Livros de Teologia


terça-feira, 31 de maio de 2016

Frutifique onde está plantado

"Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la" (Lc 13.6.9).

No Antigo Testamento a vinha era uma figura que representava Israel, bem como a figueira (Is 5.1-7). Plantar árvores frutíferas no meio da vinha também era um costume muito comum, daí a fonte da parábola de Jesus.
O fato de a figueira estar plantada dentro da vinha nos leva a crer que ela estava plantada em solo fértil, e que não havia um motivo para sua esterilidade no solo. Como o dono procurava frutos já por três anos consecutivos vemos que ele esperava, normalmente, que a figueira produzisse de acordo com a estação comum das figueiras, mas não encontrava nada. O dono da vinha aqui é claramente Deus, o Pai, que busca no meio do Seu povo os frutos que deveriam produzir.
Os frutos que Deus espera que Seu povo produza são o coração e atos que expressem um verdadeiro arrependimento dos pecados (cf. Lc 3.8) e conformação com os mandamentos e ensinos do Senhor. Fruto também indica que Deus espera que Seu povo seja fértil, ou seja, que gerem novos crentes em Cristo, pois o fruto significa a continuidade da vida e a multiplicação da espécie (Jo 15.1ss).
O viticultor que intercede pela figueira é uma representação de Jesus, que intercede pela Igreja (Hb 7.25).
O propósito da parábola é exortar sobre a necessidade de arrependimento e alertar sobre o tempo disponível para isso, que está se acabando. O dono só prorrogou a sentença contra a figueira pela intercessão do viticultor, que se propôs a eliminar toda e qualquer obstrução à fertilidade da figueira, escavando ao seu redor para tirar plantas daninhas e adubando-a com estrume. Aprendemos, aqui, que tudo o que for necessário para que Igreja seja frutífera é providenciado por Jesus. Não há, portanto, qualquer argumento válido para justificar a esterilidade espiritual.
Mas, até mesmo o viticultor que intercede pela figueira reconhece que o caso é grave e que, se a figueira permanecer sem frutos, não haverá mais o que fazer. O dono procurou os frutos e não os encontrou, e seria improvável que desse frutos no futuro, daí mandar cortá-la. A intercessão do viticultor ganhou tempo, mas admite que cabe ao Pai o direito de mandar cortá-la se não vier a dar frutos no futuro (vs. 9).
No final das contas, a aplicação da parábola é que Deus também nos plantou no lugar onde estamos. Você está plantado onde vive, e Deus espera que dê frutos. Se algo o impede de dar frutos onde está plantado, não é por falta de providência de Deus, pois todo o abudo está à disposição (que é, obviamente, o poder e unção do Espírito Santo).
Não há desculpas, temos de frutificar! Mesmo nos lugares e situações mais improváveis é esperado que sejamos frutíferos (vide a ilustração do mamoeiro aqui). É perigoso não se preocupar em dar frutos para Deus, pois o tempo não pára, e está passando a cada segundo. O tempo de frutificar é finito!
Floresça, frutifique, onde quer que seja!
Tenhamos pressa em gerar filhos na fé para Jesus!
Que Ele sempre encontre, em nós, os frutos de um coração verdadeiramente arrependido!

Deus abençoe.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

O vento sopra onde quer...

"A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito. Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? Acudiu Jesus: Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?" (Jo 3.3-10).

Na conversa noturna com o interessado Nicodemos Jesus usa duas analogias para ensinar sobre a salvação. Ele a compara com um novo nascimento e com a ação do vento. Vou me deter, aqui, na segunda, conforme o verso oito em destaque acima.
Há um detalhe muito interessante da língua grega e hebraica sobre as palavras usadas para se referir ao vento/sopro/espírito. Elas são as mesmas, tanto em grego quanto em hebraico. Em grego a palavra pneuma significa exatamente vento, sopro ou espírito. Em hebraico, ruah é a palavra que tem o mesmo significado. Portanto, quando Jesus diz que "o pneuma sopra onde quer... assim é todo o que é nascido do pneuma", ele faz um jogo de palavras muito didático para o ouvinte, que conhecia essa colocação que já era usada no Antigo Testamento. Na tradução para a língua portuguesa foi usado, corretamente, "vento" na primeira ocorrência (pois só ele pode ser ouvido) e Espírito na segunda ocorrência, pois o contexto força essa interpretação. Nas versões em língua inglesa as palavras "wind" é usada na primeira e "Spirit" na segunda, como nas traduções portuguesas (das que pude consultar, pelo menos). Mas, apesar da tradução ser correta, perdemos o jogo de palavras usado por Jesus, infelizmente...
De qualquer modo, qual o significado desta analogia? Por que os nascidos do Espírito, ou seja, os verdadeiramente nascidos de novo, são comparados ao vento?
Eu acredito que mergulhar mais fundo neste uso das palavras gregas traria muitos benefícios para nossa vida, mas não é meu propósito aqui por razões óbvias. Mas, podemos pensar na analogia em si.
O vento pode ser ouvido, mas não se sabe de onde vem nem para onde vai. Até a meteorologia não consegue precisar essas coisas com perfeição. Mas o que Jesus quer deixar claro para Nicodemos é que o vento não pode ser controlado. Você percebe seus efeitos, como o som, mas não pode determinar sua origem, nem definir seu destino. O vento não pode ser domado ou domesticado. Assim, o propósito da analogia é ensinar que todo aquele que nasce de novo, convertendo-se a Jesus, não pode domar o Espírito de Deus que agora nele habita, mas deve, sim, ser controlado por Ele. O Espírito de Deus, que lhe concedeu a nova vida, deve ser o dirigente dessa nova vida, e não o contrário.
Outro ensino que extraímos do verso é que só podemos perceber os efeitos do Espírito na vida do nascido de novo, mas não conseguimos determinar como Ele agirá ou que efeitos produzirá. Jesus está, aqui, convidando Nicodemos e se render ao domínio e ação do Espírito Santo, ao invés de tentar controlá-lo ou produzi-lo.
O apóstolo Paulo compreendeu muito bem isso quando escreveu: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus" (Rm 8.14). E ao ensinar sobre os dons do Espírito escreveu: "Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente" (ICo 12.11). A conclusão é lógica aqui. Se não sou guiado pelo Espírito, então não sou filho de Deus, não nasci de novo, não me converti de verdade, não estou salvo do pecado e seus efeitos destruidores e, portanto, continuo condenado à perdição eterna.
E você? É guiado pelo Espírito de Deus? Como está sua relação com Ele? Fica a reflexão que deve ser feita periodicamente...

Deus abençoe.

domingo, 29 de maio de 2016

Acautelai-vos dos homens

"Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas" (Mt 10.16-17).

A advertência de Jesus aos seus discípulos no texto acima é surpreendente. Ele não esconde, ou sequer disfarça, o fato de que os cristãos são enviados ao mundo incrédulo como ovelhas para o meio de lobos, como presas diretamente colocadas no meio da alcateia voraz de predadores sanguinários. Prudência e integridade são as virtudes que servirão ao cristão de proteção neste ambiente tenebroso.
Mas a expressão acautelai-vos dos homens é nosso foco aqui. Jesus diz com todas as letras que devemos ter cautela, que é uma precaução para evitar dano, transtorno ou perigo, na relação com as pessoas, neste caso, as incrédulas.
Jesus está persuadindo seus discípulos a não confiar precipitadamente nas pessoas. Se você parar para refletir e analisar com calma, uma parcela considerável dos problemas enfrentados pelas pessoas teve origem na confiança precipitada. Pessoas que confiaram demais, sem avaliar adequadamente o caráter e as circunstâncias, e se deram muito mal com isso. Isso pode acontecer por ingenuidade, uma carência de um certo grau de maturidade que a vivência pode trazer ao indivíduo, ou que poderia ter sido aprendida pelo conselho de pessoas mais vividas. Mas, na maioria das vezes, não é a ingenuidade que conduz ao erro, mas a afobação; pessoas impacientes que se precipitam em tomar decisões e fazer julgamentos irrefletidos e irresponsáveis, que ignoraram completamente o bom senso e o comedimento, e sucumbindo à pressa agiram sem ponderar adequadamente.
Comumente nos deparamos com gente embaraçada com problemas dessa natureza. Não se acautelaram dos homens, e agora amargam as consequências das escolhas que fizeram. Muitas vezes é comum ouvir: "Agora eu vejo isso, na época eu não vi" ou coisas como "Eu agi por impulso. Não parei para pensar direito, apenas fiz". Agora, não adianta chorar o leite derramado. Só resta lidar com os problemas, procurando solucioná-los da melhor maneira, com os menores danos e sequelas possíveis, e aprender com a experiência.
Ah, mas aqui surge outro problema. A grande maioria das pessoas não aprende com essa experiência. O que acontece é que, em vez de passarem a fazer um julgamento mais maduro no futuro, tornam-se pessoas melindrosas, desconfiadas, amargas, que veem sempre o pior das pessoas, chegando às raias da paranoia[1]. O problema é que toda essa desconfiança não implica num julgamento melhor, mas quase sempre estraga novas oportunidades de bons relacionamentos.
As relações humanas, desde que o pecado entrou na história, sofrem com a inaptidão e defasagem da capacidade de julgamento do ser humano, que agora recebe influência de aspectos negativos da natureza humana pecaminosa. Vícios como perversidade, crueldade, ganância, cobiça, licenciosidade, e coisas semelhantes a estas, estão muitas vezes ativas nas interações humanas, principalmente daqueles que ainda não foram regenerados pela ação do Espírito Santo em seus corações e mentes. Daí a necessidade de Jesus alertar acautelai-vos dos homens.
Tome mais cuidado ao se relacionar. Escolha melhor quem serão suas influências e seus amigos. Redobre o cuidado com aqueles que não servem a Jesus de todo o coração, e busque aprender com os que dão prova de dedicação ao Senhor. Um simples exemplo disso tudo é a enorme influência que as "celebridades" exercem sobre a maioria das pessoas. Não se permita ser um maria vai com as outras, fazendo e sendo coisas por influência de "personalidades" famosas e celebridades que não servem de modelo para o povo de Deus; em muitos casos essas "celebridades" são dignas apenas de compaixão e oração diante da vexatória e infeliz vida que vivem. Adote um estilo mais adequado à fé que professa, ao invés de adotar um fé mais adequada ao estilo do seu ídolo. Adote um estilo mais adequado ao Senhor que você serve, ou descobrirá que está servindo a outro senhor.
Enfim, aprenda com Jesus. Acautele-se dos homens, viva prudente e integramente.

