Livros de Teologia


quinta-feira, 30 de junho de 2016

Atenção, perdão e cura. Você quer?

"se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra" (IICr 7.14)

Este é um versículo muitíssimo conhecido da Bíblia. Ele é muito lembrado sempre que reuniões de oração e nas intercessões em favor da nação e das mazelas que afligem nosso povo. Faz sentido, pois, afinal de contas, é o verso onde "Deus promete sarar nossa terra".
O verso, que é um trecho da resposta que Deus dá à uma oração feita por Salomão no capítulo anterior (IICr 6.12-42), vem na solenidade de consagração do templo que acabara de ser construído, idealizado por Davi, edificado por Salomão.
O povo a quem Deus se refere é o que povo "que se chama pelo Nome Dele", isto é, o povo que invoca o Seu nome. É uma palavra para o povo de Deus, ou para aqueles que desejam tornar-se povo Dele.
No verso, Deus faz não só uma promessa, mas três. Ele diz que 1) ouvirá do céu a Seu povo; 2) perdoará seus pecados e 3) sarará sua terra. A primeira, Deus ouvir do céu as orações de Seu povo, é a promessa de que Sua boa vontade sempre estará à disposição, pois Ele estará sempre de prontidão para ouvir, Se importando com as causas do Seu povo. A segunda, referente ao perdão dos pecados, é a promessa de que haverá remissão para todo aquele que se achegar a Ele. A terceira, a cura da terra, é a restauração ecológica e climática da região, trazendo saúde, equilíbrio e sustento para Seu povo. Vemos isso no verso anterior, onde Deus resume todo um trecho da oração de Salomão, usando a escassez de chuva, pragas nas lavouras e pestes no meio do povo como exemplos de meios que Deus usa para disciplinar Seu povo pelos seus pecados. Portanto, a cura da terra é o resultado do perdão dos pecados, que é o resultado de Deus ouvir Seu povo.
Mas, para que isso aconteça, Deus impõe condições. A origem destas condições? - a oração de Salomão. Deus resumiu os atos de piedade que Salomão descreveu como iniciativas do povo de Deus quando em situações de crise, listando quatro condições para que as promessas sejam alcançadas: 1) o povo deveria se humilhar; 2) o povo deveria orar; 3) o povo deveria buscá-Lo e 4) o povo deveria se converter dos seus maus caminhos. Essa humilhação a que se refere Deus não é a humilhação que injuria, desacata, zomba e ultraja; essa é pecado (Mt 5.22; Lc 22.63; 23.35; At 2.13).
Essa humilhação que Deus pede é o reconhecimento da condição de culpado de pecado e seu consequente abatimento; é o humilhar-se reconhecendo-se indigno da bondade e bênção de Deus, pois o pecado afrontou Sua santidade e justiça; é a viva consciência da distância entre um pecador e Deus, e o peso esmagador da tristeza que essa distância causa, tanto em nós, quanto em Deus que nos ama; é o quebrantamento que nasce quando nos percebemos responsáveis pelas lágrimas do puro e gentil Criador; é a expressão do desespero da alma que, caindo em si, vê-se impotente e limitado por causa do pecado, e por isso mesmo é completamente dependente de Deus.
E como essa humilhação deve ser apresentada a Deus? Pela oração! Nesse verso, quando Deus exige que o povo ore, não fala de qualquer oração, mas daquela feita na humilhação, ansiando pelo perdão do Senhor. A oração é o modo pelo qual nossa humilhação se traduz em linguagem falada, redundando em súplicas e rogos diante do Deus de misericórdia e graça. Sem oração, não haverá perdão. Sem oração, não haverá cura.
Deus também exige que o povo O busque. Essa busca tem a ver com as motivações do coração. Até mesmo orações muito bonitas e eloquentes podem ser vãs se o coração não está adequadamente motivado. Tiago ensina que a motivação errada anula a oração (Tg 4.3; cf. Pv 15.8; 28.9). Buscar o Senhor é colocar todo o coração Nele, tornando-O nosso tesouro mais precioso (Jr 29.13; Mt 6.21). Reconhecer culpa e orar, mas sem colocar o coração bem motivado na busca pelo Senhor e a Sua justiça é, simplesmente, nadar, nadar, e morrer na praia (Mt 6.33; 15.8). Deus não Se deixa enganar por lábios lisonjeiros (Pv 7.21; 26.28), ou mesmo por lágrimas insinceras (Hb 12.17). Ele sonda os corações e esquadrinha a alma (Sl 139.1; Pv 21.2). Buscar ao Senhor é dispor o coração para encontrá-Lo!
A última exigência da lista do verso em questão é, praticamente, um efeito das três antecedentes. Deus pede que Seu povo se converta dos seus maus caminhos. Se converter dos meus caminhos é voltar, deixar de prosseguir por eles, assumindo outro rumo na vida. Aqueles que se assumem pecadores, até oram e parecem buscar ao Senhor, mas que não apresentam mudança no caminho que trilham estão enganados ou enganando, pois tudo isso é falso se não produzir tal mudança de caráter, de valores e de objetivos na vida.
Em suma, o que Deus está pedindo do Seu povo para que as promessas sejam liberadas sobre eles é que comecem, desenvolvam e completem o processo de conversão. Não basta admitir apenas um ou dois itens da lista, pois todos estão interligados. Deus nos ouvirá, nos perdoará e derramará cura sobre nossa terra quando a conversão provocar mudanças notáveis, quando o caminho mau for abandonado e o Caminho correto, que é Jesus (Jo 14.6) for trilhado.
E você? Já está neste processo? Se não, eis a hora! Deus quer nos perdoar e sarar...

