Livros de Teologia


terça-feira, 7 de junho de 2016

Não tomarás o Nome do Senhor em vão

"Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão" (Ex 20.7).

Tomar o nome de Deus em vão. O que é isso, afinal de contas?
Ouve-se frequentemente que tomar o nome do Senhor em vão é pronunciar o título "Deus", ou um dos Seus nomes-título revelados na Bíblia, como Iavé (ou Jeová), Altíssimo, Todo-Poderoso, e até o nome de Jesus, sem propósito adequando, de forma impertinente, caracterizando irreverência e até, quem sabe, blasfêmia.
É óbvio que o terceiro mandamento inclui também uma proteção zelosa sobre o(s) nome(s) de Deus, pois nota-se claramente que a tônica dos dois primeiros mandamentos, que cuidam da exclusividade no relacionamento espiritual, é distinguir o Senhor de Israel dos demais falsos deuses dos povos pagãos. Faz sentido, então, citar uma cláusula de proteção ao nome que identifica esse Deus verdadeiro usado para diferencia-Lo dos demais deuses.
Quero, porém, pensar além da simples pronúncia dos nomes e dos títulos de Deus. Acredito que, apesar da importância do modo correto de invocá-Lo, há ainda um sentido mais profundo para o mandamento de não tomar Seu Nome em vão.
Nos tempos bíblicos, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, o nome representava a própria essência da pessoa. É algo muito enraizado na cultura oriental semítica a questão do nome, tanto que Deus trocou o nome de alguns homens e mulheres após experiências marcantes que mudaram o rumo de suas vidas. Tendo isso em mente, acredito que o terceiro mandamento, que é proibitivo, trata de uma outra forma de "tomar o nome" de alguém. Vejamos.
O verbo usado não é "dizer" o nome, ou "pronunciar" o nome, mas "tomar" o nome. Creio que tomar o nome do Senhor significa assumir o nome Dele como se Ele fosse o meu Deus. Por exemplo, no famoso versículo de IICr 7.14 Deus se refere ao Seu povo assim: "Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar...". O profeta Isaías registrou as palavras Dele assim: "a todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz" (Is 43.7). Aqui vemos que o nome de Deus é usado para identificar aqueles que são Dele. O Novo Testamento ainda usa também esse conceito de "tomar o nome" de Deus para identificar o povo. Quando Jesus indica que os sofrimentos que o apóstolo Paulo passaria na vida após sua conversão seriam todos para glorificá-lo, Ele diz: "pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome" (At 9.16). Ao se dirigir à Igreja de Pérgamo, Jesus também lhes diz: "Conheço... que conservas o meu nome e não negaste a minha fé..." (Ap 2.13). Todos estes versos bíblicos são exemplos de que "tomar o nome" de Deus é identificar-se com Ele e com Seu povo. Daí, quando o terceiro mandamento diz que não devemos "tomar o nome" do Senhor em vão, entendo que diz algo como "não aleguem fazer parte do meu povo, daqueles que me adoram e me obedecem, que são chamados pelo meu nome, de forma vã, sem que isso seja verdade na vida de vocês". Em outras palavras, creio que tomar o nome do Senhor em vão é, hoje em dia, dizer-se cristão, usar o nome de Cristo e da Igreja, mas viver de modo indigno do Evangelho e do nome de Cristo, de modo descompromissado com a Igreja e a obra de Deus; é tomar para si o nome de Deus, mas viver sob outro senhor (cf. Mt 6.24; ICo 5.11). Esse é um pecado gravíssimo, dizer-se irmão na fé, mas viver fora da fé. E o mais triste é que não é raro encontrar pessoas que se enquadram na descrição que Paulo faz do homem dos últimos dias, que aparentam piedade, mas a negam diariamente com a própria vida (IITm 3.5); estes são os que tomar o nome do Senhor em vão.
Logo, percebemos que o terceiro mandamento é muito mais exigente do que simplesmente uma questão de ocasião para pronunciar títulos de Deus. O terceiro mandamento é questão de viver uma vida digna do nome de Deus, identificando-se com o caráter Dele e sendo guiado por Ele. Tomar o nome de Deus é ser considerado parte do povo de Deus, alguém que vive para o Seu agrado, tendo Sua Palavra como luz para o caminho e lâmpada para os pés, respeitando e honrando os irmãos na fé e zelando pelo nome do Senhor diariamente.
E nós? Temos tomado o nome do Senhor em vão ou temos vivido de modo digno Dele?

Deus abençoe.
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* A gravura que ilustra esta postagem é do filme "Os Dez Mandamentos" (original: The Ten Commandments), de 1956, dirigido por Cecil B. DeMille e estrelado por Charlton Heston no papel de Moisés. Direitos da Paramount Pictures.

2 comentários :

  1. Maravilha Pastor, nunca havia pensado desta forma! Essas reflexões têm abençoado muito minha vida! Obrigada! Sueli

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    1. Sueli, que alegria saber que tem sido abençoada com os textos. Fico muito feliz com isso. A Deus toda glória! Deus abençoe.

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