Deus abençoe.
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[1] Paranoia é um termo utilizado por especialistas em saúde metal para descrever desconfiança ou suspeita altamente exagerada ou injustificada.

sábado, 28 de maio de 2016

O Deus que sente

"Jesus chorou" (Jo 11.35).

Este é um dos menores versículo da Bíblia, mas de uma importância colossal. Saber que Jesus é tão sensível é, ao mesmo tempo, uma notícia triste e alegre, um misto de ruim com bom. Triste, porque ficamos sabendo que mesmo Jesus, o perfeitamente bom, caridoso, amável e gentil Jesus, derramou lágrimas de pesar e dor. Alegre, porque ficamos informados de que nosso Salvador não é uma estátua fria, um bloco de mármore sem coração, um ser distante, completamente alheio aos dramas do nosso caótico mundinho. Ruim, porque somos confrontados com a realidade de que fizemos Deus chorar. Bom, porque sabemos que Ele se importa! O versículo 33 apresenta as razões do choro de Jesus: "Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se". Sim, Jesus agitou-se no espírito e comoveu-se. Ele se comove! Seu espírito se agita diante do sofrimento!
Fico constrangido com esse versículo. Constrange-me pensar que eu posso fazer Deus chorar. No texto do Evangelho de João citado acima Jesus chora por causa do luto e do pranto de amigos e familiares diante do túmulo de Lázaro, seu amigo pessoal. Jesus pousava na casa daquela família sempre que passava pela cidade de Betânia. Aliás, já imaginou hospedar Jesus em sua casa? Você acorda para fazer um cafezinho e se depara com Jesus dormindo no quartinho de visita! Que coisa! Já pensou se Ele acorda primeiro e faz o café pra você? Meu Deus! Hospedar humildemente nada mais, nada menso, que o Criador de todas as coisas, Aquele que é o alfa e o ômega, o princípio e o fim, Aquele em quem todos os mistérios da ciência e da sabedoria estão escondidos (Ap 22.13; Cl 2.3). Mas aquela família experimentou isso em diversas ocasiões. E essa família amiga estava extremamente triste, angustiada. As irmãs Marta e Maria sofriam com a perda do irmão e provedor do lar. E Jesus chorou por isso. Ainda que Jesus tenha chorado, no texto, pelo luto, creio que Jesus chora também sempre que sofremos com a desesperança, como aquelas irmãs. Sempre que o pecado rouba-nos a fé e a esperança, creio que entristecemos o coração sensível do Mestre; e isto me constrange profundamente.
O pequenino verso também é uma fonte tremenda de esperança. Nosso Senhor é alguém que não se esquiva dos sentimentos dolorosos, muito pelo contrário. Ele conhece a dor, a saudade, a perda, a angústia, melhor do que qualquer outra pessoa. Ele foi perfeitamente bom, mas experimentou a solidão, o abandono, o luto... É por isso que o autor da epístola aos Hebreus escreve tão confiantemente: "Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (Hb 4.15) e ainda mais: "Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados" (Hb 2.18) e ainda "Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu" (Hb 5.7-8).
Jesus conhece nossa dor. Ele sabe que sofremos e é solidário ao coração angustiado. Conhece os temores mais terríveis da alma e provou da vileza humana em seu mais alto grau, e Seu corpo experimentou a sórdida barbárie da mais horrenda maldade dos homens. Na cruz foi desprezado, humilhado, abandonado, e exposto à ignomínia e opróbrio. Riram Dele, zombaram Dele. Cuspiram Nele e O expuseram à vexame. Saboreou o amargor do ódio e bebeu do fel da intolerância. Foi traído, rejeitado pelos seus, moído pelas nossas transgressões. Foi homem de dores e que sabe o que é padecer... Leia cuidadosamente o capítulo 53 do livro do profeta Isaías, e você terá um vislumbre do que Ele passou por amor do Seu Nome e de nós. Acredito que é por isso que Ele fez questão de prometer que, no céu, "enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram" (Ap 21.4).
Sim, Jesus chora! E não é sem motivos...
Mas, a boa nova é que Ele chora justamente por que se importa! Se importa conosco, conhece nossos problemas.
Viva de modo digno do Evangelho e valorize as lágrimas Daquele que chora por nós!
Que as lágrimas de Jesus encharquem nossa alma e façam brotar a esperança. Que nossa fé e devoção, ainda que imperfeitas, o façam sorrir!

Deus abençoe.
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* Se você quer ouvir uma reflexão muito mais profunda e extremamente abençoadora sobre este gigante pequeno verso, recomendo veementemente que ouça o sermão pregado por Charles Haddon Spurgeon na manhã de domingo do dia 23 de junho de 1889, que você encontra aqui: https://youtu.be/TlBlAF8XpTQ?list=PLEC778B5D3EAC8ADF.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Só a verdade liberta!

