Livros de Teologia


terça-feira, 26 de julho de 2016

Vosso rosto jamais sofrerá vexame

"Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram. Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o noivo e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Depois disto, desceu ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias" (Jo 2.1-12).

Quando Jesus operou o milagre da transformação de água em vinho naquele casamento em Caná da Galileia muitas lições foram ensinadas aos Seus discípulos. Como acontece com todos os milagres realizados por Jesus nos Evangelhos, este também tem um objetivo didático, pelo qual Jesus intenciona ensinar verdades espirituais aos Seus seguidores.
Um detalhe muito interessante do registro que o apóstolo João faz deste episódio é que dois dos personagens mais importantes do fato são apenas citados, aparecendo mais como coadjuvantes do que como protagonistas. De fato, Jesus é o protagonista da cena. Todavia, o cenário é uma celebração de casamento, mas os noivos não tem, sequer, os nomes mencionados. Apenas duas vezes são mencionados no relato. A primeira aparece no verso 3, sob o pronome "eles", quando Maria informa Jesus que "eles" não têm mais vinho. A segunda aparece no verso 9, quando o mestre-sala chama o "noivo" para comentar a ordem em que os vinhos foram servidos na festa.
Apesar da discrição que João garante aos noivos, eles são figuras importantes no texto. Afinal, a festa era deles! Até Jesus respeitou isso operando o milagre na presença apenas dos discípulos e dos serventes. Nem o mestre-sala presenciou o milagre (vs. 9). Creio que Jesus não desejava "roubar a cena" dos noivos, pois aquele era o dia deles. Jesus é muito carinhoso, e percebemos isso no texto. Se operasse o milagre à vista de todos, os noivos perderiam, certamente, a atenção dos convidados, e Jesus não queria que isso acontecesse. Os discípulos, todavia, receberam o ensinamento que precisavam na ocasião.
Os noivos eram os anfitriões da ocasião. Numa celebração de casamento judaica da época de Jesus as comemorações do casamento aconteciam tanto antes quanto após a celebração do casamento. A festa durava, no mínimo, um dia inteiro. Acabar a bebida no meio da festa seria uma vergonha monstruosa para a família dos noivos. Se a festa termina precocemente por falta de provisão os noivos sofreriam um vexame terrível.
A honra e o bom nome dos noivos estava em jogo quando o vinho acabou. Mas a boa notícia é que Jesus estava presente! Cumpriu-se na vida daqueles noivos o que o salmista antecipou: "Contemplai-o [o Senhor] e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame" (Sl 34.5). O fato de Jesus estar presente impediu que o vexame maculasse aquele momento tão especial e único na vida do casal. Jesus estava pronto para prover aquilo que faltava para a honra daquela família.
Que lição preciosa temos aqui. Quando contemplamos o Senhor, isto é, quando Ele está presente, quando O convidamos, quando O seguimos, Ele nunca permitirá que soframos vexame!
E você? Já O tem em tua festa? Ele já está presente em tua vida? Já O recebeu, pela fé, no coração?

Deus abençoe.

* Essa reflexão faz parte de uma série baeada no mesmo texto bíblico. Leia as outras:

sábado, 23 de julho de 2016

As talhas vazias

"Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram. Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o noivo e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Depois disto, desceu ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias" (Jo 2.1-12).

Jesus, no Seu ministério terreno, vez por outra dava instruções nada ortodoxas aos que abençoava. Numa ocasião fez lodo com a própria saliva e o pó da terra, passando-o nos olhos de um cego, mandando-o lavar em seguida (Jo 9.6-7). Mandou Pedro pescar, literalmente, o recurso para pagar os impostos devidos (Mt 17.27). Deus gosta de nos surpreender, de fazer de um jeito que jamais pensaríamos ser possível, e isso é intrigante e maravilhoso.
No texto, a instrução de Jesus para os serventes também foi inusitada. Ele pede que sejam cheias de água seis talhas de pedra. Essas talhas eram usadas para banhos cerimoniais, ou de purificação. Aqueles que chegavam deviam imergir os antebraços na água, de modo que ficassem limpos, simbolizando a purificação espiritual. A água usada para lavar os pés dos hóspedes também era retirada dessas talhas[1]. O fato dessas talhas estarem vazias possivelmente indica que os convidados do casamento já deveriam ter feito uso da água para a própria purificação, mas não temos como ter certeza disso.
De qualquer maneira, o fato de Jesus ter mandado os serventes encherem aquelas talhas de água já deve ter surpreendido muito os discípulos, pois ninguém esperava uma nova purificação, uma vez que todos já deviam ter feito isso ao chegarem. Mais intrigados ainda ficaram quando Jesus pediu que levassem ao mestre-sala para que servisse daquela 'água' aos convidados. A água usada para beber era tirada diretamente do poço e, guando guardada, não era nas talhas da purificação, mas em potes de tamanho menor. O verbo "tirar" usado por Jesus no verso 8 significa geralmente "tirar de um poço", e é usado assim no Evangelho de João. Até aquele momento ninguém havia entendido nada do que Jesus pretendia com todo aquele suspense.
Como as talhas eram usadas no ritual de purificação, cremos que Jesus as escolheu propositalmente, para representarem o sistema cerimonial judaico. As talhas vazias deveriam indicar o tradicionalismo oco vivido pelos judeus daquele tempo, onde a configuração exterior dos rituais eram preservadas, mas seu conteúdo havia sido esvaziado de sentido pela falta de fé e pelo pecado do povo. A espiritualidade judaica havia caído num automatismo religioso, numa liturgia cerimonial só de aparências. Jesus acusaria mais tarde os escribas e fariseus "sepulcros caiados", belos por fora, mas vazios de vida por dentro (Mt 23.27). As talhas que Jesus escolheu para encher transmitiram a mensagem clara de que Ele é quem recuperaria a vida da espiritualidade do povo de Deus.
O número de talhas também é significativo aqui. Eram seis talhas. Para os judeus antigos o número sete representava completude, inteireza, perfeição. Não de forma exotérica, supersticiosa, mas simbólica, por causa dos sete dias que Deus usou para completar com perfeição a criação de todas as coisas. Mas ali estavam apenas seis talhas, que sugeriam a insuficiência da Lei cerimonial. Quando Cristo ordena que sejam "cheias até em cima", pois assim as encheram os serventes, Ele ensina claramente que Ele é Quem completa a Lei, cumprindo-a "até em cima", isto é, cumprindo-a perfeitamente. Ele mesmo declararia isso adiante (Mt 5.17), e já havia declarado no Seu batismo (Mt 3.15).
O fato de Jesus ordenar, em seguida, que seja servida a "água" das talhas também aponta para uma verdade espiritual. Ensina que Jesus quer espalhar a justiça que completou em Sua vida perfeita. Seu desejo é que todos participem da Sua justiça, que todos bebam da água da vida (Jo 4.10-14; 7.37). Ele também ensinou que todo aquele que Dele bebe, pela fé, torna-se uma talha cheia de água vida, donde flui um rio de água viva para a eternidade (Jo 7.38).
Assim faz sentido todo o intrigante arranjo pelo qual Jesus resolve operar o milagre em Caná. Ele busca mostrar Sua superioridade ao antigo pacto e a perfeição e inteireza que Nele se encontram. E tudo isso está sendo oferecido pelos seus "serventes" pelo mundo afora. Todo aquele que Dele bebe fica verdadeiramente purificado, liberto da escravidão do pecado (Jo 8.36). Cristo é nossa purificação. Cristo é o fim da Lei (Rm 10.4).
Concluindo, devemos pensar em duas coisas muito importantes. 1) Será que nossa fé não tem se tornado como aquelas talhas vazias? Será que temos vivido uma religiosidade de aparências, onde a vida de Cristo não preenche mais nosso interior? 2) Temos servido a Cristo na distribuição da Sua justiça, oferecendo a todo o que tem sede a água da vida? Temos espalhado o amor de Jesus entre os que perecem na escravidão do pecado?
Essas são perguntas que não devem ser negligenciadas, jamais!

Deus abençoe!

