O justo, árvore junto às águas |
"Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa. Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos. Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá" (Sl 1.1-6).
Segundo a Bíblia toda a humanidade está dividida, aos olhos de Deus, em dois grupos de pessoas, os justos e os ímpios.
No Antigo Testamento, justo é uma designação comum para referir-se aos que vivem em comunhão pessoal com Deus e obediência aos Seus mandamentos. Apesar de falhas, as pessoas chamadas de justas no Antigo Testamento apresentam sempre um caráter íntegro e suas vidas foram caracterizadas pela equidade e humildade, sempre após experiência marcante com Deus, que provocou mudanças profundas em suas vidas. Notável é o fato de a Bíblia não encobrir os pecados dos justos, mas expô-los. Isso mostra que os justos, aos olhos de Deus, não são absolutamente perfeitos. Todavia, todos os justos são pessoas quebrantadas, que têm facilidade de chegar ao arrependimento verdadeiro quando confrontados com as próprias mazelas expostas pela Lei de Deus. O primeiro homem a ser chamado de justo na Bíblia foi Noé (Gn 6.9).
Já os ímpios são os que não são piedosos, ou seja, incrédulos e indiferentes aos assuntos espirituais, que desprezam a Palavra de Deus e vivem segundo seus próprios juízos, orientados por uma ética e moralidade próprias e alheias aos princípios e valores de Deus.
O salmo primeiro, lido na íntegra acima, alerta o justo sobre a má influência dos ímpios e calca sua exortação na distinção entre ambos.
No verso 1 o alerta do salmista é sobre a gradação da influência que incrédulos podem provocar sobre os crentes. A progressão é evidente: anda, se detém, e então se assenta. O cristão não deve "andar" no conselho de ímpios, pois seus conselhos são baseados em fontes não bíblicas, que não apresentam os valores de Deus e, portanto, quase sempre estarão desalinhados com a vontade de Deus. Mas, se ignorarmos este alerta e começamos a aceitar conselhos ímpios, logo nos pegaremos detidos nos seus caminhos, fazendo e pensando as mesmas coisas, conformados aos seus pecados como se fossem coisas "normais" e que "não tem nada a ver", expressão que sempre se ouve daqueles que, neste estágio da má influência, são confrontados e alertados do perigo. Daí, estaremos prontinhos para o próximo passo da impiedade, que é o escárnio das coisas santas. A roda dos escarnecedores é o modo de vida que zomba, que caçoa da santidade e dos santos, que desdenha e menospreza tudo que aponta para Cristo e a Igreja, é o sarcasmo religioso adotado como religião. Percebeu o terrível caminho trilhado pelos incautos e descuidados até a completa apostasia??? Bem já diz o ditado popular: "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Salomão também escreveu: "Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro dos insensatos se tornará mau" (Pv 13.20).
O ímpio, palha dispersa ao vento |
O justo é diferente do ímpio, pois seu prazer está na lei do Senhor, na Sua Palavra. Ela é quem dá ao justo o norte para viver a vida. Ela é quem diz que tipo de pessoa devo ser, qual é a vontade de Deus. Vivendo sob a Palavra de Deus, o justo é bem sucedido em tudo o que faz. A expressão que Davi usa no verso 4, "Os ímpios não são assim", é muitíssimo significativa. Eles simplesmente não são como os justos. Eles não têm prazer na Bíblia, nas coisas de Deus. Normalmente encontram prazer justamente em burlá-la, em práticas que afrontam o Senhor e os valores bíblicos. O justo tem prazer na Bíblia, o ímpio em estar longe dela. Por isso, são comparados por Davi à palha que o vento dispersa[1], sem raízes firmes, pois não estão "presos a nada" e creem desfrutar de uma "liberdade" para fazerem o que quiser. Já os justos fincaram raízes na Palavra de Deus e estão submissos às orientações do seu Deus e Senhor. A segurança dos justos vem das raízes que estão plantadas junto às correntes de águas da Palavra de Deus, enquanto os ímpios são levados pelo vento, sem rumo e sem direção.
Os dois últimos versículos do salmo informam que, tão grande quanto a distinção entre justos e ímpios durante a vida, é também distinto o destino eterno dos dois. Os ímpios não prevalecerão no juízo e nem na congregação dos justos, ou seja, não farão parte do grupo daqueles sobre quem não há mais condenação (Rm 8.1). Os justos, por causa da justiça de Cristo que lhes fora imputada pela fé, passarão pelo juízo e prevalecerão (Rm 5.1), enquanto os ímpios sucumbirão diante do Justo Juíz, pois Ele conhece os caminhos, tanto dos justos quanto dos ímpios.
A verdade é que só há esses dois caminhos: o dos justos e o dos ímpios. Não há outra possibilidade. Leia Mt 7.13-14 e veja que Jesus ensina que só há o caminho da vida e o caminho da perdição. O que importa agora é perceber que caminhos estamos trilhando. Em que grupo Deus nos encontra quando olha para nós, no dos justos pela fé em Cristo ou no grupo dos ímpios?
Para alguém tornar-se um justo deve arrepender-se dos pecados, da vida ímpia, e entregar-se sem reservas ao Único Verdadeiramente Justo, que foi dado pelos injustos (IPe 3.18), Jesus Cristo. Fazendo isso sinceramente e procurando agora a viver a vida na comunhão dos justos e na santificação pela Palavra de Deus somos justificados pela fé, em desfrutamos então de paz com Deus.
Deus abençoe.
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[1] O termo palha usado pelo salmista parece indicar um tipo específico de planta comum no oriente antigo, muito parecida com as tumbleweeds americanas, aqueles arbustos secos que rolam ao vento nos desertos e lugares remotos, muito vistas em filmes, principalmente da época do "velho oeste".
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