Vivemos o tempo de uma sociedade imagética. O visual, a imagem, é super valorizada, e a estética muitas vezes suplanta a ética, como se as duas pudessem, de algum modo, existirem separadas. Pessoas, fatos, ideias e ideologias, conceitos e pré-conceitos, doutrinas, grupos sociais, filosofias, tudo é julgado sobre a pedra-de-toque da estética. Quero dizer com isso que a leitura que se faz das coisas tem sido superficial, epidérmica demais. Pouca preocupação e esforço são dedicados ao exame mais profundo das motivações, valores e moral por detrás do que os olhos veem. Aquilo que se pode ver ou ouvir conta com uma simpatia maior do que o que é intangível, invisível, conceitual.
Esse é um assunto por demais extenso para tratar aqui, mas quero me ater a apresentar um dos pais dessa sociedade imagética, o utilitarismo, que é uma concepção ética da filosofia liberal do séc. XIX que considera a boa ação ou a boa regra de conduta caracterizáveis pela utilidade e pelo prazer que podem proporcionar a um indivíduo e, em extensão, à coletividade. O utilitarismo acaba sendo uma variação de hedonismo, onde o prazer é o valor maior e o objetivo da existência. Mas, se o utilitarismo é um dos pais da sociedade imagética, o outro é o pragmatismo, ensinando que a validade de algo deve ser determinada pelo seu êxito prático.
Quando tudo isso é aplicado à religiosidade, liturgia e doutrina evangélica a mistura é muito perigosa. O valor de uma doutrina ou de uma prática é medido pelo "funciona ou não funciona". Se o resultado é aparentemente útil, dá algum prazer, e obtêm-se êxito, então "é de Deus". E isso não é de hoje, pois lá no Éden já houve alguém julgando pelo "assim funciona" e, sob a concupiscência dos olhos, julgando pela estética, abandonou a ética e a verdade e maculou a relação com o Criador (Gn 3.6).
O problema é a confusão notável que se observa entre a verdade e a praticidade, inclusive nas questões evangélicas. Qual o modo mais fácil de encher uma Igreja? Qual o melhor tipo de culto? Onde devemos investir o dinheiro dos dízimos? As respostas para essas e outras perguntas serão respondidas, na esmagadora maioria das vezes, não pela verdade, mas pela praticidade, pelo "assim funciona". Eu sei que esse iceberg que estou arranhando aqui é muito maior debaixo d'água, e carece de muita discussão para uma análise mais precisa de tudo isso, mas quero conduzir você a pensar comigo em dois textos bíblicos.
O primeiro está em Jo 10.40-42, que diz: "Novamente, [Jesus] se retirou para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio; e ali permaneceu. E iam muitos ter com ele e diziam: Realmente, João não fez nenhum sinal, porém tudo quanto disse a respeito deste era verdade. E muitos ali creram nele". O segundo texto que desejo que você reflita é Mt 7.21-23, onde lemos: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade".
Observe que no texto do apóstolo João lemos que João Batista não fez sinal algum, porém tudo quanto disse a respeito de Jesus era verdade. No texto do apóstolo Mateus vemos que muitos dos que fizeram muitos sinais não basearam-se na verdade, e Jesus só pode reconhecer o que é verdadeiro. Jesus não é utilitarista, como se pensasse: "Ah, o que vocês fizeram foi fora da verdade, mas no final das contas, funcionou né". Não! Para Jesus, os resultados, a estética, a forma das coisas, não tem valor maior do que a verdade. A verdade, para Jesus, é o maior valor, pois Ele não pode ir contra a verdade, porque é a própria Verdade (Jo 14.6; 17.17; IICo 13.8). Nas coisas de Deus vale mais a
verdade sem sinais do que sinais sem verdade. Vale mais ensinar a verdade do que milagres, pois é a verdade que liberta o homem (Jo 8.32, 36). Alguém pode ser curado, e ainda assim permanecer cativo. Alguém pode também continuar doente, mas ser liberto. Pergunto: qual seria melhor? A verdade é maior do que os sinais! Até o termo avivamento tem sido mais ligado aos sinais do que à verdade. Avivamento verdadeiro é quando a verdade torna-se o bem maior da Igreja, e não simplesmente a presença de sinais.
Eu não estou fazendo apologia a um cristianismo sem prática, pois o próprio texto de Mateus diz que entra no céu aquele que faz a vontade do Pai. Sem prática não há cristianismo. Tiago ensinou que a fé, ainda que ortodoxa, sem obras é morta (Tg 2.26). Estou fazendo apologia da verdade. A verdade deve fundamentar toda escolha, julgamento, método, prática, estratégia, objetivo, liturgia, absolutamente tudo. Se não é pela verdade, não é por Deus. Não devemos escolher pela aparência, julgar pela estética ou pelo politicamente correto, mas pela verdade, e essa verdade é Jesus e Sua Palavra (Jo 14.6, 17.17). Quando nos atemos à verdade, como João Batista o fez, obteremos os resultados santos que Deus mesmo nos dará, pois a verdade pregada por João resultou em que muitos creram nele [em Jesus]; enquanto a multidão de sinais feitas pelos que diziam Senhor, Senhor, rendeu apenas a perdição eterna para eles mesmos.
Que a verdade seja nosso fundamento, nosso objetivo, nossa pedra-de-toque. Que a verdade seja nossa mensagem, nossa luz, nosso norte. Que a verdade seja o árbitro do nosso coração, da nossa mente, das nossas escolhas. Que a verdade seja, enfim, a estética e a ética da nossa vida.

"As pessoas costumam amar a verdade quando esta as ilumina, porém tendem a odiá-la quando as confrontam" Agostinho
"Muitos homens odeiam a verdade, por amor daquilo que tornaram por verdadeiro" Agostinho
"Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias" Martinho Lutero
"Os homens, para serem verdadeiramente ganhos, precisam ser ganhos pela verdade" Charles H. Spurgeon

Deus abençoe.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Ele não muda! Aleluia!!!

"Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos" (Ml 3.6).

A IMUTABILIDADE DE DEUS
Ah, que verdade mais preciosa! Deus NÃO muda! Ele permanece o mesmo e-t-e-r-n-a-m-e-n-t-e!!! Esta é, sem dúvida alguma, a verdade mais fundamental para a esperança da fé. É imprescindível que Deus seja sempre o mesmo para que continue sendo Deus.
Quando a Bíblia afirma que Deus é imutável, ela se refere ao caráter e natureza divina de Deus, ou seja, Deus foi, é e sempre será o mesmo Deus, com o mesmo caráter e com a mesma natureza divina. Isso significa também que os atributos de Deus são sempre os mesmos. Por exemplo, Deus é eternamente Todo-Poderoso, Todo-Sábio, Todo-Santo, Todo-Justo, etc. Não houve, não há, e nunca haverá um momento sequer em que Deus deixe de ser alguma destas coisas.
Imagine só a angústia e o tormento que seria se dormíssemos hoje sabendo que Deus nos ama, mas sem nenhuma garantia de que pela manhã Ele continuaria nos amando... ou se o que Ele nos prometeu hoje fosse revogado amanhã. A fé seria, simplesmente, impossível, pois fé é justamente o firme fundamento das coisas relacionadas a Deus que se esperam. Se Deus fosse mutável, nem a Bíblia seria digna de confiança, pois o que Ele disse ontem pode não valer mais hoje. A profecia seria apenas palavras sem sentido e sem força, pois Ele pode não ter poder ou simplesmente não querer fazer o que revelou pelo profeta. A adoração ficaria totalmente sem sentido, pois nunca saberíamos que Ele espera de nós. A santificação também seria perda de tempo, pois o que Ele desaprova hoje, poderá aprovar amanhã, e o que Ele ordena hoje, pode abominar amanhã...
Viu como toda a segurança da fé depende da verdade de que Deus, o Eterno, não muda? Glórias a Ele mesmo porque Ele não muda!!!
Foi isso o que ele disse ao povo de Israel pelo profeta Malaquias no texto acima, que a nação só não foi destruída por causa do caráter e amor imutável Dele. Os líderes da Igreja também se firmam nesta verdade, pois Tiago escreveu que Ele é o "Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança" (Tg 1.17b). O apóstolo Paulo, ao cantar sobre o dever da perseverança e a fidelidade de Deus termina dizendo que Ele "de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo" (IITm 2.13b).
Essa certeza, essa convicção, essa fé, essa inexorável verdade, é onde nossa débil alma deve se abrigar e nosso coração se aquecer. É nos braços de um Deus tão confiável, fiel, leal, firme, seguro, digno, veraz, incontestável, permanente, constante, definitivo, duradouro, eterno, inalterável, imutável, incessante, infinito, interminável, invariável, perpétuo, estável, que devemos repousar nossa fé. Qualquer outro nome, dado entre os homens, não é digno da fé humana (cf. At 4.12). Ninguém, absolutamente NINGUÉM, além do Criador de todas as coisas, do Deus Altíssimo, do Grande Eu Sou, é imutável. Todos são passíveis de variação e, por conseguinte, poderão nos decepcionar. Mas não ELE, não Aquele para quem não há impossíveis, não Aquele cuja boca se abre e ao som de Sua voz os montes se vergam e os mares rugem... A mão Dele é a única que nunca falhará!
Apegue-se ao Senhor! Confie Nele, com todo o teu coração, com toda a tua força, com todo o teu entendimento e de toda a tua alma (cf. Mc 12.30), e estará seguro por toda a eternidade!!!
Encerro com o maravilhoso salmo 29, na íntegra. Leia e tire as próprias conclusões...

1 Tributai ao SENHOR, filhos de Deus, tributai ao SENHOR glória e força.
2 Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na beleza da santidade.
3 Ouve-se a voz do SENHOR sobre as águas; troveja o Deus da glória; o SENHOR está sobre as muitas águas.
4 A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade.
5 A voz do SENHOR quebra os cedros; sim, o SENHOR despedaça os cedros do Líbano.
6 Ele os faz saltar como um bezerro; o Líbano e o Siriom, como bois selvagens.
7 A voz do SENHOR despede chamas de fogo.
8 A voz do SENHOR faz tremer o deserto; o SENHOR faz tremer o deserto de Cades.
9 A voz do SENHOR faz dar cria às corças e desnuda os bosques; e no seu templo tudo diz: Glória!
10 O SENHOR preside aos dilúvios; como rei, o SENHOR presidirá para sempre.
11 O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR abençoa com paz ao seu povo.

Deus abençoe.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Honestidade deve bastar!

"Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos. Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno" (Mt 5.33-37).