Deus abençoe.
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* Você poderá ler mais sobre oração aqui: Como é a oração que Deus se agrada?
* Você poderá ler mais sobre conversão aqui: Arrependei-vos e convertei-vos!

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Eu tenho Dono! E você?

"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (IPe 2.9).

Crê-se que o apóstolo Pedro escreveu esta primeira carta para os cristãos que padeciam sob as impiedosas perseguições promovidas pelo imperador romano Nero, época extremamente difícil para os servos de Jesus. Seu propósito principal é encorajar os irmãos a permanecerem firmes na fé cristã a despeito dos sofrimentos, e para isso o apóstolo lembra-lhes, no versículo acima, os privilégios de pertencer a Cristo e qual a natureza verdadeira da Igreja do Senhor. Com isso, temos grandes lições para aprender.
Pedro chama os cristãos de raça eleita. Como judeu de nascimento e crescido na religião judaica, Pedro sabia bem que o povo judeu foi eleito por Deus para grandes obras e propósitos, sendo o maior deles manifestar o Messias, Jesus, ao mundo, além de nos legar as Escrituras da antiga aliança, o Velho Testamento. Portanto, quando Pedro chama a Igreja de raça eleita ele afirma, assim, que a Igreja é o povo de Deus, escolhido para manifestar o Cristo ao mundo e anunciar Sua Palavra.
O povo de Deus é também sacerdócio real, isto é, um povo constituído inteiramente de sacerdotes. Antes de Jesus, os sacerdotes eram apenas os descendentes de Arão, pertencentes à tribo de Levi. A função dos sacerdotes era intermediar os sacrifícios entre os homens e Deus. Mas, em Cristo, todo crente é um sacerdote, e isso não depende mais da sua ascendência. Cada cristão exerce, de certa forma, o sacerdócio, pois pode ter uma relação pessoal e direta com Deus, sem precisar de uma intermediação humana, pois Cristo agora é o único Mediador entre Deus e os homens (ITm 2.5; Hb 8.6; 9.15; 12.24). Todo cristão deve exercer seus dons e empregar seus talentos nessa tarefa sacerdotal de conduzir os homens a Deus, por meio de Jesus Cristo.
Pedro chama a Igreja de nação santa, pois o povo que leva o Nome de Jesus deve ser santo à Sua semelhança. Pedro já havia insistido nisso no primeiro capítulo da carta: "pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo" (IPe 1.15-16). Todo crente deve buscar ardorosamente a santidade e zelar pelo testemunho do Nome de Cristo que representa como cristão. Não é possível, em hipótese alguma, que alguém que não se esforce para santificar-se, que não lute contra o pecado, seja de fato um cristão. O povo de Deus é marcado pela santidade, pois é nação santa!
Das quatro características do povo de Deus que Pedro apresenta no verso, essa última é a que mais me impressiona. Ele diz que a Igreja é povo de propriedade exclusiva de Deus. Sim, isso mesmo. A Igreja é 'propriedade exclusiva de Deus'. Em outras palavras, a Igreja tem Dono! Claro que não é um dono humano, como algumas organizações e "igrejas" por aí, onde um homem manda e desmana, tendo sua voz como infalível. A Igreja tem um Dono Perfeito, que é Deus. Por isso a Igreja, ou seja, eu e todo cristão, não temos o direito de fazermos o que nos dá na telha; não temos o direito de fazer o que quisermos como bem entendermos, pois TEMOS DONO! Ah, e pertencemos a UM DONO SÓ, pois Pedro diz que essa propriedade é exclusiva! Ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6.24). Cristão não é 'dono do próprio nariz', para usar uma expressão bem popular. Cristão é aquele que, em verdade, age sob ordens e orientação do Seu Dono, guiado por Ele, autorizado por Ele, mesmo quando o que pensa e sente é contrariado pelo seu Senhor. Isso é ser cristão. Jesus também falou isso com outras palavras quando disse que se alguém quisesse segui-lo, ou seja, ser um discípulo Seu, deveria negar-se a si mesmo (Mt 16.24). O que é negar-se a si mesmo, senão submeter-se completamente ao senhorio de Jesus? É tão comum encontrar pessoas que aceitam prontamente Jesus como o Salvador de suas almas, para que escapem do inferno e durmam com a consciência tranquila; mas é difícil encontrar aqueles que negam-se a si mesmos com a mesma prontidão, recebendo Cristo também como SENHOR. Precisamos entender de uma vez por todas que, se alguém quer Cristo como Salvador, mas não o toma como Senhor, não vai para o céu! Sim, é dura essa verdade. Mas essa é a verdade. Leia o diz Jesus: "Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?" (Lc 6.46). "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus" (Mt 7.21).
Em suma, para que alguém desfrute dos privilégios e da honra de ser raça eleita, sacerdócio real e nação santa, precisa ter Jesus como Dono, como proprietário exclusivo. Repito: Se Jesus não é o seu Senhor, Ele também não é seu Salvador!
E para quê somos tudo isso? Para anunciar as virtudes do nosso Dono, que nos chamou das trevas do pecado e da ignorância para Sua maravilhosa luz. Note que Sua luz é maravilhosa, e como é... Perceba também que, se alguém se diz cristão, mas não anuncia Jesus às pessoas, não cumpre o propósito de ser propriedade exclusiva de Jesus, de ser raça eleita, de ser sacerdócio real, de ser nação santa. Logo, pensamos: será, então, que é cristão de fato???
Bom, esse é um verso lindo, que lembra de privilégios tremendos, que encoraja o crente durante os momentos de dor e sofrimento, mas que exige uma séria reflexão da fé e da vida que vivemos.
E você? Já tem dono? Se não, eis a hora de entregar-se, sem reservas, a Jesus como seu Salvador e Senhor pessoal. Basta que abra teu coração e sinceramente se renda ao Seu amor.

