Livros de Teologia


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Fé sempre firme!

"Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram. Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o noivo e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Depois disto, desceu ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias" (Jo 2.1-12).

Este episódio da vida de Jesus, participando de uma festa de casamento, contém um dos fatos mais conhecidos sobre o Senhor: ele transformou água em vinho. Este primeiro milagre de Jesus serviu até para a cunhagem do dito popular "foi da água para o vinho", que se diz querendo significar que algo mudou radicalmente para melhor. É também muito lembrado quando o superestimado e polemizado assunto do "vinho" e do "pode ou não pode" um cristão beber bebida alcoólica é trazido à baila. Mas é um reducionismo grosseiro e, perdoem-me, até malicioso, olhar para este texto e crer que o vinho é personagem protagonista, fazendo do Mestre coadjuvante. O vinho é um mero detalhe no texto, como percebe qualquer que correr os olhos com mais cautela e honestidade sobre estas letras.
Aqui, quero me ater a dois versos que me chamaram muito a atenção. A partir deles, compartilhar algo que me saltou aos olhos e que, creio, mostrar-se-á de grande valia para os leitores.
A pequena vila de Caná era vizinha da cidade de Nazaré, onde residia Jesus, sua mãe Maria e seus irmãos, que foram convidados a participarem de um casório ocorrido ali. No verso 2 lemos que Jesus foi convidado e, junto com Ele, Seus discípulos. Interessa-nos, aqui, lembrar que Jesus estava iniciando Seu ministério público, e o grupo de discípulos resumia-se aos irmãos André e Simão Pedro, somados a Filipe e Natanael. Ao que nos parece, nem o grupo apostólico estava completo como o conhecemos, composto dos 12. De qualquer maneira, é claro que Jesus já contava com alguns discípulos na data daquela celebração. Também vale lembrar que Jesus ainda não havia operado nenhum milagre, no sentido de sinais, sendo a transformação da água em vinho o primeiro deles.
Contudo, o verso 11 registra as seguintes palavras: "Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele" (grifo meu). Veja que coisa interessante! Jesus tinha um grupo de seguidores que João, autor deste Evangelho, chamou de "discípulos", palavra usada nos Evangelhos sempre para referir-se aos que decidiram seguir Jesus. Porém, após o milagre operado, João diz que os discípulos creram nele. Como assim? Já não criam Nele? Já não eram discípulos antes do milagre?
João não pretende afirmar que aqueles homens não criam que Jesus era o Messias prometido até aquele momento. Ele os reconhece como discípulos de Jesus mesmo antes de irem a Caná para o casamento. Compreenderemos melhor o que João intenciona ao afirmar que aqueles discípulos creram Nele se observarmos a sentença anterior, em que se lê: "manifestou a sua glória". O próprio João já havia dito no prólogo do seu Evangelho: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" (Jo 1.14). Para João parece haver algo que relacione a glória de Cristo com a fé dos discípulos. Parece-nos que aquele grupo inicial de discípulos de Jesus criam Nele o suficiente para segui-Lo, baseados nos testemunhos de João Batista e nos encontros anteriores que tiveram com o Senhor. Todavia, o texto que estudamos aqui parece indicar que uma experiência pessoal com a glória de Jesus robustece, aprofunda e amadurece a fé. O apóstolo Paulo escreveria, mais tarde, que "a fé vem pela pregação, e a pregação, pela Palavra de Cristo" (Rm 10.17). Essa fé já se encontrava no coração daqueles discípulos pioneiros do cristianismo, pois creram na pregação, tanto de João, o Batista, quanto do próprio Jesus. Mas, ainda assim, já crentes e seguidores de Jesus, a experiência com a manifestação da glória de Cristo reafirmou e cimentou aquela fé.
Ao que aprendemos do contexto geral do Novo Testamento a fé na pregação é totalmente suficiente para a salvação, desde que se entenda "fé" aqui nos termos do próprio Novo Testamento, envolvendo rendição cognitiva, volitiva e espiritual ao Senhorio de Cristo mediante arrependimento dos pecados. Contudo, parece-nos razoável afirmar, baseados na relação que João nos apresenta nesta passagem entre a manifestação da glória de Cristo e a firmeza da fé, que é possível que cristãos verdadeiros, discípulos do Mestre, que experimentam e presenciam a glória de Cristo fortaleçam mais ainda sua fé. Como se experimenta, então, a glória de Cristo? Primeiramente com a consciência do tamanho do amor e do poder Dele em nos ter aceitado como discípulos e nos salvar. Unido a isso deve haver uma vida de oração e meditação bíblica sincera e perseverante, de modo que estejamos sempre prontos para a manifestação da glória Dele em nossas vidas. Devemos nos lembrar que aqueles discípulos só puderam presenciar a manifestação da glória de Jesus porque estavam junto Dele, atentos ao Seu agir. Discípulos desatentos e indiferentes não verão a manifestação da glória do Senhor, e mesmo se a verem, podem não conseguir se apropriar da bênção que ela traz.
Daí tiramos nossa reflexão pessoal: como anda nossa vida devocional? E você? Tem se mantido atento ao agir do Senhor? Tem feito questão de estar sempre na Sua presença?
Encerro citando Agostinho, que "matou a charada" com o axioma abaixo:
"Se você é um fracasso em sua vida de devoção, é um impostor em todas as outras coisas"

Deus abençoe.

* Essa reflexão faz parte de uma série baeada no mesmo texto bíblico. Leia as outras:

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