Jesus, no capítulo cinco do Evangelho segundo Mateus, faz várias contraposições ao modo como os judeus (principalmente os mestres, como fariseus e escribas) tinham se distanciado do significado real de alguns assuntos da Lei, como homicídio, adultério, vingança, amor ao próximo e, no texto supra-citado, dos juramentos. Jesus está, de modo muito educado e didático, mostrando que os judeus não haviam entendido a profundidade da Lei e dos mandamentos do Senhor, e isso fica evidente quando Ele usa as expressões "ouvistes que foi dito aos antigos" e "eu, porém, vos digo". Ele não está contrariando o ensino do Antigo Testamento, pois Ele não diz "ouviste o que diz a Lei" ou "ouviste o mandamento tal", Ele diz que está corrigindo a visão que os antigos tiveram a respeito da Lei, e não da Lei em si.
Nos dias de Jesus, os judeus haviam criado centenas de mandamentos e decretos por conta própria, que não constavam na Lei. Não só isso, mas ao mesmo tempo em que aumentaram o número de mandamentos, colocando uma carga impossível de carregar sobre os lombos das pessoas, banalizaram a intensidade e profundidade de vários dos ensinos da mesma Lei. E é este ajuste que Jesus busca fazer, quebrando paradigmas estabelecidos pela negligência e descuido na interpretação e ensino da Lei.
Ao tratar da questão dos juramentos, Jesus está contrariando a crendice da época de que a palavra de alguém só poderia ser cobrada se o nome de Deus fosse colocado no juramento. Quando não se usava o nome de Deus, a responsabilidade de arcar com a palavra dada simplesmente não existia, ou quando o nome de Deus era evitado, num simulacro tosco de zelo e santidade, penhorava-se nas juras coisas como o céu, a terra, Jerusalém, e até a própria cabeça. Mas Jesus está colocando as coisas nos eixos, mostrando que nem a própria cabeça pode ser penhorada como garantia da palavra, pois não temos controle nem sobre a cor dos fios de cabelo que nela se penduram; quanto mais a presunção de penhorar a cidade do Grande Rei (que é o próprio Jesus), Jerusalém, e chegando até a penhorar a terra e, pasmem, o céu! Todas as coisas que se usavam como penhora nas juras estavam, de fato, ligadas a Deus, e é isso que Jesus usa como base do Seu argumento, pois Deus é o proprietário por direito dos céus e da terra, e de tudo o que neles há (cf. Sl 24.1).
Portanto, o ensino de Jesus que busca endireitar a ótica sobre os juramentos é que o cristão deve ser gente de palavra, pessoa cujo sim significa sim, e não significa não, sem necessidade de penhorar algo que não possui ou escorar-se na autoridade de outrem para fazer valer sua palavra. Deve haver, no caráter cristão, honra e brio suficiente para garantir a palavra dada e o compromisso assumido. O bom nome do cristão deve bastar para que sua palavra seja aceita como penhor do compromisso (cf. Pv 22.1; Ec 7.1). A honestidade vivida é toda penhora da qual deveríamos precisar. Quando um cristão empenha sua palavra deve esforçar-se ao máximo para cumpri-la à risca, pois isso é digno de honra e glorifica a Deus, mesmo naquilo que pareça "coisa pouca" para muitos. Disse que irá, vá. Disse que devolverá, devolva. Disse que fará de tal forma, dessa forma faça, etc.
Que Deus seja glorificado num povo santo, cuja palavra é digna de aceitação, mesmo no meio de uma geração perversa e corrupta.

Deus abençoe.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Que darei eu ao Senhor?

"Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Cumprirei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o seu povo" (Sl 116.12-14).
Já pensou sobre os benefícios que o Senhor tem lhe dado? Não? Ah, você está vivendo um momento difícil, está com vários problemas e tem dificuldades em vários aspectos da vida? Bem-vindo ao clube...
Todos nós temos problemas! Sim, eu sei. Existem problemas e PROBLEMAS. Também sei que "o centro do universo é onde está doendo"[1]. Mas também sei que os problemas e dificuldades não devem sobrepujar a esperança e nos cegar para as inumeráveis bênçãos de Deus que nos sobrevêm a todo instante. Desde aquelas muito especiais e ocasionais, que marcam nossa vida, até aquelas que, de tão simples e comuns, passam despercebidos dos olhos incautos dos acelerados e sempre ocupados seres humanos, como a água, o pão de cada dia, o teto sobre a cabeça, o ar que respiramos... Ah, sei também que aqui alguns podem pensar: mas tem pessoas que não tem nem pão nem teto... Sim, existem, e lamento muito; mas se você está lendo isso creio que você não é um deles, então já tem motivos para celebrar... E até os sem-teto e sem-pão podem não ser os sem-esperança! O que há, também, são os que se fartam de pão, mas são vazios de esperança. Estes são mendigos também.
A verdade inquestionável, ainda que haja quem não consiga vê-la, é que a graça de Deus nos abençoa a todo momento. A cada segundo é mais um segundo de vida! E o salmista, quando inundado pela percepção de todos os benefícios do Senhor para com ele, pergunta a si mesmo: que darei ao Senhor por isso tudo? O que tenho eu para que retribua a Deus, ao menos em parte, a benevolência que derrama sobre minha vida todos os dias? A pergunta é retórica, pois a resposta é óbvia! Não há nada que possamos dar ao Senhor, pois Ele de nada tem necessidade ou carência! Também não há preço para Suas bênçãos, pois quanto se pagaria por mais um dia de vida, ou por um gesto carinhoso? Não, não há nada que o homem possa oferecer a Deus em troca de Suas bênçãos, que nos são dadas pela Sua graça maravilhosa e pela Sua bondade que dura para sempre (Sl 52.1)!
A conclusão a que o salmista chegou foi entender que a única coisa que podemos dedicar a Deus pelos benefícios para conosco é tomar o cálice da salvação. Mas o que é isto? É, antes de tudo, admitir que precisamos de salvação, de um Salvador. Tomar o cálice da salvação é admitir Seu Filho, Jesus Cristo, como Salvador e Senhor pessoal, e passar a invocar o Nome do Senhor. Em palavras mais simples, crer em Jesus sem reservas, com todo o coração, e passar a segui-Lo e adorá-Lo. Isto é o que Deus requer de nós, que Lhe entreguemos todo nosso ser, nosso coração (Pv 23.26).
O salmista ainda acrescenta que pretende pagar todos os votos na presença de todo o povo. O que ele quer dizer é que todo aquele que se entrega a Jesus tomando o cálice da salvação, faz neste ato o voto de obedecê-Lo, conhecê-Lo e adora-Lo, e deve pagar estes votos no meio do povo de Deus, que é a Igreja.
Portanto, diante de todos os benefícios que o Senhor tem nos concedido pela Sua graça e misericórdia, só nos resta crer em Jesus, busca-Lo e adora-Lo de todo o coração, e participar da comunhão da Igreja que Ele edificou sobre Si mesmo. De outra forma, que daremos nós ao Senhor???

Deus abençoe.
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[1] Rubem Alves escreveu isso no artigo "A Dor", publicado no jornal Folha de São Paulo em 21/03/2006. Você pode conferir, na íntegra, o artigo deste psicanalista, educador, teólogo e escritor mineiro de Boa Esperança, em <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2103200611.htm>.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Já se deu conta disso???

"Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?" (Rm 8.32).
Você já parou para pensar no que o apóstolo Paulo está dizendo neste verso da Bíblia? Já se deu conta das implicações disso? Se não, esse é um momento excelente para fazê-lo...
O que o apóstolo Paulo está dizendo é que diante do fato de ter Deus, o Pai, amado o mundo de tal maneira, a ponto de ter dado o Seu Filho unigênito para morrer por nós, pecadores, podemos estar certos de que também tudo o que é necessário para glorifica-Lo na terra nos será dado (Jo 3.16; Rm 5.8). Em outras palavras, como em Cristo o Senhor se torna nosso Pastor, então nada nos faltará (Sl 23.1). Deus suprirá todas as carências de Seu povo, pois nem o próprio Filho poupou, e esta é a prova máxima do Seu amor e disposição em socorrer, prover, abençoar e santificar aqueles que são Seus. Foi essa convicção que sustentou a firme esperança do apóstolo Paulo ao dizer "porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós" (Rm 8.18) e ainda "sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28). Podemos todas as coisas nAquele que nos fortalece, pois Ele não negou nem poupou Seu próprio Filho, antes o entregou por todos nós (cf. Fp 4.13).
E não é só isso! A expressão "todas as coisas" que o apóstolo se refere não significa todas as coisas (principalmente materiais) que o consumismo do nosso tempo alega serem necessárias para a felicidade; ou ainda, todas as coisas que nosso coração, que é enganoso por natureza (Jr 17.9; Mc 7.21-23) deseja e julga importantes... Não! Todas as coisas é tudo aquilo que precisamos para sermos quem Deus quer que sejamos, e para fazermos tudo aquilo que Deus quer que façamos. Nenhuma dessas coisas nos será negada, antes, nos será prontamente concedida por Aquele que não poupou Seu próprio Filho. E o apóstolo ainda insiste que todas as coisas nos são dadas gratuitamente, de modo que não há como as adquirirmos sem a graça de Deus! Tudo que obtemos pela graça de Deus obtemos gratuitamente. Não há preço nas bênçãos de Deus, a não ser o preço do Seu próprio Filho entregue por todos nós na cruz, morrendo nossa morte para que vivamos Sua vida, e para viver Sua vida, precisamos de todas as coisas gratuitamente juntamente com Ele, pois de outra forma não teríamos condições de viver Sua vida.
"Que diremos, pois à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (verso 31). A vitória está garantida para todos aqueles que gozam da fonte inesgotável e caudalosa de bênçãos que é a graça e misericórdia de Deus, cujo acesso é por Seu Filho, Jesus Cristo!
Você está com problemas? Tem necessidades para serem supridas? Precisa de algo para cumprir os planos de Deus para sua vida? Falta-lhe algo para ser o que Deus quer que você seja? Pois então, façamos uso do manancial de águas vivas que é a graça de Deus em Cristo, por meio da fé e da oração! E se, por algum motivo, você lê estas palavras mas ainda não está seguro de que já possui acesso a esse Deus tão benevolente, eis a oportunidade propícia para que, refletindo nisso, você se entregue a Cristo com todo o seu coração, submetendo-se a Ele e reconhecendo-O como seu Salvador e Senhor pessoal, sem reservas; então, descobrirá que passou da morte para a vida (Jo 5.24; Rm 10.13).