* Essa reflexão faz parte de uma série baeada no mesmo texto bíblico. Leia as outras:
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[1] Para ler mais sobre o costume da hospitalidade judaica antiga leia Quais são suas prioridades?.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Jesus e Maria: Mulher, que tenho eu contigo?

"Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram. Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o noivo e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Depois disto, desceu ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias" (Jo 2.1-12).

A resposta aparentemente rude de Jesus
À primeira vista esta passagem da Escritura parece expor Jesus como alguém capaz de dar uma resposta à sua própria mãe com uma rudeza ímpar. Quando Maria O procura para informar o problema que ameaçava a celebração, o fim do vinho, a resposta que Jesus lhe dá parece destoar completamente da serenidade e doçura normalmente observadas no Cristo dos Evangelhos. Mas, afinal, o que Jesus quis dizer com aquela resposta?
A resposta de Jesus foi: "Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora". Vamos analisá-la por partes.
O termo que Jesus usou para se dirigir a Maria, "mulher" (grego "gunai"), parece indicar um tom  estranho, quase pejorativo, mas na verdade não é. Foi esta mesma palavra que Jesus usou para se dirigir a Maria da cruz ao entrega-la aos cuidados de João (Jo 19.26). Homero também utilizou a mesma palavra ao escrever sobre Odisseu dirigindo-se à Penélope, sua amada esposa. Também há registros de que Augusto usou o mesmo termo para dirigir-se à Cleópatra, célebre rainha egípcia, o que mostra que a palavra poderia ser usada com tom extremamente respeitoso. Na nossa língua portuguesa não temos um termo que traduza, com essa riqueza de intenção, o termo grego. O que se aproxima disso, respeitando a mesma cortesia, seria "senhora". Portanto, Jesus não foi desrespeitoso com a mãe, e não poderia sê-lo.
A expressão "que tenho eu contigo?" também era muito comum à época. O detalhe é que o registro gráfico do Evangelho não traz consigo o tom com que a expressão foi falada de viva voz por Jesus, e isso dificulta a interpretação. Isso porque essa expressão dependia do tom de voz usado ao proferi-la para se compreender a intenção daquele que a falava. Quando era dita com brutalidade e aspereza significava repreensão, desacordo, incompatibilidade. Mas quando falada com mansidão significa ao muito parecido com uma expressão popular que usamos no Brasil, a "deixa comigo", ou "deixa que eu resolvo", que significa "estou assumindo a responsabilidade" por algo. Essa idiossincrasia da Palestina da época de Jesus nubla um tanto a interpretação da Sua intenção ao responder à mãe. Porém, cientes das possibilidades do significado cultural da expressão, podemos fazer uma leitura mais coerente da resposta do Filho à Maria. O que Jesus quis dizer foi algo como "Senhora, pode deixar comigo que eu resolvo o problema. Não se preocupe".
A última parte da resposta de Jesus, "ainda não é chegada a minha hora", são tão importantes para a boa interpretação da cena e do significado da resposta de Jesus quanto a primeira parte. Ao que esta parte parece indicar, Maria fez a coisa certa ao procurar Jesus para resolver o problema do fim do vinho, mas tudo indica que ela não se deteve a pedir que resolvesse o problema, mas deve ter agido, naturalmente, como a mãe que ordena ao filho o que fazer em alguma situação. Porém, Maria não estava pedindo que Jesus agisse como "seu filho", mas como o Filho de Deus, para resolver o problema. Enquanto ela apelasse a Ele como seu filho humano, que dela nascera, Jesus sempre mostrou-se obediente em tudo (cf. Lc 2.51). Mas, quando Maria quis dirigir as ações de Jesus não como homem, mas como Messias, Jesus lembra-lhe com "ainda não é chegada a minha hora" que o Cristo não deve, nem pode, ser governado pelos desejos humanos, mesmo quando são fundados em necessidades verdadeiras e lícitas. Como "filho", Jesus lhe era submisso; mas como "Filho do Homem", era submisso apenas à vontade do Pai celeste (cf. Jo 5.43; 10.18; 10.25; 10.30; 15.15).
Desde modo podemos, humildemente, interpretar a resposta de Jesus parafraseando-a da seguinte forma: "Senhora, pode deixar que eu resolvo o problema, mas eu o farei conforme a vontade do meu Pai, e não a minha ou de outra pessoa, pois a minha hora é determinada por Ele, e só por Ele". Pelo menos, é como eu entendo a resposta de Jesus.

A lição que aprendemos
O que podemos aprender com essa interpretação da resposta de Jesus? No final das contas, é isso o que importa aqui. João registrou o episódio fazendo questão de incluir a resposta de Jesus, e se o fez há lições que podemos aprender.
Duas lições são aprendidas na resposta de Jesus: 1) Cristo está sempre pronto para ouvir a súplica daqueles que a Ele se achegam com fé. Ele estará sempre pronto para intervir poderosamente nos problemas humanos. 2) Jamais devemos tentar pressioná-Lo, pois Ele é Deus! Se Ele está sempre pronto para intervir nos problemas humanos, Ele o fará conforme o julgamento da Sua própria Onisciência e Sabedoria, no tempo que Ele determinar. Temos a liberdade, pela fé, de rogar-Lhe, de suplicar-Lhe algo, mas nunca de impor-Lhe qualquer coisa. Não podemos determinar-Lhe o tempo, o modo ou qualquer outro aspecto do Seu agir. Só podemos invocá-Lo, e esperar confiantes de que Ele sempre age da melhor maneira, no melhor tempo. Isso é fé!

Que Deus nos ajude absorver estas lições, e as escrever nas tábuas do coração.

Deus abençoe.

* Essa reflexão faz parte de uma série baeada no mesmo texto bíblico. Leia as outras:

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Serviço e humildade

"Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram. Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o noivo e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Depois disto, desceu ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias" (Jo 2.1-12).

Ser convidado para participar da celebração de um casamento nos alegra muito. Certamente, creio, todos que nos leem agora já o foram e puderam experimentar dessa alegria. Mas, ser convidado para ajudar na organização da celebração e da festa de recepção que geralmente a segue é ainda mais especial, pois demonstra a confiança dos noivos e familiares no convidado. Maria, a mãe de Jesus, não foi convidada apenas para ser expectadora daquele casamento em Caná, mas para prestar-lhe assistência. Todo o texto indica que ela foi convidada a colaborar na organização do casamento. Vemos isso na preocupação que ela demonstra com o estoque de vinho que aproximava-se rapidamente do fim. Também, vemos que Maria estava investida de autoridade para ordenar aos serventes que fizessem tudo o que Jesus dissesse. Alguns manuscritos posteriores ao Evangelho de João, que não eram inspirados por Deus e, portanto, não fazem parte do cânon bíblico, agregam alguns detalhes ao relato que temos no Evangelho de João. Num deles Maria é descrita como irmã da mãe do noivo, o que não temos nenhum motivo para duvidar dessa informação, pois é perfeitamente aceitável que tivesse parentes morando próximo à Nazaré. Alguns outros ainda dizem que o noivo seria o próprio João, autor deste Evangelho, e a irmã de Maria seria sua mãe, Salomé. Disso não temos como saber a veracidade, mas o relato que João faz da cena parece indicar a perspectiva de alguém que testemunhou pessoalmente a cena.

Vivendo para servir
Bom, especulações à parte, o que nos importa aqui é que Maria estava, de fato, servindo à família dos noivos colaborando na organização da celebração. A singularidade de Maria não poderá ser questionada por qualquer que leia, com um mínimo aceitável de atenção e zelo, as páginas do Novo Testamento. Desde sua eleição como genitora do Filho de Deus; sua piedade e caráter diante do noivo prometido, José; seu comprometimento na função de mãe de um menino especial, de temos a notícia que foi muito bem sucedida; seu compromisso inabalável de estar atenta aos ensinos de seu filho, agora publicamente reconhecido como "o Filho"; e sua relação com os discípulos do Mestre, do início ao fim de sua história, podemos ver o coração piedoso e dedicado de Maria. Ninguém poderá argumentar com aquele que cita Maria como um dos maiores, senão o maior, exemplo de fé cristã de todos os tempos.
Servir, eis a questão! Quantas oportunidades de servir se nos são dadas todos os dias. Quantas vezes Deus preparou situações e condições para que servíssemos ao próximo, mas nosso egoísmo nos impediu de aceitarmos, ou mesmo, de reconhecê-las. Já viu o trabalho que dá organizar um casamento? Não era diferente na época de Jesus. Dá muito, mas muito, trabalho. Maria deve ter ido bem mais cedo, senão dias antes dos demais convidados, para que quando estes chegassem, encontrassem tudo pronto.
A disposição de Maria deve nos estimular a servir também. Sempre ouvi de meu pai que "quem não vive para servir não serve para viver". Ele tem razão, pois a Bíblia ensina a mesma verdade. Somos chamados por Deus para servir, não para sermos servidos (cf. Mt 20.28).

