 17.26). Você já imaginou qual o tamanho do amor que o Pai tem por Jesus? O amor que o Deus Pai tem pelo Deus Filho? Que amor há entre as pessoas da Trindade? É o mais perfeito amor. É o amor que perpassa toda a natureza de Deus (cf. IJo 4.8). É com esse tipo de amor que nos amaremos no céu, com o perfeito amor da natureza divina. Não estou dizendo, obviamente, que seremos "deuses"; jamais! Estou dizendo que amaremos com o perfeito amor de Deus.

Meus irmãos e irmãs. Amar é um desafio, sempre! Mas amar como manda as Escrituras é algo muito maior, mais sublime, mais desafiador. Esforcemo-nos para amar desse modo, cumprimento o mandamento do Senhor, e Ele, pelo Seu Espírito, nos ajudará na missão.

Deus abençoe.

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