Livros de Teologia


segunda-feira, 13 de junho de 2016

Que Ele cresça, e eu diminua!

"Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor. O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. Convém que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3.28-30).

As palavras transcritas acima foram ditas por João, o Batista, quando questionado sobre Jesus, "aquele de quem dava testemunho". Os discípulos de Jesus começaram a batizar pessoas sob Sua orientação e as pessoas iam ao Seu encontro. Preocupado com "a concorrência", um dos discípulos de João Batista, que batizava no rio Jordão, comunica-lhe o fato, talvez na expectativa de que seu mestre adotasse alguma medida estratégica para conter a "migração" de seus fiéis para o novo ministério de Jesus, o nazareno. Mas, ao contrário, a resposta de João diverge das expectativas humanas sobre a situação.
A primeira coisa que João manifesta ao receber a notícia de que o ministério de Jesus está crescendo é alegria. Ele diz, "pois esta alegria já se cumpriu em mim", referindo-se à alegria de saber que o noivo está presente, e tem recebido a Sua noiva, a Igreja. Daí, a declaração final de João, sintetizando toda a sua alegria, esperança e fé, de que "convém que ele cresça e que eu diminua". Ah, que conclusão essa a que João chegou!
João trabalhou muito para projetar seu ministério de batizador no rio Jordão. Para começar, seu nascimento foi um milagre extraordinário, pois sua mãe, Isabel, era estéril, e ainda por cima ambos os pais eram já de avançada idade quando foi concebido após revelação de Deus sobre seu nascimento e ministério (Lc 1.5-23). João também não teve uma preparação fácil para o ministério, pois viveu um tempo no deserto, alimentando-se de mel silvestre e gafanhotos, e vestindo roupas de pêlos de camelo (Mt 3.1-5). Mas, depois de uma vida inteira de trabalho, vê agora as pessoas, pouco a pouco, deixando seu trabalho para seguir o novato mestre, recém batizado por ele, que deu início ao próprio ministério. Normalmente, de uma perspectiva totalmente humana e honesta, João deveria estar enciumado; no mínimo, chateado; mas, não é o que vemos. Vemos, entretanto, João reconhecendo que Aquele que aparenta ser uma concorrência, na verdade, é a razão de todo o trabalho que desempenhou até agora. João reconhece que Jesus é o Cristo, e que toda a sua própria vida e esforço e abnegação eram próprios de um "precursor" desse Cristo. Não há um pingo sequer de inveja, de cobiça, de despeito em João com relação a Jesus; pelo contrário, João se alegra com o crescimento do nome de Jesus. Não só se alegra, mas reconhece que convém que Jesus absorva totalmente seu trabalho e cresça, até que ele próprio, João, "saia de cena".
E nós? Quando aparentemente somos diminuídos pela glória e honra que, ao invés de vir até nós para coroar todo nosso esforço e dedicação, segue direto até Jesus, sem sequer fazer com que nosso nome apareça nos créditos do final do filme? E quando Jesus reclama para Si, por direito, a honra e glória que todo nosso trabalho produziu? Ficamos tristes? Ficamos desanimados? Ou ficamos alegres como João, por lembrar que convém que Ele cresça? Ah, entendi! O problema não é "que Ele cresça". O problema está no "que eu diminua". Jesus crescer não é problema, a dificuldade está na diminuição que pode sofrer nossa própria glória e honra, a diminuição do reconhecimento de todo "o excelente trabalho das nossas mãos"... Quanta gente chateado, emburrado, ferido dentro das Igrejas por que "o pastor não citou meu nome", "ciclano não falou de mim nos agradecimentos", etc... Sejamos sinceros: nosso ego muitas vezes não quer diminuir! Ele tem uma dificuldade tremenda de ver-se diminuído...
Eu acredito, piamente, que essa qualidade do caráter de João Batista foi que levou Jesus, depois de um tempo, a declarar sobre ele: "E eu vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele" (Lc 7.28). João não escreveu nenhum livro, João não fez nenhum milagre que saibamos, João não foi carismático e eloquente, mas João sabia diminuir-se para que Cristo cresça!
Seu nome foi lembrado? Seu nome foi citado nos agradecimentos? Honra foi-lhe dada por algum trabalho no Reino de Deus? Que bom, mas tome cuidado para não esquecer que é Ele Quem deve crescer! Cuidado para que não "desaprenda" a diminuir-se! Cuidado com o orgulho e a vaidade, pois estes venenos têm corrido pelas veias de muitos que amaram mais a glória dos homens do que a de Deus (Jo 12.43; ITs 2.6). Há muitos que, quando deveriam aprender a diminuir, buscam ter a primazia (IIIJo 9).
Dá gosto estar com gente que sabe diminuir-se. Não diminuir-se em comiseração e autopiedade. Não o falso diminuir-se, que falseia uma "humildade" fajuta na frente dos outros, mas lá dentro do coração ama de paixão a glória, quanto mais pomposa melhor, que ama os aplausos e os holofotes. Não a demagogia dos que esperam que outros reconheçam e fiquem condoídos da sua "tão grande humildade". Não, mas diminuir-se para que Cristo cresça! Dá gosto testemunhar a alegria no olhar, no sorriso, no semblante daqueles que gastam e se deixam gastar para que o Nome bendito de Jesus e Sua glória cresçam!

Glórias sejam dadas a Deus, pela vida dos que sabem diminuir-se! Quero aprender a ser um destes!
A Deus, Senhor de tudo e de todos, o Qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos (Ef 4.6), seja a glória, o domínio, a majestade, o poder, a honra, para todo o sempre!!!

Deus abençoe.
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* A fotografia que ilustra esta postagem é do ator Michael York, que atuou como João Batista no clássico Jesus de Nazaré, de Franco Zeffirelli, de 1977.

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