A humildade da fé
Como comumente acontece, parece que a previsão que os organizadores fizeram da quantidade de convidados, ou do consumo que fariam do vinho, foi um tanto tímida, pois o vinho deu de acabar com a festança ainda em curso. Quando isso acontece, quem é que corre pra lá e pra cá, executando algum plano emergencial que solucione o problema? Os organizadores! Este é o papel que Maria desempenha no texto. E o fez majestosamente bem. Quando nosso serviço cristão, ou mesmo secular, carece de medidas que nossos braços não alcançam resolver, a quem devemos clamar por socorro? Maria procurou o Filho! Não o "filho", mas o "Filho". Ela não foi a Jesus como seu filhinho querido, o que não deixara de ser, obviamente, mas ela foi a Ele com a expectativa da fé, sabendo que Ele era Quem poderia resolver o problema! Isso é fé! Isso é confiança! Isso é esperança! Mesmo quando ouviu a resposta de Jesus, nada convencional, diante da informação de que o vinha acabara, Maria persistiu na esperança de que Ele resolveria o problema, se dirigindo aos serventes e "passando a bola" para Jesus; ela disse aos serventes: "Fazei tudo o que ele vos disser". Maria não tinha condições de resolver o problema da falta de vinho, de outra forma ela mesma resolveria o problema sem incomodar Jesus e seus discípulos. Maria, ao procurar Jesus e direcionar a atenção dos serventes para o Filho, reconhece seu limite. Que lição preciosa! Quantas vezes tentamos resolver nós mesmos problemas que já nos fugiram há muito tempo do controle! Quantas vezes nosso orgulho nos cegou e presunçosamente tentamos, em vão, encontrar uma saída das situações mais escabrosas! Todavia, sempre que reconhecemos nossos limites e "passamos a bola" para Jesus veremos a solução. Não quero dizer que Ele não espera de nós o esforço e a perseverança, mas que há uma linha tênue que separa a perseverança corajosa do orgulho presunçoso. Reconhecer nossos limites e aprender a descansar em Deus, isto sim, é sinal de maturidade da fé.

Que Deus nos ajude a perceber as oportunidades de servir, e a aceitá-las. Que Ele nos revigore as forças e nos eleve o ânimo para estarmos sempre dispostos a servir ao próximo. Que Ele também nos ajude no amadurecimento da fé, para que a humildade preencha nosso coração e passemos a reconhecer nossa limitação, olhando sempre para o Autor e Consumador da nossa fé, Jesus Cristo (cf. Hb 12.2).

Deus abençoe.

* Essa reflexão faz parte de uma série baeada no mesmo texto bíblico. Leia as outras:

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Fé sempre firme!

"Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram. Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o noivo e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Depois disto, desceu ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias" (Jo 2.1-12).

Este episódio da vida de Jesus, participando de uma festa de casamento, contém um dos fatos mais conhecidos sobre o Senhor: ele transformou água em vinho. Este primeiro milagre de Jesus serviu até para a cunhagem do dito popular "foi da água para o vinho", que se diz querendo significar que algo mudou radicalmente para melhor. É também muito lembrado quando o superestimado e polemizado assunto do "vinho" e do "pode ou não pode" um cristão beber bebida alcoólica é trazido à baila. Mas é um reducionismo grosseiro e, perdoem-me, até malicioso, olhar para este texto e crer que o vinho é personagem protagonista, fazendo do Mestre coadjuvante. O vinho é um mero detalhe no texto, como percebe qualquer que correr os olhos com mais cautela e honestidade sobre estas letras.
Aqui, quero me ater a dois versos que me chamaram muito a atenção. A partir deles, compartilhar algo que me saltou aos olhos e que, creio, mostrar-se-á de grande valia para os leitores.
A pequena vila de Caná era vizinha da cidade de Nazaré, onde residia Jesus, sua mãe Maria e seus irmãos, que foram convidados a participarem de um casório ocorrido ali. No verso 2 lemos que Jesus foi convidado e, junto com Ele, Seus discípulos. Interessa-nos, aqui, lembrar que Jesus estava iniciando Seu ministério público, e o grupo de discípulos resumia-se aos irmãos André e Simão Pedro, somados a Filipe e Natanael. Ao que nos parece, nem o grupo apostólico estava completo como o conhecemos, composto dos 12. De qualquer maneira, é claro que Jesus já contava com alguns discípulos na data daquela celebração. Também vale lembrar que Jesus ainda não havia operado nenhum milagre, no sentido de sinais, sendo a transformação da água em vinho o primeiro deles.
Contudo, o verso 11 registra as seguintes palavras: "Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele" (grifo meu). Veja que coisa interessante! Jesus tinha um grupo de seguidores que João, autor deste Evangelho, chamou de "discípulos", palavra usada nos Evangelhos sempre para referir-se aos que decidiram seguir Jesus. Porém, após o milagre operado, João diz que os discípulos creram nele. Como assim? Já não criam Nele? Já não eram discípulos antes do milagre?
João não pretende afirmar que aqueles homens não criam que Jesus era o Messias prometido até aquele momento. Ele os reconhece como discípulos de Jesus mesmo antes de irem a Caná para o casamento. Compreenderemos melhor o que João intenciona ao afirmar que aqueles discípulos creram Nele se observarmos a sentença anterior, em que se lê: "manifestou a sua glória". O próprio João já havia dito no prólogo do seu Evangelho: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" (Jo 1.14). Para João parece haver algo que relacione a glória de Cristo com a fé dos discípulos. Parece-nos que aquele grupo inicial de discípulos de Jesus criam Nele o suficiente para segui-Lo, baseados nos testemunhos de João Batista e nos encontros anteriores que tiveram com o Senhor. Todavia, o texto que estudamos aqui parece indicar que uma experiência pessoal com a glória de Jesus robustece, aprofunda e amadurece a fé. O apóstolo Paulo escreveria, mais tarde, que "a fé vem pela pregação, e a pregação, pela Palavra de Cristo" (Rm 10.17). Essa fé já se encontrava no coração daqueles discípulos pioneiros do cristianismo, pois creram na pregação, tanto de João, o Batista, quanto do próprio Jesus. Mas, ainda assim, já crentes e seguidores de Jesus, a experiência com a manifestação da glória de Cristo reafirmou e cimentou aquela fé.
Ao que aprendemos do contexto geral do Novo Testamento a fé na pregação é totalmente suficiente para a salvação, desde que se entenda "fé" aqui nos termos do próprio Novo Testamento, envolvendo rendição cognitiva, volitiva e espiritual ao Senhorio de Cristo mediante arrependimento dos pecados. Contudo, parece-nos razoável afirmar, baseados na relação que João nos apresenta nesta passagem entre a manifestação da glória de Cristo e a firmeza da fé, que é possível que cristãos verdadeiros, discípulos do Mestre, que experimentam e presenciam a glória de Cristo fortaleçam mais ainda sua fé. Como se experimenta, então, a glória de Cristo? Primeiramente com a consciência do tamanho do amor e do poder Dele em nos ter aceitado como discípulos e nos salvar. Unido a isso deve haver uma vida de oração e meditação bíblica sincera e perseverante, de modo que estejamos sempre prontos para a manifestação da glória Dele em nossas vidas. Devemos nos lembrar que aqueles discípulos só puderam presenciar a manifestação da glória de Jesus porque estavam junto Dele, atentos ao Seu agir. Discípulos desatentos e indiferentes não verão a manifestação da glória do Senhor, e mesmo se a verem, podem não conseguir se apropriar da bênção que ela traz.
Daí tiramos nossa reflexão pessoal: como anda nossa vida devocional? E você? Tem se mantido atento ao agir do Senhor? Tem feito questão de estar sempre na Sua presença?
Encerro citando Agostinho, que "matou a charada" com o axioma abaixo:
"Se você é um fracasso em sua vida de devoção, é um impostor em todas as outras coisas"

Deus abençoe.

