Livros de Teologia


sábado, 14 de maio de 2016

A sabedoria estava longe de mim...

Salomão é, depois de Jesus, o personagem bíblico considerado mais sábio. Sua sabedoria tornou-lhe famoso na sua época (Mt 12.42). Era entendido em muitos assuntos e conhecedor de várias ciências (Ec 1.13, 17). Ele mesmo descreve que chegou a pensar que havia sobrepujado em sabedoria todos os que vieram antes dele (Ec 1.16). No final do livro de Eclesiastes, ele diz que ensinou ao povo e registrou muito do seu conhecimento e sabedoria (Ec 12.9).
Mas, o que me chamou a atenção foi uma de suas declarações no meio do livro de Eclesiastes. Não há dúvida de que todo o esforço de Salomão rendeu-lhe conhecimento e sabedoria diferenciadas que se destacavam. Impressiona, entretanto, a conclusão de ele chega diante de tudo isso. Ele escreveu: "Tudo isto experimentei pela sabedoria; e disse: tornar-me-ei sábio, mas a sabedoria estava longe de mim. O que está longe e mui profundo, quem o achará?... Eis o que achei, diz o Pregador, conferindo uma coisa com outra, para a respeito delas formar o meu juízo, juízo que ainda procuro e não o achei... Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias" (Ec 7.23-24, 27-28a, 29).
Salomão descobriu que toda a sabedoria e conhecimento que havia acumulado era nada diante do que havia por conhecer, um grão de areia no oceano...
Quando penso que essa conclusão foi a obtida por ninguém menos que Salomão, filho de Davi, a única coisa que passa pela minha cabeça é a seguinte: quem sou eu para me julgar sábio? Quem sou eu para me julgar conhecedor de algo? No final das contas, não sabemos de nada! Ninguém sabe nada quando comparado ao mistério que é a verdade perfeita, o conhecimento de Deus! Só Deus, em Sua onisciência, sabe de tudo. Nós, pessoas humanas, sabemos muito pouco. Nadamos numa gotícula de orvalho, crendo estarmos mergulhados no Pacífico!
Uma vez ouvi de um mestre que "a meia verdade é pior do que a mentira, e o meio saber pior do que não saber". À época, eu não entendi o que quis significar. Hoje entendo que ele quis me ensinar que conhecer pouco e julgar que conhecemos muito faz mais mal que bem, pois enganamos a nós mesmos com a ilusão de que sabemos, quando não sabemos. Ser ignorante quanto a ignorância é a raiz da presunção e da petulância, enquanto a consciência da ignorância conduz à humildade. Se ao filósofo grego Sócrates (séc. V a.C.) é atribuído o axioma "só sei que nada sei", temos em Salomão (séc. X a.C.), que viveu cinco séculos antes, um reconhecimento parecido da limitação que caracteriza o ser humano.
Enfim, devemos reconhecer nossa falibilidade, nossa fragilidade, nossa ignorância. A verdade é que a sabedoria está longe! Mas, é o próprio Salomão quem incita a busca-la: "Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento" (Pv 3.13). "Quanto melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! E mais excelente, adquirir a prudência do que a prata!" (Pv 16.16). Salomão também aponta a fonte da sabedoria, orientando todo aquele que deseja tornar-se cada vez menos ignorante e mais sábio:
"se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento" (Pv 2.4-6).
Sejamos humildes o suficiente para admitirmos que não sabemos tudo, e que o que sabemos, se sabemos, é pouco. Mas continuemos a buscar a sabedoria em Cristo, pois "Nele estão escondidos todos os mistérios da sabedoria e da ciência" (Cl 2.3).

Deus abençoe.

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