Deus abençoe.

domingo, 22 de maio de 2016

Vales da sombra da morte

Caminho no vale entre Jericó e Jerusalém
"O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam" (Sl 23.1-4)
O salmo 23 é um dos trechos mais famosos da Bíblia. Seu primeiro verso é muitíssimo conhecido, a ponto de ser citado até por aqueles que não creem na Bíblia como Palavra de Deus.
Davi, seu autor, foi pastor de ovelhas por muitos anos. Conhecia de perto a dura tarefa de cuidar de um rebanho de ovelhas no antigo oriente, daí a linguagem do salmo, que expressa o cuidado provedor e protetor do pastor para com suas frágeis ovelhinhas.
Um dos vales de Israel
Era trabalho do pastor conduzir o rebanho até pastos verdejantes, pois na região de Belém, cidade de Davi, a grama não mantinha-se viçosa o ano inteiro. Ovelhas são animais muito delicados e precisam de águas tranquilas para conseguirem beber; não conseguem fazê-lo em corredeiras fortes. Na lida com o rebanho o pastor costumava passar dias fora de casa, conduzindo o rebanho até áreas de pastagens melhores, principalmente em tempos de estiagem. Nessas idas e voltas, não era incomum o pastor precisar atravessar vales, pois a região de Belém tem terreno acidentado e vales são muito comuns. Por vezes, os caminhos percorridos exigiam que se atravessasse vários desses vales, onde predadores vorazes espreitavam buscando ocasião de emboscar alguma presa desavisada. Por isso o salmista diz: "ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte", pois os vales representavam perigos diversos, predadores como lobos, leões[1], serpentes, escorpiões, e os ladrões do deserto. Sempre que o pastor embrenhava pelos vales a tensão aumentava consideravelmente, a ponto de sentir-se à sombra da morte. Todo cuidado era pouco nestas circunstâncias. E quem nunca passou pelos "vales" da vida? Momentos onde o frio na barriga e o calafrio na espinha são inevitáveis, e sentimos o perigo nos rodeando, como um leão que anda ao derredor buscando quem possa devorar (cf. IPe 5.8). Todos passamos por momentos na vida em que os predadores (problemas) vêm ao nosso encontro, sedentos e famintos como lobos selvagens mirando ovelhas indefesas...
Mas o salmista conta com um trunfo, algo tão poderoso que foi capaz de livrá-lo de todo temor: a presença do Senhor, Deus de Israel! Ele diz que não temerá mal algum, mas não porque dispõe do sistema de segurança de última geração, nem porque montou uma equipe de guarda-costas muito bem treinados, ou porque revestiu suas ovelhas e a si mesmo com alguma armadura impenetrável. Não, sua segurança estava no fato de que o Senhor estava com ele. A presença de Deus nos garante segurança e proteção!
E o Senhor dispõe de duas ferramentas que trazem consolo ao coração do salmista: o bordão e o cajado, que algumas vezes eram unidos num só instrumento. O cajado é uma vara longa, arqueada na extremidade (como na gravura ao lado). Sua parte reta servia para espantar os predadores e defender o rebanho, enquanto a ponta arqueada servia para socorrer as ovelhas que caíam em buracos ou atolavam nos lamaçais perto dos riachos. Ainda, o pastor poderia usar o bordão para disciplinar e reconduzir ovelhas distraídas ao caminho correto quando estas eram atraídas por alguma coisa à beira do caminho. Para o salmista, saber que o Senhor está presente traz paz e segurança, mas lembrar que Ele é protetor, socorro presente e pastor disciplinador traziam consolo e refrigério à alma.
Mas, toda essa grandeza do versículo quatro do salmo 23 só pode ser desfrutada por aqueles que passam pelo primeiro versículo, onde o pastor Davi coloca-se no lugar de ovelha e elege o Senhor como seu pastor. Davi só pode falar o verso 4 por causa do verso 1. Deus só pastoreia aqueles que podem dizer: Ele é o meu pastor. Davi não disse que Deus era o pastor dos seus pais, ou do seus amigos, ou dos seus filhos, do seu vizinho, ou quem quer que seja. Não, ele tinha uma relação pessoal com Deus, Ele era o seu pastor.
Deus é o seu pastor? Você já tem um relacionamento pessoal com Deus? Já é ovelha do rebanho do Senhor? Pois todas as bênçãos e promessas do salmo 23 estão condicionadas e restritas àqueles que são ovelhas do Seu aprisco. Se você não tem essa certeza, pode ser agora que você se coloque na condição de ovelha e clame ao Senhor para pastoreá-lo. Ele sempre aceita novas ovelhas nos Seus pastos verdejantes...

Deus abençoe.
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[1] Os leões do antigo Israel não são, como comumente se pensa, como os leões africanos, de juba e enormes. Eram mais parecidos com o puma americano ou a onça parda encontrada no Brasil. Isso, entretanto, não diminui o perigo que ofereciam aos rebanhos e pastores daquela época.

sábado, 21 de maio de 2016

Profeta sem honra

"Tendo Jesus proferido estas parábolas, retirou-se dali. E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa. E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles" (Mt 13.53-58).
Jesus nasceu na pequenina Belém de Judá, mas passou sua infância, adolescência e boa parte da juventude na cidade de Nazaré, onde os fatos do texto acima se passaram. José, padrasto de Jesus e marido de Maria, sua mãe, possuiu ali sua oficina de carpintaria de onde retirou o sustento para si e sua família durante bons anos. O texto parece indicar que José foi o único carpinteiro da cidade por um longo período, pois os homens questionam: "não é este o filho do carpinteiro?", como se o ofício pudesse substituir o nome próprio de José para identificá-lo ou diferencia-lo de algum outro carpinteiro. Naquela cidadezinha da região da Galileia, norte de Israel, não muito distante do mar da Galileia, Jesus aprendeu a andar, a falar, a ler, brincou com amiguinhos, aprendeu o ofício de carpinteiro. Foi amigo, vizinho, colega de turma, membro da sinagoga local. Agora, algum tempo depois, Ele está ensinando a Palavra de Deus com uma autoridade e destreza sem igual, fazendo milagres extraordinários, tendo após Si seus próprios discípulos e é chamado de Mestre e de Profeta.
Quase todos naquela cidade não conseguiram reconhecê-Lo como um Mestre, apesar das evidências que lhes estavam diante dos olhos. Muitos, talvez sentados em cadeiras ou debruçados em mesas cuja madeira fora trabalhada pelas mãos do próprio Jesus, questionavam a origem de Sua sabedoria e custavam crer que fosse, de fato, um Profeta de Deus. Afinal de contas, Ele era apenas aquele menininho da carpintaria, sem muita distinção das outras crianças, que cresceu e agora dispõe de alguma fama.
A incredulidade dos nazarenos foi plantada pelo preconceito que fincou os pés no coração e mente daquele povo. A origem humilde e a juventude sem destaques não poderiam tê-Lo tornado o Mestre  Profeta do calibre que agora testemunham com seus ouvidos e seus olhos, pensavam. É bastante provável que alguns dos irmãos de Jesus ainda morassem na cidade, e suas irmãs moravam, pois é isso que eles dizem: "não vivem entre nós todas as suas irmãs?". E o texto parece indicar que nem mesmo estes irmãos e irmãs de Jesus conseguiram ver além da muralha do preconceito, mesmo tendo vivido por um tempo na mesma casa que o Criador de todas as coisas!!!
Geralmente as pessoas dão pouco valor ao que se tornou "comum". Ver Jesus fazer coisas simples, cotidianas, corriqueiras, fê-los duvidarem e cegou-os para o fato de que Jesus era especial. Jesus não fez ali muitos milagres por causa da incredulidade deles, do seu preconceito.
E nós? Temos valorizado as pessoas especiais que convivem conosco? Conseguimos enxergar além da visão simplória dos hábitos corriqueiros e perceber o potencial extraordinário daqueles que nos rodeiam? Temos valorizado mais "os de fora" do que aqueles que vivem conosco? Temos vivido como se "a grama do vizinho fosse sempre mais verde"? Fica a reflexão para cada um de nós fazer uma autoanálise...
No final, uma coisa é certa: "Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa".