* Essa reflexão faz parte de uma série baeada no mesmo texto bíblico. Leia as outras:

terça-feira, 19 de julho de 2016

Os três amores

"Chegando um dos escribas, tendo ouvido a discussão entre eles, vendo como Jesus lhes houvera respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Disse-lhe o escriba: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele, e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios. Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém mais ousava interrogá-lo" (Mc 12.28-34).

Quando Jesus responde a pergunta do escriba sobre o maior dos mandamentos, a resposta vem composta de dois versos do Antigo Testamento. Jesus condensa Dt 6.5 e Lv 19.18, que dizem, respectivamente: "Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força" e "Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor". Aliás, Jesus gostava de responder usando as Escrituras, era um hábito dele, que devemos imitar. O Mestre, para responder a indagação do seu interlocutor, também faz um resumo perfeito do decálogo (os Dez Mandamentos), que estão registrados em Ex 20.1-17, pois os quatro primeiros mandamentos dizem respeito ao relacionamento com Deus, em amá-Lo, enquanto os outros seis mandamentos dizem respeito ao relacionamento entre os homens, em amar ao próximo.
Aqui, porém, quero focar somente a segunda parte da resposta de Jesus, em que Ele diz ao escriba que devemos amar ao próximo como a nós mesmos.

O Amor Universal
Como vimos, esse mandamento já estava registrado na Lei de Moisés, há uns 1500 anos antes de Jesus nascer em Belém. Não era uma novidade quando Jesus lembrou que amar ao próximo é um mandamento divino; ninguém foi pego de surpresa, todos já sabiam desse dever. Todavia, creio que esse mandamento, de amar ao próximo como a nós mesmos, não é um mandamento restrito aos cristãos ou aos judeus. É um mandamento para toda a humanidade; é a base de relacionamentos saudáveis e duradouros. Os seres humanos foram criados como seres relacionais, carentes de contato com semelhantes e inclinados à vida em sociedade, em comunidade. Mas se o outro não está incluído nos meus cuidados, então como uma sociedade poderá subsistir? O próprio Jesus ensinou que um reino dividido não subsiste (Mt 12.25-26). Neste mandamento, de amar ao próximo como nos amamos, o paradigma, o padrão, o aferidor da medida do amor devido é o amor próprio, o amor que temos por nós mesmos. Devemos amar o outro na medida do amor que temos por nós mesmos. O meu amor por mim é a medida devida ao outro. Isso é difícil, você não acha? Amar alguém como a mim mesmo? Se for minha mãe, meu pai, até minha esposa, até vá lá. Mas amar um estranho, ah, não sei não. É difícil. Mas, é mandamento e é assim que deve ser. Se aprendermos a amar desse modo, boa coisa fazemos, e devemos nos esforçar nessa tarefa. Entretanto, ninguém precisa crer em Deus, na Bíblia, ou ser um seguidor de Jesus para amar a si mesmo. Aliás, amar a si mesmo é tão fácil que muitos exageram nisso, chegando às raias do narcisismo e da soberba. Esse mandamento abrange toda a raça humana.

O Amor Cristão
Mas, e os cristãos? Será que há algum mandamento diferenciado quanto ao amor dos cristãos? Sim, há. Se pensamos que amar ao próximo como a nós mesmos é o maior desafio do amor cristão, então precisamos examinar com mais atenção as Escrituras. Se o mandamento universal do amor já nos desafia, veja então o que Cristo pede daqueles que se tornam Seus discípulos. No texto de Jo 13.34 Ele diz: "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros". Ele repete isso em Jo 15.12. Perceba que Jesus diz que esse é um novo mandamento. Como assim, novo? Novo porque não havia esse mandamento na Lei da Antiga Aliança. Jesus está elevando o nível do amor devido pelos cristãos aos outros. Veja que o padrão de medida do amor do cristão não é o mesmo do mandamento universal. Lá o padrão é o amor próprio, o quanto nos amamos. Mas no novo mandamento não é o quanto eu me amo, mas é o amor que Cristo tem por mim. Ele diz "assim como eu vos amei". Meu Deus! Jesus trocou o padrão de medida! Ele manda que amemos não como nos amamos, mas como Ele nos ama!!! E como Jesus nos ama??? A Bíblia diz que nos amou até ao fim (Jo 13.1). Diz também que Ele nos amou primeiro (IJo 4.19). Diz que o amor Dele por nós é grande (Ef 2.4) e que nos amou a ponto de se entregar por nós (Ef 5.2). Então, como deve um cristão amar? Deve amar primeiro, ou seja, não amar só em retribuição ao amor do outro, mas dar a iniciativa no amor. O cristão deve amar mesmo quando não é amado. Deve o cristão também amar até ao fim, isto é, o amor cristão não pode esmorecer, se esfriar, mas ser persistente e resistente. Deve também ser grande, abundante, abnegado. E, se preciso for, o cristão deve dar a vida pelos seus irmãos: "Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos" (IJo 3.16).
Viu como o amor cristão é um mandamento muito mais profundo do que o amor que o não cristão está obrigado a apresentar? O cristão deve amar como Cristo ama. Que desafio! É demais para nós, e só podemos obedecer esse mandamento do Senhor pelo poder do Espírito Santo que habita no cristão. Paulo ensinou: "Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Rm 5.5). Só pelo amor de Deus em nossos corações será possível amar como Cristo ama. É por isso que só cristãos verdadeiros podem amar dessa forma, pois o Espírito só habita aqueles que amam a Jesus e O receberam pela fé em seus corações (Jo 1.12; 14.23; ICo 3.16; Ef 1.13).

O Amor Pleno e Perfeito
Mas, há ainda um nível de amor tão perfeito, tão imensurável, que somente quando estivermos no céu, totalmente aperfeiçoados e livres do pecado, nos será possível vivenciar. Jesus disse na oração que fez ao Pai o seguinte: "Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja" (Jo 17.26). Você já imaginou qual o tamanho do amor que o Pai tem por Jesus? O amor que o Deus Pai tem pelo Deus Filho? Que amor há entre as pessoas da Trindade? É o mais perfeito amor. É o amor que perpassa toda a natureza de Deus (cf. IJo 4.8). É com esse tipo de amor que nos amaremos no céu, com o perfeito amor da natureza divina. Não estou dizendo, obviamente, que seremos "deuses"; jamais! Estou dizendo que amaremos com o perfeito amor de Deus.

Meus irmãos e irmãs. Amar é um desafio, sempre! Mas amar como manda as Escrituras é algo muito maior, mais sublime, mais desafiador. Esforcemo-nos para amar desse modo, cumprimento o mandamento do Senhor, e Ele, pelo Seu Espírito, nos ajudará na missão.

Deus abençoe.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Perto ou dentro do reino?

"Chegando um dos escribas, tendo ouvido a discussão entre eles, vendo como Jesus lhes houvera respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Disse-lhe o escriba: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele, e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios. Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém mais ousava interrogá-lo" (Mc 12.28-34).

