Livros de Teologia


quarta-feira, 15 de junho de 2016

O valor da comunhão

"Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta" (Mt 5.23-24).

Nestes pequenos dois versos do Sermão do Monte, como é conhecido o ensino de Jesus dos capítulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus, encontramos algumas lições preciosas sobre o valor da comunhão entre os irmãos. Primeiramente é bom saber que o termo "teu irmão" no Evangelho de Mateus é usado somente com relação aos que pertencem ao círculo cristão, de discípulos de Jesus. Portanto, Jesus tem em vista Seus discípulos quando diz estas palavras.

Conduta é mais importante do que liturgia e culto formal
Tasker, ao comentar estes versos, observa que "Deus não quer receber ofertas de cristãos que não estejam em paz entre si"[1]. Dizer que conduta é mais importante que liturgia e culto formal não diminui a importância da liturgia e do culto em si, mas apenas estabelece uma prioridade, pois o culto e sua liturgia não serão aceitos por Deus se a comunhão estiver comprometida.
A Igreja é a coletividade daqueles que submeteram-se a Cristo como seu Senhor pessoal crendo Nele como seu Salvador. Na Igreja, composta de gente, e gente imperfeita, atritos e desgastes são comuns. Em qualquer grupo de pessoas que convivem juntas, enquanto estiverem neste mundo e condicionadas às imperfeições da natureza humana terrena, estes desgastes existirão. Ajustes e cuidados são continuamente necessários para cultivar a harmonia e a comunhão entre os irmãos cristãos. Daí a ênfase que Jesus sempre colocou sobre a comunhão e o perdão entre os Seus discípulos (Mc 11.25; Jo 13.35; At 2.42; Cl 3.13).
Não é agradável a Deus o culto e a adoração prestados por aqueles que, cientes de que algum irmão tem algo contra ele, não buscaram primeiro a reconciliação. Note também que Jesus não diz "se tiverdes alguma coisa contra teu irmão", mas "teu irmão tem alguma coisa contra ti"; isso é proposital, pois Jesus quer mostrar que não é só quando somos ofendidos que devemos buscar reparação na relação, mas também quando ofendemos. Não depende de quem tem razão ou culpa, a reconciliação deve ser buscada sempre. Se meu irmão tem algo contra mim, e eu sei disso, devo dar a iniciativa na reconciliação, e não ficar investigando culpados e estabelecer um tribunal para julgar quem tem razão, mas simplesmente agir pelo bem da paz (cf. vs. 25-26).

A relação com Deus não está isolada da relação com os irmãos
Outra lição valorosa sobre como Deus vê a comunhão cristã é que Deus não isola Sua relação conosco das nossas relações humanas. Minha relação com Deus tem a ver com minha relação com próximo. Se não busco reconciliação com irmãos e cultivar a comunhão com eles, a comunhão com o Senhor também sofrerá consequências. Aos olhos de Deus não há dicotomia entre vida religiosa (relação com Ele) e vida secular (relação entre os homens). Um exemplo muito apropriado que pode ser dado aqui é um ensino do apóstolo Pedro na sua primeira carta, leia com atenção: "Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações" (IPe 3.7). Percebe que Pedro está dizendo que até a vida conjugal tem implicações na relação com Deus? Se sou um marido bruto, indelicado e deixo de reconhecer a natureza feminina de minha esposa, logo minhas orações - minha relação com Deus - podem ser interrompidas.
Simplesmente não há como negar, nossa relação com o próximo tem a ver com nossa relação com Deus.

Se, ao pensar em Deus e adora-Lo, algum irmão cuja relação está com problemas vier à mente, melhor é que se interrompa a adoração e busque logo a reconciliação. Se isso não é possível de imediato, na primeiro oportunidade dê a iniciativa e busque a restauração da comunhão, pois se Deus não encontrar em nossos corações o desejo pela comunhão e em nossas mentes a firme decisão de zelar por ela, então não aceitará nossa adoração, que tornar-se-á apenas perda de tempo.
E aí? Veio alguém à tua mente? Corra lá, reconcilie-se!

Deus abençoe.
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[1] Tasker, R. V. G. Série Cultura Bíblica: O Evangelho Segundo Mateus: introdução e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 1980, p. 55.

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