Livros de Teologia


quinta-feira, 7 de julho de 2016

Sinceridade é suficiente?

"Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos. Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento. Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê" (Rm 10.1-4).

Quando o Evangelho de Jesus Cristo é pregado na sua inteireza e com clareza suficiente sempre provoca reações fortes, principalmente naqueles que possuem um coração inclinado para os assuntos espirituais.
A verdade do Evangelho corta como uma espada; veja o que diz o autor da carta aos Hebreus: "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hb 4.12). Creio nisso com todo o meu coração, pois tenho testemunhado esse cortar. O detalhe é que, quando a espada de Deus, Sua Palavra, 'penetra' o coração do homem dividindo e discernindo, ela abre uma ferida profunda e fatal, cuja hemorragia só poderá ser estancada pelo próprio Autor da ferida, Deus! Esse coração dilacerado pela verdade só pode ser curado pelo render-se à própria verdade. É a verdade que divide e discerne, e é a verdade que liberta (Jo 8.32). O profeta Oséias antecipara esse fenômeno: "Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará" (Os 6.1). Jó, o justo e reto servo de Deus, aprendeu na dureza da sua provação a dor dessa ferida, pois seu amigo Elifaz lhe ensinou dizendo: "Bem-aventurado é o homem a quem Deus disciplina; não desprezes, pois, a disciplina do Todo-Poderoso. Porque ele faz a ferida e ele mesmo a ata; ele fere, e as suas mãos curam" (Jó 5.17-18).
Onde quero chegar falando isso? Quero falar que o Evangelho provoca cortes profundos que ferem enquanto confronta o homem com a verdade. Descobrir pelo Evangelho que o modo como críamos está errado causa conflitos, e isso é de se esperar. Ora, alguém que vive crendo em algo, de certo modo, descobre pela exposição fiel do Evangelho que esteve enganado por tanto tempo; imagine só, que dor isso causa? Por isso as reações são tão intensas!
Vivemos numa cultura onde as pessoas assumem entendimentos sobre as realidades espirituais sem nenhuma fundamentação bíblica, apenas baseados no "eu aprendi assim" ou no "eu acho que é assim". O achismo e a própria intuição são as únicas fontes que a maioria das pessoas usam para formar todo o entendimento que possuem da espiritualidade humana. Quando essa pessoa é apresentada à substância do Evangelho, sem misturas, na pureza da verdade de Deus, o confronto do seu entendimento espiritual com o Evangelho é como usar uma bomba nuclear para destruir um castelo de cartas. E não deveríamos esperar que as primeiras reações a esse conflito na alma e na mente viessem acompanhados de sorrisos, mas de lágrimas. Claro que se alguém não tem nenhum entendimento e simplesmente não ligava para as coisas espirituais, esse conflito é menos intenso. Mas a maioria esmagadora das pessoas vivem sob alguma crença, mesmo que não a classifiquem como religião.
Paulo, falando dos judeus de sua época, diz que era povo "que tem zelo por Deus, porém não com entendimento" (Rm 10.2). Como assim, zelo sem entendimento? Ora, como muitas pessoas religiosas vivem hoje, sendo zelosas em seus ritos e crenças, fundamentadas num entendimento errado das verdades espirituais. Há pessoas que demonstram muito zelo, uma sinceridade admirável na prática religiosa. Chegam a fazer coisas que exigem muita abnegação e devoção, envolvendo em muitos casos até o desgaste físico extremo. Mas, quando confrontadas com a verdade da Palavra de Deus, descobrem que estavam sinceramente enganadas. Veja, sinceramente enganadas! Descobrir que estavam enganadas quanto à verdade e a vontade de Deus não significa que não eram sinceros, mas que desconheciam a Palavra de Deus e isso os fez conduzir mal toda a sinceridade. Infelizmente, a sinceridade separada da verdade não muda a verdade. A verdade continua sendo diferente do entendimento que conduzia todo aquele zelo. Como Paulo ensinou, quando os homens desconhecem a justiça de Deus procuram estabelecer a sua própria, e não estão sujeitos à justiça de Deus (Rm 10.3). Paulo sabia muito bem do que estava falando, pois ele era judeu, e no zelo da religião, perseguiu a Igreja de Jesus chegando a ponto de consentir no assassinato de Estêvão, tudo porque não tinha o entendimento da verdade. Leia o que ele diz de si mesmo: "Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo" (Fp 3.4-7). Ele chama esse tempo de zelo sem entendimento de tempo de ignorância e incredulidade (ITm 1.12-13). Mas, quando a verdade passa a conduzir toda a devoção humana, então Deus aceita a adoração dos homens.
Concluindo, podemos ver que zelo sem entendimento, devoção sem a condução da verdade não podem agradar a Deus, e estão, ainda que com toda a sinceridade, na ignorância e incredulidade aqueles que vivem fora da verdade de Deus.
E você? Já foi ferido pela Palavra de Deus? Já foi confrontado pela Bíblia de tal maneira que conflitos profundos foram travados, sendo vencidos pela fé na verdade de Deus, gerando fé e obediência à vontade de Deus? Você tem agregado a cada dia mais entendimento ao seu zelo pelas coisas de Deus? Tem crescido no conhecimento da verdade? Se não, eis o tempo, eis a hora! Entregue-se a Jesus e renda-se à Sua verdade!

Deus abençoe.

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