No diálogo acima vemos Jesus sendo interrogado por um escriba, provavelmente um dos doutores da Lei daquela época, a respeito do maior dos mandamentos. À primeira vista podemos ter a sensação de que aquele homem tinha interesses genuínos sobre as opiniões de Jesus quanto à vontade de Deus e sobre Sua interpretação da Lei, mas não era esse o caso. O escriba perguntava com uma única intenção, fazer perguntas difíceis para colocar Jesus em "maus lençóis", para deixá-Lo constrangido diante do povo ao admitir que não sabia alguma coisa ou desacreditado por responder errado. Certamente o escriba se deu mal no seu estratagema, pois seu tiro "saiu pela culatra". Os saduceus, outro grupo religioso dos judeus, mais céticos e racionalistas que os escribas, haviam acabado de interrogar Jesus nos versos anteriores, e foram envergonhados publicamente por Jesus que os acusou de "laborar em grande erro" por interpretar mal a Escritura (vs. 18-27). Todavia, diante da resposta de Jesus, o escriba reage bem, reconhecendo Jesus como Mestre e Sua resposta como correta e verdadeira, o que leva Jesus a declara-lo "perto do reino de Deus".
Aprendemos algo aqui muito sério. aprendemos que é possível que pessoas estejam só "perto" do reino de Deus, mas não dentro dele! O escriba foi reconhecido como alguém que estava no caminho certo, mas não como alguém que já houvesse atingido o destino; como alguém que deu passos importantes em direção à salvação, mas que ainda não a possuíra. Sim, isso é possível! E com certeza há muitos nesse estágio espiritual. Pessoas que, por vezes, são até conhecedores das Escrituras, como aquele escriba, que são participantes da atividades da Igreja, que frequentam os cultos e são membros de alguma boa Igreja, mas que ainda não fazem parte, realmente, do reino de Deus! Ainda lhes falta algo, um passo a mais na caminhada em direção a Deus. Há pessoas que experimentam o convívio com os crentes e usufruem dos seus dons espirituais, sendo abençoados por eles. Recebem as bênçãos de Deus pela oração e intercessão dos crentes, sendo alvo do poder de Deus, e gozam dos favores e das benesses da comunhão, do socorro, e da alegria do povo de Deus, mas que nunca entraram no reino de Deus. Desfrutam apenas da comunhão e das bênçãos do povo do reino, mas eles mesmos nunca se tornaram cidadãos do reino celestial. Não são pessoas ruins ou maldosas, nem estão "longe do reino de Deus"; apenas ainda não entraram nele. Não são pessoas mal intencionadas; apenas falta-lhes algo ainda na caminhada da fé. Isso é um perigo muito grande! É possível, ainda, que a maioria destas pessoas estejam tão à vontade no meio do povo do reino que não percebem que ainda não entraram no reino. Ficam tão envolvidas pelo calor da comunhão, pela beleza da adoração, que a pequena distância que as separa do reino passa despercebida. Acabam, inconscientemente, iludindo-se e enganando a si mesmas, crendo sinceramente que estão lá, mas não estão. Estão totalmente convencidas de fazerem parte do reino de Deus, mas ainda não chegaram lá.
Essa verdade é chocante, não é mesmo? Mas, a grande pergunta aqui é saber o que lhes falta, então, para acabarem de chegar, e entrar no reino de Deus? Elas já estão intelectualmente convencidas pela verdade. Elas já fazem parte da comunhão dos irmãos, muitas vezes sendo membros de uma boa Igreja cristã. Elas já receberam bênçãos celestiais e creem que Deus é Todo-poderoso e Todo-bom. O que lhes falta, afinal de contas? Eis a questão!
Eu acredito que o que lhes falta é uma entrega definitiva, profunda, consciente, e integral da vida ao Senhor. Creio que elas compreenderam a verdade de Deus, mas ainda não se renderam à essa verdade. Creio que elas amam e desfrutam da comunhão dos irmãos, mas ainda não se entregaram à uma comunhão íntima e pessoal com o Espírito do Senhor. Creio que vivem como bons cidadãos, mas ainda possuem partes do coração cujas portas estão trancadas para o Senhor. Creio que são pessoas de bem, bons amigos, bons pais e bons filhos, bons cônjuges, mas que ainda cederam ao doce toque do Espírito de Deus para submeterem-se, sem reservas, ao Senhorio de Cristo. Creio que Jesus está bem perto delas, batendo à porta dos seus corações, mas elas ainda não as abriram, apenas vislumbram o Senhor pelo buraco da fechadura, e isso já as encanta de tal forma que se esquecem de escancarar a porta do coração para o Mestre. Creio que seja isso que lhes falte. Deve ter sido por isso que Jesus ensinou que o reino Dele deve ser prioridade em nossas vidas: "Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33).
De qualquer maneira, é certo que alguns estão "perto do reino", mas não dentro dele. É certo que isso é um risco colossal para nossa alma, pois pode ser decisivo para a salvação ou perdição eterna. Só nos resta fazer um exame particular e muito franco de nossa própria fé e relação com Deus, para buscar em Deus, sob súplicas e orações, saber qual a nossa real posição diante do reino Dele. Devemos nos gastar nessa busca até que uma certeza inexorável da nossa presença no reino de Deus preencha nosso coração. Isso, todavia, só é possível sujeitando nossa vontade à vontade do Senhor, negando-nos a nós mesmos para servi-Lo. Aceitando-O verdadeiramente como Senhor de nossas vidas e prosseguindo em conhecê-Lo através da Sua Palavra, a Bíblia Sagrada.
E você? Já está dentro do reino de Deus?

Deus abençoe.

domingo, 17 de julho de 2016

Vale de ossos secos

"Veio sobre mim a mão do Senhor; ele me levou pelo Espírito do Senhor e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; eram mui numerosos na superfície do vale e estavam sequíssimos. Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão reviver estes ossos? Respondi: Senhor Deus, tu o sabes. Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis. E sabereis que eu sou o Senhor. Então, profetizei segundo me fora ordenado; enquanto eu profetizava, houve um ruído, um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso. Olhei, e eis que havia tendões sobre eles, e cresceram as carnes, e se estendeu a pele sobre eles; mas não havia neles o espírito. Então, ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize-lhe: Assim diz o Senhor Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. Profetizei como ele me ordenara, e o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso" (Ez 37.1-10).

Essa famosa passagem bíblica, "O Vale de Ossos Secos" do livro do profeta Ezequiel, tem diversas aplicações e ensina várias lições.
Embora o livro de Ezequiel seja um dos mais negligenciados de toda a Bíblia, essa passagem é muito conhecida dos cristãos. Você conhece só essa passagem de Ezequiel ou já leu o livro todo? Talvez aqui já tenhamos algo para refletir...
A aplicação que quero fazer desse texto do profetas das visões, todavia, é sobre algo muito mais fácil de se encontrar no meio cristão do que achar alguém que conheça todo o livro do profeta Ezequiel.
Comecemos com o significado mais simples e direto do texto. Deus coloca o profeta no meio de um vale, cheio de ossos secos, e ordena-lhe que profetize sobre os ossos secos até que recuperem a vida, pelo Espírito de Deus. Os ossos, obviamente, representam as pessoas sem vida, espiritualmente mortas em seus pecados e delitos, que podem receber da vida de Deus quando dão ouvidos à pregação do Evangelho através dos "profetas", que nesse caso, são os crentes em Cristo Jesus. Podemos interpretar o texto assim quando o Novo Testamento diz exatamente a mesma coisa, porém não em formato de visão profética, como o fez Ezequiel. Veja o que Paulo ensinou sobre o atual estado espiritual dos não-crentes: "Ele [Jesus] vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, pela graça sois salvos" (Ef 2.1-5; cf. Cl 2.13). E o próprio Jesus afirmou o seguinte sobre aqueles que ouvem a verdade do Evangelho e nela creem: "Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida" (Jo 5.24). O que isso significa, senão que éramos "ossos secos" por causa do nosso pecado, mortos nas nossas transgressões, e que só a fé em Jesus e na Sua mensagem de salvação pode dar-nos a vida? É a mesma coisa que Ezequiel viu representado numa visão profética.
Porém, não quero colocar meu foco, aqui, no efeito do Evangelho, nem na situação de morte espiritual dos não-crentes, embora precisasse expor essa verdade para falar do vem a seguir. Meu foco aqui está no papel do profeta, do mensageiro do Evangelho, daquele que anuncia a verdade de Deus aos ossos secos. Sim, a figura do portador da vida! É sobre ele que quero me prender.
Como todos os homens estão mortos aos olhos do Senhor, até que creiam na pregação do Evangelho de Jesus Cristo para receber a vida eterna pelo Espírito Santo (cf. Ef 1.13), a ordem de Jesus aos Seus servos é que anunciem o Evangelho à toda criatura (Mt 28.19-20; Mc 16.15) impera sobre todo cristão, sem exceção alguma. Todo aquele que é um verdadeiro cristão é, em comparação à visão de Ezequiel, o profeta portador da vida de Deus.
O problema acontece quando alguém que deveria apresentar o Evangelho aos não-crentes, não o faz. Passa pelo vale de ossos secos e não "profetiza" sobre eles. E pior, algumas vezes o "profeta", que deveria levar a vida aos ossos secos, torna-se ele próprio um osso seco também. Sim, isso acontece! Pessoas que conhecem a verdade do Evangelho, que deveriam estar profetizando vida sobre os ossos secos (as pessoas sem vida espiritual), acabam morrendo e secando espiritualmente, influenciadas pelos ossos secos por quem se deixou influenciar. Posso citar como exemplo os jovens cristãos que resolvem namorar ossos secos, e acabam secando também. Maridos ou esposas de ossos secos, que conhecendo o Evangelho, secam e perder a vida, quando deveriam compartilha-la com o cônjuge. Eu sei, o cônjuge pode decidir permanecer seco; afinal de contas, ninguém pode obrigar ninguém a nada, certo? Mas o cristão casado não precisa secar-se por isso, precisa? Ele também não é obrigado a secar-se! Pessoas cristãs que vão até o vale de ossos secos determinados a profetizar vida e, de repente, quando nos damos por conta, sentimos sua falta, onde os encontramos? Secos no meio do vale que deviam vivificar.
O que quero dizer com tudo isso? Quero dizer que o cristão deve testemunhar do Evangelho, mas também estar sempre atento para o perigo da influência que os ossos secos podem querer impor sobre ele. Tome cuidado para não se encantar com os engôdos dos ossos secos. Não se deixe levar, o profeta não pode secar! Pelo contrário, anunciar a vida de Deus, ainda que sejamos os únicos com vida no meio de todo o vale...
Que Deus nos abençoe, e nos conserve em vida! Que Deus perdoe aqueles que secaram novamente, e os restaure a vida!

