Livros de Teologia


quarta-feira, 4 de maio de 2016

O poder do perdão: Lições de José do Egito

Perdão é um assunto muito frequente na Bíblia. É uma das doutrinas elementares do cristianismo. É um dos temas mais falados nas igrejas. Mas, muitas vezes, como é difícil pratica-lo!
A história de José do Egito ensina uma grande lição sobre o valor e os efeitos extraordinários do perdão. O diácono Estêvão, fez um resumo da vida de José no sermão que antecedeu seu martírio, e que foi registrado no livro de Atos dos Apóstolos pelo evangelista Lucas:
"Então, lhe deu a aliança da circuncisão; assim, nasceu Isaque, e Abraão o circuncidou ao oitavo dia; de Isaque procedeu Jacó, e deste, os doze patriarcas. Os patriarcas, invejosos de José, venderam-no para o Egito; mas Deus estava com ele e livrou-o de todas as suas aflições, concedendo-lhe também graça e sabedoria perante Faraó, rei do Egito, que o constituiu governador daquela nação e de toda a casa real. Sobreveio, porém, fome em todo o Egito; e, em Canaã, houve grande tribulação, e nossos pais não achavam mantimentos. Mas, tendo ouvido Jacó que no Egito havia trigo, enviou, pela primeira vez, os nossos pais. Na segunda vez, José se fez reconhecer por seus irmãos, e se tornou conhecida de Faraó a família de José. Então, José mandou chamar a Jacó, seu pai, e toda a sua parentela, isto é, setenta e cinco pessoas. Jacó desceu ao Egito, e ali morreu ele e também nossos pais" (At 7.8-15).

O drama de José
O resumo de Estêvão sobre José diz que Deus o livrou de todas as “aflições”, mas não diz quais foram citando apenas que foi vendido pelos próprios irmãos (ele tinha apenas 17 anos! Gn 37), o que já seria suficiente para motivar rancor e ódio profundos. Se ser traído pelo melhor amigo que não nos escolheu para compor o time dele no futebol da hora do recreio na escola já nos provocou pensamentos nefastos, imagine ser traído pelos irmãos de sangue, e por inveja pura! Mas José também foi preso injustamente por não trair seu patrão Potifar cedendo às investidas de sua esposa infiel (Gn 39). Sofre as agruras da prisão egípcia por anos... até que Deus o tornasse governador de todo o Egito. Agora imagine uma cela de penitenciária? Não aquelas que vemos em filmes americanos em que tudo é limpinho. Aquelas brasileiras mesmo, com gente amontoada vivendo como sub-humanos. Qualquer que tenha sido a cena projetada na sua mente, a prisão egípcia era muito pior, e José esteve numa delas por anos.

O coração perdoador de José
Como você reagiria, no lugar de José, ao reencontrar os irmãos que lhe traíram, venderam como escravo e o separaram do amado pai? É muito fácil crer que a maioria esmagadora de nós veríamos, no reencontro, a “justiça” sendo feita, como se o “destino” nos servisse de bandeja a oportunidade de “lavarmos a honra” e nos vingarmos pelos anos de sofrimento, solidão e desprezo.
José, porém, não fez essa leitura da situação. Ele viu a oportunidade de rever o pai, de abençoar seu povo, e de perdoar seus irmãos. Quando os irmãos de José vieram lhe pedir perdão por todo o mal que lhe fizeram, ainda que motivados por medo da reação de José e não por arrependimento, José lhes disse: “Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida” (Gn 50.15-20). José antecipou o ensino do apóstolo Paulo: “não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o SENHOR” (Rm 12.19).

O poder do perdão

Guardar rancor e remoer as tristezas não fazem bem para ninguém. Na verdade, o mal que desejamos para o objeto do rancor atinge primeiro a nós mesmos! Como William Shakespeare escreveu: “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”. Há muita gente doente porque não consegue perdoar, estão presos ao círculo vicioso do ódio e sendo envenenados pela amargura que fincou raízes profundas em seus corações (cf. Hb 12.15). Além disso, pessoas rancorosas normalmente afastam os amigos e têm muita dificuldade em construir relacionamentos saudáveis e duradouros.

Temos de aprender a nos desprender da mágoa e ceder espaço para amor de Deus, que conduz ao perdão. Quando perdoamos estamos criando a oportunidade de um recomeço. Martin Luther King Jr. disse: "O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício". Quando perdoamos estamos reconhecendo que também carecemos de perdão, que também podemos falhar, que não somos perfeitos. E principalmente, manifestamos a graça de Deus que nos alcançou com Seu perdão restaurador: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o SENHOR vos perdoou, assim também perdoai vós” (Cl 3.13).

Deus o abençoe.

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