Deus abençoe.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Você tem paz?

"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize" (Jo 14.27).
Paz! Que palavra fantástica! Quase sempre o que se pensa a respeito de paz envolve um entendimento que o dicionário define como "ausência de problemas, de violência, de guerra; cessação total de hostilidade; estado de espírito de uma pessoa que não é perturbada por conflitos ou inquietações; estado característico de um lugar ou de um momento em que não há barulho e/ou agitação; calma, sossego"[1].
Todavia, esse tipo de "paz", conforme o texto bíblico acima, é a que Cristo disse que o mundo pode dar, e não a que Ele nos deixou. A paz de Cristo é superior à paz do mundo. A paz do mundo pode ser obtida mediante acordos, tratados, armistício. Pode ser obtida com um bocado de dinheiro somado a circunstâncias favoráveis e amistosas. A paz de Cristo que Ele nos deixou não é isso, muito pelo contrário!!!
As diferenças entre a "paz do mundo" e a "paz de Cristo" são muitas. Por exemplo, a paz do mundo é possível a qualquer pessoa, enquanto a paz de Cristo é privilégio dos que creem em Seu Nome e andam nos seus caminhos. A paz do mundo míngua por causas diversas, internas ou externas, enquanto a paz de Cristo não sofre variação, pois nada pode diminuí-la ou roubá-la!
A paz de Jesus é algo profundo e duradouro, e não cabe entendimento humano. Como ela não depende de fatores materiais, humanos ou sociais, ela deixa perplexos os que não a possuem sempre que testemunham sua eficácia e poder na vida de algum crente fiel.
A paz de Jesus é tão poderosa que sempre que a unidade e comunhão da Igreja, o Corpo de Cristo, é ameaçada pela imperfeição humana, é ela que deve reger os concertos e reconciliações, servindo de árbitro no coração dos cristãos (Cl 3.15).
Mas não é só na esfera coletiva que a paz de Cristo mostra seu poder celestial. Na individualidade também ela se apresenta abençoadora daquele que tem fé em Jesus. O apóstolo Paulo ensinou que sempre que um crente fiel coloca suas questões e necessidades diante de Deus pela oração, a paz de Deus guarda o coração e a mente em Cristo, ou seja, tanto os sentimentos quanto o raciocínio e pensamento são guardados em Cristo (Fp 4.6-7).
Mas não poderia ser diferente. A paz de Cristo não é só alguma coisa que Cristo nos dá, mas é Ele mesmo dando de Si àquele que se rende ao Seu Senhorio recebendo-O como Senhor e Salvador pessoal. Sim, isso mesmo! A paz de Cristo é Ele mesmo, em pessoa! Quando cremos Nele, então Ele mesmo habita em nossos corações pela fé, e por conseguinte temos Ele, a própria paz (Ef 2.14).
Uma paz tão poderosa, profunda, duradoura e abrangente como essa, só mesmo o Príncipe da Paz poderia oferecer (Is 9.6).
Você já se entregou a esse Jesus maravilhoso? Já desfruta dessa paz celestial?

Deus abençoe.
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[1] Dicionário eletrônico Houaiss, versão 3.0, de junho 2009.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Jesus cura a sogra de Pedro

"Tendo Jesus chegado à casa de Pedro viu a sogra deste acamada e ardendo em febre. Mas Jesus tomou-a pela mão, e a febre a deixou. Ela se levantou e passou a servi-lo" (Mt 8.14-15).
Sim, Jesus cura sogras também (risos)... Brincadeira à parte, este pequenino trecho do Evangelho de Mateus ensina algumas lições preciosas para o nosso viver cristão.
A narrativa de Mateus nos trechos anteriores ao supra citado deixa claro que Jesus já havia curado algumas pessoas naquele dia e, aparentemente, tudo isso no mesmo dia em que pregou o famoso sermão da montanha (cap. 5 - 7). Jesus provavelmente já estava bastante cansado das atividades do dia, mas nunca cansado demais para deixar de ajudar um necessitado. Será que somos assim? Será que a necessidade do próximo supera nosso cansaço? Devemos pensar nisso, pois quando Jesus disse aos discípulos que "veio para servir, e não para ser servido" (Mt 20.28), Ele falava sério. Gostamos de nos proclamar "servos" de Jesus, mas não difícil a servidão ser deixada de lado por causa do cansaço. É compreensível que em certas circunstâncias estejamos cansados demais para agir, mas será que a razão realmente existe sempre que alegamos isso?
Outra lição importante de Jesus aqui é que, dentro da casa de Pedro, não havia platéia. Ninguém além de Jesus, os apóstolos e a sogra estavam em casa, por sinal nem a esposa de Pedro. Mas Jesus nunca almejou a publicidade que muitos líderes religiosos de Sua época ansiavam obcecadamente (Mt 6.5; 23.5). Não precisava de marketing para seu ministério! Curou a mulher enferma sem fazer uma self e postar no facebook para todo mundo ver. E nós? Quando servimos, buscamos a glória ou a direcionamos a Quem de direito? Agimos do mesmo modo quando estamos sós ou precisamos de observadores para sermos santos e servos do Senhor?
A sogra de Pedro, também, nos ensina algo precioso. Assim que foi curada e recobrou a disposição, passou a servi-lo. Parece-nos que a graça de Deus é dada sempre com o intuito de nos conduzir a servi-Lo! E deveríamos servi-Lo sempre, pois Sua graça e misericórdia são dadas todos os dias. Devemos servir ao Senhor por gratidão e reconhecimento da Sua bondade perfeita, como a sogra de Pedro assim o fez.
E nós? Precisamos de platéia para servir ao Senhor? Sua graça tem nos impulsionado a servi-Lo de forma firme e constante, sempre abundante na obra do Senhor?

Deus abençoe.
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* A pintura que ilustra esta postagem é "Jesus cura a sogra de Pedro", do pintor e desenhista britânico John Bridge (ativo entre 1818-1854).

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Onde está teu tesouro?

"Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração" (Mt 6.19-21).
A ideia de tesouro sempre cativou a imaginação dos homens. Boas histórias de aventura sempre incluem algum tesouro. Jesus também falou sobre tesouros, e no texto acima Ele ensina sobre os tipos de tesouros que o homem acumula para si.
Jesus, na Sua sabedoria infinita, usa uma linguagem simples, tornando acessível a qualquer que ouça Suas palavras o ensinamento que pretende transmitir. Uma das lições que temos no texto é que os tesouros acumulados na terra são extremamente frágeis, não oferecem segurança alguma. Pense bem, uma simples traça, um animalzinho tão pequeno, é capaz de oferecer riscos ao tesouro. A ferrugem, processo químico resultado do contato do ferro com o oxigênio, também oferece seus riscos. Se os animais, como a traça, ou os processos físico-químicos como a ferrugem, forem prevenidos, ainda temos os ladrões para fazer o desserviço de roubar o tesouro ajuntado. O que Jesus quer deixar claro é que é insensatez, loucura mesmo, colocar o coração nos tesouros deste mundo vil, onde nenhuma segurança será suficiente para garantir a permanência do tesouro. Em contrapartida, os tesouros acumulados no céu estão sob a proteção de ninguém menos que o próprio Deus! Quem, ou o quê então, oferecerá riscos ao tesouro que está debaixo da mão protetora do Todo-Poderoso? Este sim é um tesouro que permanece, que oferece segurança àquele que o ajunta, pois nada neste mundo poderá comprometê-lo.
Mas, ainda mais importante que o valor e durabilidade do tesouro em si, é que Jesus ensina que seremos tão duráveis quanto o tesouro que acumulamos. Se o acumulamos no céu, onde são eternos, então seremos eternos, ao passo que se os acumularmos na terra, onde perecem, então também nós pereceremos.
Todavia, não podemos concluir que Jesus é um asceta, que despreza qualquer cuidado com a vida física na terra ou que ensine que a matéria seja intrinsecamente má. Ele mesmo curou pessoas, alimentou multidões e ensinou seus seguidores a se preocupar com as necessidades materiais do próximo. Porém, Ele busca neste texto alertar e apelar que seus ouvintes deixem a tirania do materialismo, passando a viver sob os valores do céu, ou seja, que pessoas valem mais que coisas, que a salvação da alma vale mais que o prazer do corpo. "Jesus deu pão aos famintos, mas avisou que o homem não vive só de pão. O coração da pessoa está onde estiver o seu tesouro, e ela compartilha do destino daquilo a que se dedica — seja a coisas perecíveis, seja a imperecíveis"[1].
Não gaste sua vida na busca por tesouros na terra. Invista tanto quanto possível, de todas as formas possíveis, nos tesouros do céu, e poderá desfruta-lo eternamente.