Deus abençoe.

sábado, 16 de julho de 2016

Esperar pelo Senhor

"Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo Senhor" (Sl 27.14).

Sabe aquelas pessoas com quem estar junto nunca é só para fazer companhia, mas algo muito mais valioso? Sim, aquelas pessoas que só de sentar juntos à mesa para tomar o café da manhã vale mais no que se aprende ali do que várias horas numa sala de aula? Pois é, eu tive o privilégio de conhecer algumas pessoas assim. Foi num café da manhã desses, enquanto eu estava cursando teologia no seminário, que ouvi de um pastor muito amigo, vivido e experiente, uma sentença que me marcou profundamente. Ele disse: "Arnaldo, ser cristão é a maior aventura que alguém pode se atrever a experimentar nessa vida". E é verdade! Ser cristão é uma aventura e tanto!
A vida cristã traz consigo desafios que nos fazem engolir a seco. Padecemos algumas perseguições; somos questionados intelectualmente sempre que surgem assuntos sobre a fé; sabemos que as pessoas sempre nos julgam esperando que nosso comportamento seja exemplar; vivenciamos milagres; experimentamos coisas celestiais e sensações que não-cristãos nem sequer sonham! A Bíblia está repleta de promessas para nós, mas também de mandamentos; alguns destes que gastamos uns bons anos para aprender a cumprir como agrada ao Senhor...
Mas, de todos os desafios que a vida cristã pode oferecer, penso que o maior de todos é aprender a descansar, a esperar em Deus. Esperar não é da natureza humana. Somos afoitos, impacientes, ansiosos, precipitados, é o que somos. Claro, alguns não são tanto assim, mas os seres humanos em geral são deveras impetuosos. Geralmente nosso coração e pensamento andam muito à frente do bom senso e da prudência. Esperar, ah!, não é conosco. E tem um agravante nessa história toda, o jeito pós-moderno de ser da nossa sociedade, que fermenta essa nossa natureza apressada. Veja, por exemplo, como reagimos (ou, pelo menos, nos sentimos) na fila do banco, no trânsito, na contagem regressiva do semáforo... Lembra da internet discada (se você nem sabe o que é isso, me perdoe a nostalgia), com aquele barulhinho do modem? Ah, se tivéssemos a internet que temos hoje lá naquela época, seríamos os reis da conexão! Mas essa internet já não atende nossa sede voraz por velocidade... Temos pavor da bendita barra de progresso quando mandamos o computador fazer qualquer operação. Antes pegávamos o ônibus para ir até outro bairro (se você nunca andou de ônibus perdoe-me outra vez a nostalgia) e levava trinta minutos. Hoje vamos de moto ou de carro em dez minutos, mas ainda reclamamos da demora (gostaríamos mesmo é de viver com teleportadores, né). Somos a geração miojo, "tudo pronto em três minutinhos". Somos a geração do micro-ondas. Somos a geração do "prá ontem". Queremos enriquecimento rápido, emagrecimento rápido, formação acadêmica rápida, tudo rápido! Esperar? O que é isso??? É um suplício esperar qualquer coisa. Temos uma dificuldade tremenda com a expressão "longo prazo".
E é nessa agitação da alma, nessa ansiedade toda, que a Bíblia chega e diz: "Espera pelo Senhor". Como sempre, a Bíblia coloca o coração humano do avesso, mostrando como ele realmente é. Se um texto da Bíblia precisa dizer para o ser humano esperar por Deus, me parece que ela já sabia que seríamos tentados (e muitas vezes cairíamos nessa tentação) de ir à frente até de Deus! Queremos fazer as coisas antes Dele, saber antes Dele, decidir antes Dele! Não pode ser assim. Temos de aprender a esperar pelo Senhor! Não como se Ele tivesse algum problema em ser rápido e eficiente, mas no sentido de nos conformar ao ritmo Dele, ao tempo Dele! Mas isso é difícil Deus! Tem misericórdia de nós!
Esperar em Deus, ou por Deus, é não agir sem antes receber Suas instruções, Suas orientações. Esperar pelo Senhor é decidir agir somente sob Suas ordens; é guardar o coração e a mente em Cristo para nos livrar de toda a ansiedade própria da nossa natureza. Veja o que ensinou o apóstolo Paulo: "Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus" (Fp 4.6-7). Jesus aprendeu essa lição bem cedo, pois esperou trinta anos só para começar a anunciar o Evangelho como Messias. Trinta anos sendo o Senhor, mas trabalhando como carpinteiro em Nazaré. Trinta anos sendo o Criador de todas as coisas, mas sendo um cidadão sem muito destaque. Trinta anos sendo o Verbo de Deus, mas aprendendo as Escrituras com seus pais e indo ouvir as reflexões na sinagoga da cidade.  Leia: "Então, voltou para os discípulos e lhes disse: Ainda dormis e repousais! Eis que é chegada a hora, e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos de pecadores" (Mt 26.45). "Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (Jo 13.1). Esperou, até que o Pai lhe orientou o tempo de agir. Até para morrer Jesus esperou pelo Pai, veja: "
E nós? Esperamos pelo Senhor? Precisamos aprender essa lição, pois a vida se torna muito mais simples quando Deus está adiante de nós, e não o contrário.
Que Deus nos abençoe com um coração paciente e esperançoso, para que aprendamos a esperar por Ele.

