Livros de Teologia


sexta-feira, 8 de julho de 2016

Quais são suas prioridades?

"Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada" (Lc 10.38-42).

Esta conhecida passagem do Evangelho de Lucas apresenta Jesus fazendo pouso na casa daquela família de discípulos Seus. Na ocasião, as duas irmãs que estavam presentes apresentaram comportamentos distintos diante da presença do Senhor, e suas ações podem muito nos ensinar preciosas lições, mais ainda o sábio ensino do Senhor Jesus dispensado àquela dupla.
Maria logo tratou de encontrar um lugarzinho aos pés do Mestre, como era costume dos discípulos judeus diante de seus mentores. Marta, por sua vez, tratava de cuidar das tarefas próprias de uma boa anfitriã, atarefando-se com os serviços necessários para proporcionar ao insigne hóspede, o que parece supor que era a irmã de mais idade, sentindo-se responsável pelo trato honroso que a tradição judaica mandava oferecer aos hóspedes.
Marta tem sido muitas vezes tomada como o estereótipo das pessoas que preocupam-se mais com as coisas da terra do que com as do céu, principalmente quando o comportamento elogiado de Maria é tomado para robustecer essa visão de Marta. Não acredito que isso seja correto. Acredito que Marta representa, sim, alguém que errou nas prioridades, mas não creio que tenha Marta sirva de rótulo para pessoas que tem motivações errôneas diante de Deus. Por que penso assim? Vejamos.

O costume judeu da hospedagem
Na cultura judaica, principalmente nos tempos bíblicos, hospedar alguém era uma oportunidade que trazia honra para a casa do anfitrião. O bom tratamento do hóspede não era um mero dever a ser cumprido, mas uma satisfação que agradava ao Senhor. O bom nome da família era levado com hóspede quando seguia seu caminho, quando bem tratado. Era comum, inclusive, que o anfitrião ordenasse aos servos da casa que lavassem os pés dos hóspedes, como sinal de honra e respeito. Quando não tinham servos, o próprio anfitrião cumpria a tarefa, e quando não podia fazê-lo, oferecia todo o necessário para que o hóspede mesmo o fizesse. Jesus usou esse costume ao lavar os pés dos apóstolos (Jo 13.4-5). Na casa de Simão, Jesus também criticou o fato do anfitrião não ter oferecido para lavar-lhe os pés (Lc 7.44). O costume da hospedagem honrosa era tão forte para os judeus que, em alguns casos registrados na Bíblia, anfitriões ofereceram membros da família a malfeitores, visando a preservação do hóspede (Gn 19.4-8; Jz 19.21-24).

Marta, a anfitriã zelosa
O verso 38 diz que a iniciativa de hospedar Jesus foi de Marta, talvez por ser a responsável pelo lar, como parece indicar o texto. Apesar de Jesus ter sido um hóspede da família, parece que era lícita a preocupação de Marta em prover conforto e bom serviço a Jesus, pois este era, antes de tudo, seu hóspede. O texto não diz que a família convidou Jesus, mas diz que Marta hospedou Jesus. Não deixa de ser natural que Marta, como uma judia piedosa, focasse nos afazeres da casa, visando o bom nome da família e a satisfação do hóspede -- lembre-se da força da tradição da hospedagem na mente de Marta -- enquanto Maria teria sentiu-se mais livre para desfrutar da companhia e sabedoria do Mestre.

O problema de Marta
O problema de Marta não foi sentir-se responsável pela hospedagem e bom nome da família, muito menos por estar cuidando das demandas da tarefa, pois Jesus não criticou Marta enquanto ensinava Maria, até que Marta resolveu questionar o Senhor. Aí, sim, o problema apareceu. Jesus a critica quando ela acusa Jesus de conivência com a indiferença de Maria.
No texto três revelações há que descrevem o estado de espírito de Marta: ela estava agitada (vs. 40), e na resposta de Jesus Ele a acusa de inquietação e preocupação em demasia. Não foi o cuidado de Marta com a hospedagem que Jesus criticou, mas seu comportamento um tanto desequilibrado que revelava um espírito inquieto e agitado, que não conseguia enxergar a prioridade que a Palavra de Deus deve ter sobre a cultura dos homens. A cultura ocupou, na alma de Marta, um lugar que antecedia o da Palavra de Jesus, e Ele quis corrigir isso ao alerta-la quanto às prioridades da vida.

Conclusão
Apesar da disciplina amorosa que Jesus aplicou em Marta, e das lições que tiramos disso até hoje, creio ser um erro, como já disse, rotulá-la como modelo que insensibilidade espiritual. Entretanto, a priorização de Maria pela Palavra de Jesus e o engado de Marta podem, obviamente, nos ajudar a orientar nossa própria escala de valores da alma.
E você? O que tem priorizado? A cultura e costumes deste mundo ou a Palavra de Deus?

Deus abençoe.

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