Deus abençoe.
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[1] CLIFTON, Allen, ed. ger. Comentário Bíblico Broadman. 3a. ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1986. Vol. 8, p. 154.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Este frágil ser chamado Homem...

Uma das indagações mais profundas e intrigantes da Bíblia foi feita pelo rei Davi enquanto contemplava a beleza do céu noturno do antigo Israel: "Quando contemplo os céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres e o filho do homem, que o visites?" (Sl 8.3-4). Você já se deu conta da nossa fragilidade? Já parou para pensar o quão frágil é um ser humano? Não precisa muito para nos ferir. Um acidente simples pode causar-nos danos irreparáveis; uma simples bactéria ou um vírus nos colocam de joelhos. A privação das mais básicas necessidades, como comida e água, é suficiente para nos levar ao último suspiro, sem falar da dependência absoluta que temos de algo que ignoramos tanto, o ar para respirarmos! A despeito disso, como é fácil nos sentirmos poderosos e independentes... deuses que passeiam pela terra afora... intocáveis, invulneráveis, agigantados pela falácia que resolvemos acolher como verdade, de que nada nem ninguém é tão bom quanto eu. alter ego cheio de poder, de capacidades que nos destacaria, e sonhamos... sonhamos com a realidade virtual onde somos nossos próprios ideais. A indústria cinematográfica têm se aproveitado dessa carência humana. Os filmes de super-heróis e o sucesso que fazem reflete a sede de poder e/ou a necessidade que temos de que alguém assim, poderoso, um outro, diferente de nós, se importe conosco, meros mortais.
E engodados pelo sofisma do super-poder humano, vivemos vidas emocionalmente raquíticas, espiritualmente medíocres, ávidas por um propósito, que exaurem a alma e dissipam qualquer ânimo que, atrevida e audaciosamente, cismem brotem cambaleantes no coração. Ah! Somos tão frágeis! Somos quebradiços, precários, efêmeros... Mas sonhamos com o poder! Ele nos seduz de tal maneira... E muitas vezes, quando a verdade sobre nossa fragilidade bate à porta do coração, muitos de nós não sabemos lidar com ela. Ela nos constrange sobremaneira! Ficamos atordoados quando nos pegamos desconfiados de que, talvez, não sejamos tudo aquilo que introjetamos em nós mesmos e, por conseguinte, vemos uma geração bipolar, que vive nos extremos, ora achando-se super-poderosa, ora achando-se indigna e impotente. Num instante quer mudar o mundo. Noutro esconde-se dele. Não surpreende que os complexos façam lotar os consultórios de psicólogos e clínicas psiquiátricas.
Enquanto a humanidade se esforça em obter poder e ignora sua fragilidade, ansiando ser algo diferente, a Bíblia ensina algo interessante. Enquanto os super-heróis tornam-se algo além de humanos para salvar, a Bíblia ensina que Deus fez o contrário!!! Cristo, o não humano, o Criador, fez-se homem para salvar! Tudo isso foi percebido pela genialidade de Galileu Galilei, que disse: "Todo homem quer ser rei, todo rei quer ser deus, mas só Deus quis ser homem". E se as múmias dos antigos faraós egípcios servem para alguma coisa, é para deixar bem claro que até os reis mais poderosos morrem! Mas observe, a Bíblia ensina que Jesus encarnou (tornou-se homem) e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (Jo 1.14). É Deus, o Todo-Poderoso, que vem ao nosso encontro para salvar.
Ele sabe que somos pó, que somos frágeis, que somos carentes. O amigo de Jó, Eliú, observou: "Se Deus pensasse apenas em si mesmo e para si recolhesse o seu espírito e o seu sopro, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó" (Jó 34.14-15). Davi, o grande rei, apesar da majestade escreveu: "Dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade. Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença o prazo da minha vida é nada" (Sl 39.4-5). Ele escreveu ainda: "Pois ele [o Senhor] conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó. Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, sornado nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar" (Sl 103.14-16). Moisés, que desfrutou do poder como príncipe do Egito, e do poder de Deus operando grandiosos milagres, escreveu: "[os homens]... são como um sono, como a relva que floresce de madrugada; de madrugada, viceja e floresce; à tarde, murcha e seca... acabam-se os nossos anos como um breve pensamento. Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos" (Sl 905-6, 9-10).
Foi com esse entendimento que os homens de Deus viveram e O adoraram. Impressionados com a própria fragilidade, mais impressionados ainda com o valor que o Deus Criador de todas as coisas, excelso em poder e glória, dá a esses seres tão frágeis... Há um cântico lindo do Ministério Koinonya[1] que diz:
"Tu és soberano sobre a terra,
Sobre os céus Tu és Senhor,
Absoluto...
Tudo que existe e acontece
Tu o sabes muito bem,
Tu és tremendo.
E apesar dessa glória que Tens,
Tu te importas comigo também
,
E esse amor tão grande
Eleva-me, amarra-me a Ti
"
Sim, somos frágeis. Sim, somos pequenos. Sim, somos débeis seres humanos, e é muito bom não nos esquecermos disso, pois nos manterá humildes. Mas há um Deus Todo-Poderoso, imarcescível em glória e majestade, que nos vê com bondade e misericórdia. É por isso que vivemos! É por isso que devemos viver! É por Ele que devemos viver e existir (At 17.28; ICo 8.6)!!!
A vida encontra seu sentido em Cristo, pois a vida está Nele (Jo 1.4), e Ele é a própria vida (Jo 14.6).
Viva para a glória de Deus!!!

Deus abençoe.
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segunda-feira, 16 de maio de 2016

Os 7000 que não dobraram os joelhos a Baal

O capítulo 18 do livro I Reis narra a vitória contundente do profeta Elias sobre 450 (isso mesmo! quatrocentos e cinquenta) profetas do deus Baal[1], adorado por Jezabel e seu marido, o rei Acabe. No desafio proposto, Elias permitiu que os profetas de Baal invocassem seu deus para manifestar-se no monte Carmelo, mas ele não o fez (e nem poderia, obviamente, pois não é deus), enquanto o Senhor consumiu o holocausto oferecido por Elias e humilhou Baal e seus profetas. Elias, o único profeta do Senhor, matou então os 450 profetas de Baal às margens do ribeiro de Quisom (IRs 18.40). E isso aconteceu na presença de 400 profetas de Aserá[2] (IRs 18.19).
Após a vitória esmagadora, Elias recebe um recado de Jezabel terrivelmente ameaçador e foge para  o deserto buscando salvar a própria vida. Sentindo-se só e enfraquecido, mesmo depois de alimentado pelo anjo do Senhor, Elias esconde-se numa caverna em Horebe e, questionado pelo Senhor, respondeu: "Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos; porque os filhos de Israel deixaram o teu pacto, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada; e eu, somente eu, fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem" (IRs 19.9-10; 13-14). Deus então lhe responde com uma ordem para que ungisse Hazael como rei da Síria, Jeú como rei de Israel e Eliseu como profeta. Mas o que Deus diz em seguida é o nosso foco aqui: "Todavia deixarei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou" (IRs 19.18). Para quem se sentia só como Elias, receber a notícia de que haviam ainda sete mil conservos fieis foi um santo remédio, pois o verso seguinte começa com a expressão "Partiu, pois, Elias dali...". Ele recobrou os ânimos, revigorou-se na promessa de Deus, encontrou esperança nos servos anônimos de Deus.