Deus abençoe.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Honestidade

"pois o que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens" IICo 8.21

Honestidade: "1. qualidade ou caráter de honesto, atributo do que apresenta probidade, honradez, segundo certos preceitos morais socialmente válidos. 2. característica do que é decente, do que tem pureza e é moralmente irrepreensível; castidade". Assim define honestidade o dicionário[1]. Mas o que a Bíblia chama de honestidade?
A honestidade tem a ver com honra, com caráter, com dignidade, com ética, com consciência, seriedade e dignidade. Honestidade é a qualidade das pessoas de caráter reto, preocupadas em preservar a própria consciência livre de acusações, sejam externas ou internas, dos outros ou de si mesmos.
Na Bíblia a honestidade é filha da verdade, pois carrega o mesma DNA; são da mesma natureza, da mesma substância. A honestidade é um desdobramento prático da verdade; só é honesto quem tem gosto pela verdade. No Brasil, país assolado pela corrupção desde os primórdios como Nação Estado, a desonestidade, oposto da honestidade, é muito conhecida e qualquer adolescente conseguiria exemplifica-la citando um escândalo envolvendo políticos e um caso envolvendo colegas de escola. Isto porque a desonestidade está presente desde o colar na prova da escola até os bilhões desviados dos cofres públicos, e os desonestos já não se esforçam tanto para camuflar seu comportamento como antes; parece-me que simplesmente não se importam se a desonestidade é conhecida ou não.
Quem não conhece alguém que colou em uma prova? Pensou na escola, no primário? Não, meu amigo. Sabe onde a cola é mais presente? Nos cursos universitários! Quer saber qual minha fonte de informação para afirmar isto? Os próprios universitários! Converse com um deles, pergunte-o, e ele te dirá se estou mentindo. Eu, hoje pastor, tive colegas no seminário que colavam nas provas (minha cara está vermelha de vergonha agora, saiba disso). Que tipo de profissional será aquele que trapaceou durante boa parte do curso? Quem não conhece alguém que burlava alguma regra das brincadeiras quando criança para obter vantagem? Eu me lembro até de pais incentivando a desonestidade dos filhos nos jogos infantis, e que depois se gabavam de ter filhos "espertos". Quem não conhece algum amigo que, enquanto jovem, "ficava" com várias moças ao mesmo tempo, traindo as namoradas? E isso vale para as amigas também, pois desonestidade não tem nada a ver com gênero. Bom, espero ter aguçado tua memória e, triste e notalgicamente, lembrado-lhe de que a desonestidade sempre esteve do teu lado, senão dentro de ti.
No entanto, o que o apóstolo está afirmando é que, para o cristão, "o que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens". Cristão são preocupados com a questão da honestidade. Preocupação, aqui, é o cuidado permanente e atencioso de julgar o próprio comportamento para mantê-lo sempre honesto, tanto sob o crivo homens como o de Deus.
Tenho aprendido nestes 16 anos de caminhada cristã, e 5 de ministério pastoral, que existem muitos crentes com uma dificuldade enorme de lidar com o vício da desonestidade. Para alguns ser honesto é um desafio gigantesco, mesmo afirmando terem experimentado uma conversão ao Evangelho. Por que isso? A resposta completa para essa questão é mais complexa do que o espaço aqui me permite usar, mas percebo, no final, que vivemos numa sociedade viciada em faltar com a verdade, viciada em mentir e trapacear para resolver seus problemas e para obter vantagem. Demos até um apelidinho "carinhoso" para esse jeito de ser. Nós o chamamos de "jeitinho brasileiro". Não é lindo? Brasileiros não se apertam em situação nenhuma, nós sempre damos um "jeitinho". Sempre encontramos uma saída, como dizia o articulado personagem de Hanna-Barbera, o Leão da montanha, "Saída, pela esquerda", sempre que se via constrangido em alguma situação[2]. Somos uma sociedade viciada no "jeito mais fácil", entorpecida pela desonestidade. Somos uma sociedade onde a verdade é um item opcional, um acessório que nem tem tanto valor assim. Somos uma sociedade que ridiculariza a honestidade, só porque ela nos lembra da falta dela em nós mesmos. Somos uma sociedade que (des)aprendeu a determinar o que é honesto pelo "todo mundo faz", e não pelos valores éticos, morais e bíblicos (cf. Ex 23.2). Ruy Barbosa disse certa vez: "De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto". Teria sido Barbosa um profeta? Pergunto-me!
Mas tudo isso não muda o apelo do apóstolo: devemos ser honestos em assuntos espirituais e seculares, tanto diante de Deus quanto dos homens. A verdade é a aspiração do crente, sua motivação e seu fundamento. Fora da verdade não pode haver relação com Deus, pois Deus é a verdade (Jo 14.6). É a verdade que liberta (Jo 8.32), e não o jeitinho brasileiro. É a verdade que santifica (Jo 17.17), e não a opinião pública.
Desafio você, como o faço a mim mesmo, a sermos honestos. Nos desafio a permitir que a verdade seja nosso farol, nosso guia, pelo Espírito de Deus (Rm 8.14). Desafio a todo cristão que se despoje da desonestidade e do jeitinho brasileiro, para adotar em seu lugar o jeito de Deus. Desafio os pais cristãos a não educarem seus filhos para serem "espertos", mas para serem honestos, desde as brincadeiras e jogos, até às provas universitárias, para se tornarem adultos que dignifiquem o Evangelho de Cristo. Desafio os pais cristãos a disciplinarem os filhos por faltar com a verdade. Mas, para isso, os pais deverão dar o exemplo. Todos nós, cristãos, estamos submetidos a esses desafios desde que assumiram a Palavra de Deus como verdade e creram em Cristo como seu Senhor. Eu só os relembro, aqui, da responsabilidade que temos.
Que Deus nos ajude no meio dessa geração corrupta e perversa, amante dos prazeres e da desonestidade.

"Não há ninguém mais fácil de enganar do que um homem honesto; muito crê quem nunca mente, e confia muito quem nunca engana" Baltazar Gracián y Morales.
"Se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por desonestidade" Sócrates.
"Nenhuma herança é tão rica quanto a honestidade" Shakespeare.

Deus abençoe.
______________________
[1] Dicionário eletrônico Houaiss, versão 3.0 de junho/2009.
[2] Se quiser saber mais sobre o personagem animado O Leão da montanha, de Hanna-Barbera, basta clicar aqui.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Profissão ou ministério?

"Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" (ICo 10.31).

Cristãos devem fazer tudo para a glória de Deus. Esse 'tudo' a que o apóstolo Paulo se refere, que ele chamou no verso também de 'outra coisa qualquer', abarca todas as esferas da vida, desde as coisas mais simples e corriqueiras, até ao culto solene propriamente dito. O 'tudo' do texto inclui andar, pensar, cozinhar, conversar, trabalhar, ler, ter, ser, e a maioria dos demais verbos, ficando de fora apenas aqueles, obviamente, que expressam algo contrário ao caráter santo de Deus, como odiar, roubar, etc. Uso os verbos pois o verso em questão traz o verbo "fazei" tudo para a glória de Deus, então os verbos são adequados aqui.
Mas, aqui, vamos pinçar apenas um desses verbos para afunilar nossa reflexão e sermos mais objetivos. Quero refletir sobre o "trabalhar".
Todo cristão deve trabalhar, pois o trabalho é algo que agrada a Deus. Ele criou o homem também para trabalhar (Gn 2.15). O próprio Jesus disse que o Pai trabalha e Ele também (Jo 5.17). Muitos acreditam que o trabalho é ruim, que é algo que veio em consequência do pecado, mas não é assim. O trabalho já existia antes do pecado entrar na história humana. O pecado resultou, isso sim, no caráter penoso do trabalho, mas não no trabalho em si (Gn 3.19).
Todo cristão, também, tem uma profissão. Não me refiro à profissão, nesse caso, obtida pela formação acadêmica, mas no sentido de ser contratado para fazer algo, no sentido do trabalho em si mesmo. Nem todo cristão possui uma profissão por preparo acadêmico, mas todos sabem fazer algo. Há cristãos médicos, pedreiros, lavradores, advogados, comerciantes, manicures, babás, etc. É nesse sentido lato que uso o termo profissão, e isso envolve a profissão por formação também.
Pois bem, a Bíblia ensina que devemos fazer tudo para a glória de Deus. Então a pergunta é: como ser um profissional para a glória de Deus? Por exemplo, como ser um vendedor para a glória de Deus? Como glorificar a Deus sendo um entregador de pizza, ou um policial, ou um agente funerário, ou um professor infantil? Pense na sua profissão! Como glorificar a Deus com ela? Você a usa para a glória de Deus? Tem trabalhado para a glória de Deus?
Os crentes precisam aprender algo muito sério aqui. A maioria de nós somos levados a pensar que glorificamos a Deus só quando fazemos as coisas "da igreja", ou só quando pensamos nos assuntos bíblicos e espirituais. Mas isso não é verdade. Glorifica-se a Deus na vida toda! Essa dicotomia entre "vida secular" e "vida religiosa" é própria do romanismo da idade média, mas ainda encontra espaço na mentalidade da maioria das pessoas. Ela pode ser vista, por exemplo, na expressão "trabalhar para Deus", que quase sempre é usada para referir-se às atividades da Igreja, religiosamente falando, mas quase nunca envolve o que fazemos no trabalho de segunda a sexta-feira, não é mesmo? Já pensou se Adão pensasse que só servia a Deus na viração do dia, quando Deus vinha conversar com ele, e não enquanto ele cultivava o jardim? Ou se o próprio apóstolo Paulo pensasse que sua profissão, construtor de tendas, não fazia parte da 'obra do Senhor' (At 18.3)? Só existe uma vida, sim, uma só, e toda ela deve ser vivida para a glória de Deus, pois tudo, em última instância, tem um teor espiritual. A espiritualidade cristã deve permear todas as esferas da vida. Grave isso no teu coração: crentes não têm profissão, eles têm ministério. O que quero dizer com isso? Quero dizer que, para um crente, o que os outros chamam de "emprego", de "trabalho" e de "profissão", ele chama de ministério, pois vê na profissão o dever de glorificar a Deus e ofertar-Lhe louvor e adoração através do trabalho.
Descubra logo como glorificar a Deus no teu trabalho, com a tua profissão. Se você está cursando ou pretende concluir um curso universitário, pense desde já em como a glória de Deus será exaltada e anunciada através do conhecimento e profissão que irá desempenhar. Com toda certeza podemos crer que Jesus, enquanto carpinteiro em Nazaré, trabalhando na oficina de José, Seu padastro, glorificou ao Pai em cada pedaço de madeira que trabalhou (Mc 6.3).
Bom, seja qual for nosso trabalho, nossa profissão, é nosso dever dar glórias a Deus com ele!

