Livros de Teologia


sábado, 4 de junho de 2016

Domínio próprio

"Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei" (Gl 5.22-23).

O domínio próprio faz parte do que o apóstolo Paulo denominou fruto do Espírito, virtudes do caráter de Deus que vão sendo impressas ao caráter do cristão verdadeiro ao longo da sua caminhada na fé. Mas o que é domínio próprio, chamado também em algumas versões bíblicas por temperança?
Confesso que gosto mais da tradução "domínio próprio" do que "temperança", embora reconheça que não há nenhum demérito no uso da segunda. Prefiro domínio próprio por crer que a expressão é mais adequada. Explico.
Temperança é comedimento, moderação, o que são virtudes obviamente ensinadas na Bíblia como pertinentes ao cristão (Fp 4.5; IITm 1.7), é agir e reagir na medida exata que exigem as circunstâncias. Daí não haver nenhum problema com o uso do termo.
Domínio próprio, entretanto, indica uma responsabilidade de dominar a si próprio, dominar nossos próprios impulsos, nossa própria natureza. É tomar as rédeas do próprio coração.
Enquanto isso, o homem sem domínio próprio é dominado pelos próprios desejos e impulsos. Sabemos que o coração do homem é desvairado e amotinado, não se submete ao senso e ao juízo do seu possuidor. E se já não bastasse, vivemos num tempo em que isso é louvado, aclamado, e ser guiado pelo próprio coração é incentivado e até prescrito. Quem nunca ouviu num filme hollywoodiano o conselho de alguém "sábio" dado ao personagem em conflito: "siga seu próprio coração. Ele lhe dirá o que precisa fazer"? "Ouça teu coração", é uma marca do individualismo e pluralismo dos tempos pós-modernos. Mas a Bíblia diz que esse caminho é extremamente perigoso, cheio de armadilhas e pura areia-movediça. Não se deve viver guiado pelos impulsos do próprio coração (Jr 17.9; Mt 15.18-19).
O discípulo de Jesus, todavia, não vive assim. Ele deve dominar-se! A Bíblia não ensina em lugar algum que os impulsos da natureza humana pecaminosa deixam de manifestar-se quando nos tornamos cristãos, mas insiste que eles devem ser mantidos sob custódia da escolha consciente e dirigida pelos ensinos de Jesus. O homem e a mulher cristãos ainda têm impulsos, desejos, sentimentos que não se alinham com a vontade de Deus, mas têm de dominá-los. E não é só os impulsos pecaminosos que devem ser dominados. O domínio próprio não dicotomiza entre "parte santa" e "parte profana" do ser, mas é simplesmente o domínio de si, na inteireza do ser. Por exemplo, comer é um desejo e impulso natural sadio, criado por Deus e até agradável ao Seus olhos, mas a glutonaria é condenada como um excesso, um descontrole que deve ser combatido. O domínio próprio não deve atuar sobre o desejo de comer, e não sobre a glutonaria somente.
Todos nós sofremos dia a dia com os impulsos de nossa natureza humana. A diferença está no fato de quanto domínio temos sobre nós mesmos. Quem manda em quem? Eu sou domado pelos impulsos ou eu os domino? Eis a questão!
E ainda devemos pensar mais longe. Impulsos biológicos e naturais que levam alguém a executar inconscientemente atos que parecem adequados às necessidades de sobrevivência própria ou da espécie é o que chamamos de instinto. O instinto é impensado, independente da razão, da escolha. Quando um ser humano vive sem dominar-se, dirigido pelos próprios desejos e impulsos, ele está vivendo instintivamente. Um dos grandes fatores que diferenciam os homens dos animais é justamente que seres humanos não se orientam unicamente por instintos, mas por escolhas, por decisões. Se alguém vive sem dominar-se, vive instintivamente, e portanto está num processo de desumanização. Mas, na medida em que alguém desenvolve o domínio de si, humaniza-se. Se o pecado desfigura a imagem e semelhança de Deus no homem, e a obra de Cristo sendo formado em nós vem restaurar essa imagem e semelhança, este homem alvo da obra de Cristo deve passar a guiar-se não mais pelos instintos e impulsos, mas por escolhas que glorifiquem a Deus! Quando melhor cristão, mais humano!
E você? Tem se dominado? Como você tem vivido com os impulsos de sua natureza?

Deus abençoe.

Um comentário :

  1. Muito obrigado! Bem explanado o assunto. Estava precisando desse devocional.

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