Os 7000 que não dobraram os joelhos a Baal.
A primeira pergunta que naturalmente fazemos é: quem são os sete mil que não se dobraram à idolatria? Quem são os remanescentes fiéis? Bom, a Bíblia não diz seus nomes.
Quando passamos por dificuldades e a solidão ronda nosso coração, é comum nos sentirmos abandonados, fracos e impotentes. Elias não foi diferente. Mas perceba que Elias não perguntou quem eram os sete mil, nem onde encontra-los. Ele só precisou saber que eles existem!! Sim, eles existem! Sabe aqueles momentos em que você recebe a notícia de um amigo que se desviou do evangelho, ou fica sabendo de um pastor de deu um tremendo vexame, ou qualquer outra situação que faz parecer que está só e que a obra de Deus nunca será terminada? Pois é, saiba que ainda há servos fiéis ao Senhor, que não se dobraram à idolatria, às concupiscências do mundo ou à soberba da vida. Eles existem! Agora a pergunta é outra: você é um deles? Você faz parte dos que não se dobraram? É tão fácil ceder, tão fácil esmorecer, tão fácil retroceder... Mas nós não somos dos que retrocedem para a perdição (Hb 10.38-39).

Outra lição que podemos aprender aqui é que a santidade não implica em fama. Os sete mil fiéis do Senhor não estavam debaixo dos holofotes e nem tinham seus nomes conhecidos pelos quatro cantos do mundo. Ser santo não atrai a glória dos homens (ITs 2.6; Jo 5.41; 12.43), muito pelo contrário! A Bíblia ensina que "todos os que querem viver piedosamente em Cristo padecerão perseguições" (IITm 3.12). A grande maioria dos santos de Deus na terra são pessoas discretas, anônimas no meio de uma geração perversa e corrompida. Na nossa cultura a palavra "santo" normalmente faz-nos pensar em alguém que se destaca, principalmente pela bondade. Mas a Bíblia diz que a maior parte dos santos passarão pela terra sem reconhecimento dos homens. Entretanto, Deus não se esquece dos seus! Ele conta cada um deles e os guarda e livra.

Não se dobre! Permaneça fiel, sempre!
"... Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (Ap 2.10b).
"Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus" (Ap 2.7b).
"Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono" (Ap 3.21).

Deus abençoe!
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[1] Baal foi um deus fenício adorado pelos cananitas e outros povos do antigo oriente. Era o deus da fertilidade e senhor dos deuses.
[2] Aserá, também chamada Astarote (cf. Jz 2.13), foi uma deusa adorada também pelos cananitas. Esposa de Baal era a deusa da fertilidade, e os rituais dedicados a ela e seu marido Baal eram regados à bebedeiras e orgias, muito semelhantes aos bacanais romanos posteriores.
[*] A pintura que ilustra esta postagem é "Elias", do pintor maneirista e escultor italiano Daniele Ricciarelli, mais conhecido como Daniele da Volterra (1509-1566), que foi discípulo do grande Michelangelo.

domingo, 15 de maio de 2016

Planeje sob a orientação de Deus!

 "O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor" (Pv 16.1).
Quem nunca planejou? Quem nunca fez planos para amanhã, mês que vem, ano que vem, etc. Em véspera de ano novo então, nem se fala... E quem nunca se decepcionou com algum plano que deu errado? Tudo acabou saindo completamente diferente do que pensou...
O detalhe é que nossos planos, por melhores que pareçam ser, dependem da resposta dos lábios do Senhor!
Por definição, planejar é projetar o futuro, um esforço de prever circunstâncias e possibilidades e se preparar para enfrentá-las, estabelecendo decisões prévias que visam dinamizar o processo para atingir algum objetivo determinado. Só que tem um probleminha... Somos humanos! Não conhecemos o futuro! Ele é uma possibilidade, não uma certeza! Ninguém pode garantir o próprio amanhã. Na verdade, nem os próximos cinco minutos! Mas podemos, certamente, imagina-lo, sonha-lo, deseja-lo, planeja-lo... mas garanti-lo, não! Somos humanos...
Na verdade, nem o passado conhecemos perfeitamente. Conhecemos do passado só aquilo que vivemos (e que lembramos, o que nem sempre acontece) e aquilo que aprendemos sobre ele a partir das experiências compartilhadas por outros. Se nem o passado conhecemos perfeitamente, que se dirá do futuro que ninguém viveu ainda???
É por isso que a Bíblia ensina que podemos fazer planos, mas só Deus pode certifica-los. Diferentemente de nós, Deus não faz seus planos baseados em projeções, previsões, intuições e deduções. Ele o faz baseado em Sua onisciência. Para Deus o futuro é tão claro quanto o presente ou o passado, pois não há tempo, lugar ou pessoa que Deus não conheça perfeitamente (Jo 16.30, 21.17; Hb 4.13). Portanto, não podemos garantir que nossos próprios planos sejam infalíveis, mas Deus não pode ter Seus planos frustrados (Jó 42.2). É por isso que tudo o que Ele faz dura eternamente (Ec 3.14). É porque Ele é Deus! É onisciente... Nós podemos nos enganar, Ele não. Nós podemos errar, Ele não. Nós podemos nos decepcionar, Ele não.
Portanto, sempre que for planejar algo, busque saber o que Deus pensa sobre isso. Submeta seus sonhos e objetivos à avaliação do Todo-Poderoso e reescreva seus planos de acordo com Suas orientações. Então, serás bem sucedido em todas as coisas...
Que Deus nos ajude a ouvi-Lo, e a aprender a ajustar nossos planos à Sua perfeita, boa e agradável vontade santa (Rm 12.2).

Deus abençoe.

sábado, 14 de maio de 2016

A sabedoria estava longe de mim...

Salomão é, depois de Jesus, o personagem bíblico considerado mais sábio. Sua sabedoria tornou-lhe famoso na sua época (Mt 12.42). Era entendido em muitos assuntos e conhecedor de várias ciências (Ec 1.13, 17). Ele mesmo descreve que chegou a pensar que havia sobrepujado em sabedoria todos os que vieram antes dele (Ec 1.16). No final do livro de Eclesiastes, ele diz que ensinou ao povo e registrou muito do seu conhecimento e sabedoria (Ec 12.9).
Mas, o que me chamou a atenção foi uma de suas declarações no meio do livro de Eclesiastes. Não há dúvida de que todo o esforço de Salomão rendeu-lhe conhecimento e sabedoria diferenciadas que se destacavam. Impressiona, entretanto, a conclusão de ele chega diante de tudo isso. Ele escreveu: "Tudo isto experimentei pela sabedoria; e disse: tornar-me-ei sábio, mas a sabedoria estava longe de mim. O que está longe e mui profundo, quem o achará?... Eis o que achei, diz o Pregador, conferindo uma coisa com outra, para a respeito delas formar o meu juízo, juízo que ainda procuro e não o achei... Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias" (Ec 7.23-24, 27-28a, 29).
Salomão descobriu que toda a sabedoria e conhecimento que havia acumulado era nada diante do que havia por conhecer, um grão de areia no oceano...
Quando penso que essa conclusão foi a obtida por ninguém menos que Salomão, filho de Davi, a única coisa que passa pela minha cabeça é a seguinte: quem sou eu para me julgar sábio? Quem sou eu para me julgar conhecedor de algo? No final das contas, não sabemos de nada! Ninguém sabe nada quando comparado ao mistério que é a verdade perfeita, o conhecimento de Deus! Só Deus, em Sua onisciência, sabe de tudo. Nós, pessoas humanas, sabemos muito pouco. Nadamos numa gotícula de orvalho, crendo estarmos mergulhados no Pacífico!
Uma vez ouvi de um mestre que "a meia verdade é pior do que a mentira, e o meio saber pior do que não saber". À época, eu não entendi o que quis significar. Hoje entendo que ele quis me ensinar que conhecer pouco e julgar que conhecemos muito faz mais mal que bem, pois enganamos a nós mesmos com a ilusão de que sabemos, quando não sabemos. Ser ignorante quanto a ignorância é a raiz da presunção e da petulância, enquanto a consciência da ignorância conduz à humildade. Se ao filósofo grego Sócrates (séc. V a.C.) é atribuído o axioma "só sei que nada sei", temos em Salomão (séc. X a.C.), que viveu cinco séculos antes, um reconhecimento parecido da limitação que caracteriza o ser humano.
Enfim, devemos reconhecer nossa falibilidade, nossa fragilidade, nossa ignorância. A verdade é que a sabedoria está longe! Mas, é o próprio Salomão quem incita a busca-la: "Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento" (Pv 3.13). "Quanto melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! E mais excelente, adquirir a prudência do que a prata!" (Pv 16.16). Salomão também aponta a fonte da sabedoria, orientando todo aquele que deseja tornar-se cada vez menos ignorante e mais sábio:
"se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento" (Pv 2.4-6).
Sejamos humildes o suficiente para admitirmos que não sabemos tudo, e que o que sabemos, se sabemos, é pouco. Mas continuemos a buscar a sabedoria em Cristo, pois "Nele estão escondidos todos os mistérios da sabedoria e da ciência" (Cl 2.3).

Deus abençoe.