Deus abençoe.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Mentalidade de escravo

"Toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Arão no deserto; disseram-lhes os filhos de Israel: Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor, na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne e comíamos pão a fartar! Pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão" (Ex 16.2-3).

O livro de Êxodo foi escrito por Moisés e registra a saída do povo israelita do Egito, logo após as famosas dez pragas enviadas por Deus sobre aquela nação, findando um período de quatro séculos de escravidão dos descendentes de Abraão sob o jugo egípcio (Ex 12.40-41).
Quatrocentos anos é muito tempo. Pelo menos seis gerações de israelitas nasceram, viveram e morreram na condição de escravos, trabalhando forçada e penosamente sob as chibatas egípcias (Ex 1.14; 5.7-8). Nós, que nascemos livres, temos dificuldade até de imaginar as agruras e penúria sofridas por aqueles que amargaram os grilhões da escravidão. Mas, num esforço didático aqui, tente imaginar como as crianças israelitas cresceram durante aquele período; como elas sentiam e pensavam, obrigadas desde tenra idade a trabalharem de sol a sol, privados da dignidade humana e de qualquer ato de compaixão da parte daqueles que usufruíam do seu suor.
Todavia, muitos dentre o israelitas oravam a Deus, suplicando por salvação e libertação, e Deus ouviu: "Disse ainda o Senhor: Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento" (Ex 3.7; cf. 2.23; 3.9). O Senhor levantou Moisés para liderar a saída dos israelitas do Egito. Agora tente imaginar o tamanho da alegria dos israelitas no dia da saída, no dia da libertação! Era só festa, risos, e júbilo no meio do povo de Deus! Andaram um pouco, e faraó arrependeu-se de ter deixado ir aquela grande força de trabalho escrava, mandando o exército atrás do povo, mas Deus livrou Israel poderosamente na travessia do Mar Vermelho, e essa é uma história muito conhecida (cf. Ex 14). Aí a alegria tomou conta novamente do coração do povo, mas não por muito tempo.
O texto em epigrafe registra a murmuração do povo contra Moisés e Arão, seu irmão, líderes do povo. Isto não aconteceu muito tempo após a saída do Egito. O povo reclama da falta de comida, e não obstante toda a demonstração de poder e cuidado que o Senhor realizara na saída do Egito, o povo esquece logo de Quem é Deus e do Seu imensurável poder, mas lembra-se das panelas de "carne" do Egito, e do pão "a fartar". O que é isso? Eu tenho chamado esse fenômeno de "mentalidade de escravo". Quem viveu como escravo muito tempo tende a conservar a forma de pensar, isto é, a mentalidade própria de um escravo, mesmo após receber a libertação. Note bem as características da mentalidade de escravo.
Aquele povo diz que sentava-se junto às panelas de carne. Mas escravos não comiam carne. O que comiam, de fato, eram os restos do animal abatido pelos egípcios, que comiam a carne e deixavam as vísceras e miúdos para alimentar os escravos. Eles também diziam que tinham pão a fartar, mas escravos egípcios nunca tinham "pão com fartura", tinham apenas pão todos os dias. Mas um escravo não consegue perceber que dois pães por dia e um punhado de tripas de animal não é uma refeição digna. Para alguém que nasceu escravo, isso é tudo que ele espera da vida, a ponto de sentir saudade do cozido de vísceras e do pão de escravos. A primeira característica da mentalidade de escravo é não conseguir dimensionar e discernir o que realmente significa dignidade. A segunda é dar-se por satisfeito com o que é próprio de escravos.
A saudade manifestada pelo povo também revela a terceira característica da mentalidade de escravo, que é preferir a sensação de "segurança" da escravidão em vez da experiência de liberdade que lhes custe algo. Sim, os israelitas estavam preferindo panelas de vísceras e pão no lugar da liberdade, só porque a liberdade traz consigo desafios e surpresas, fazendo-nos engolir a seco muitas vezes, e o friozinho na barriga vem junto. Escravos não querem essa sensação de "incerteza", eles preferem a "segurança" do pão. Mas homens livres preferem a liberdade a todo custo. Quem, em sã consciência, escolheria a escravidão?
Na vida espiritual acontece a mesma coisa. Jesus ensinou que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado (Jo 8.34). A mentalidade de escravo pode ser observada em muitas pessoas que, mesmo aparentando estarem libertadas do pecado, ainda pensam como quem vive no pecado. São pessoas que dizem estar libertas do pecado, dizem crer em Jesus, mas agem e mentalizam como escravos. Pessoas que não conseguem discernir a dignidade do Evangelho e fé em Cristo, e sentem-se confortáveis com uma fé medíocre e com as "panelas de vísceras espirituais" que o mundo lhes oferece. Preferem o pão do Egito ao Pão vivo que desceu do céu! Mesmo dizendo irmãos, alegando fé em Jesus, vivem preferindo os prazeres da carne do que a liberdade do Espírito de Deus, pois a liberdade do Espírito também traz consigo os desafios a nossa fé. Viver o Evangelho, em obediência a Cristo e guiados pelo Espírito Santo é desafiador e exige muito de nós, e aqueles que ainda têm a mentalidade de escravo têm medo disso, e recorrem à "segurança" do que a vista enxerga e do que as mãos conseguem tocar. Já os crentes realmente libertos por Cristo vivem pela fé e não se guiam por vista (IICo 5.7; Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.38). Livres são aqueles cuja liberdade vem de Cristo e Sua Palavra (Jo 8.32, 36), e não aqueles que estão simplesmente caminhando com os livres, como estavam aqueles israelitas. Ainda mais, livres são aqueles que se tornaram escravos de Cristo (ICo 7.22; Gl 1.10).
Agora, nos vem a pergunta: e nós? Somos de fato livres? Ou ainda temos a mentalidade de escravo? Temos a mente de Cristo, que pensa como um ser livre (ICo 2.16), ou a mente de um escravo do pecado? Somos escravos do pecado ou de Cristo? São boas perguntas para nossa reflexão pessoal...

Deus abençoe.