Deus abençoe.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Prudência: pensar antes de agir!

"Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado" (Pv 19.2)

A vida é uma coisa interessante. Ela vai acontecendo e aprendemos coisas tão importantes, que as vezes são também tão simples, e ficamos chocados com o fato de não termos notado essas coisas antes. Como foi que eu não percebi isso antes? Onde é que eu estava com a cabeça que não me toquei antes? Essas são perguntas que surgem quando nos deparamos com algumas dessas lições simples e importantíssimas que aprendemos com o tempo.
Uma dessas coisas é a chamada prudência. O dicionário Houaiss[1] define prudência da seguinte forma: "1. virtude que faz prever e procura evitar as inconveniências e os perigos; cautela, precaução; 2. calma, ponderação, sensatez, paciência ao tratar de assunto delicado ou difícil". É essa paciência ao tratar assuntos, essa habilidade de ponderar calmamente, com siso, para evitar inconveniências que não é uma característica comum do início da vida. A juventude é, normalmente, marcada por uma dose considerável da imprudência, e é nessa fase da vida que a maioria de nós cometemos as maiores burradas, das quais nos lembraremos para sempre; algumas tornar-se-ão motivos de boas risadas, outras de lamentos terríveis...
Ser prudente é ser sensato, precavido, cauteloso. É refletir antes de tomar decisões, antes de agir. Repito o texto acima para nossa fixação: "Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado" (Pv 19.2). Ah, se nos lembrássemos desse texto sempre que uma decisão está para ser tomada... Talvez algumas cicatrizes em nosso corpo, outras no coração, não estivem lá. Quem não lamenta algum investimento daquele dinheirinho suado que custamos juntar, mas que terminou em prejuízo. Quem não lamenta aquele tempão que gastamos em algo que, no final, se mostrou desperdiçado. Quem não lamenta - e aqui creio que todos se enquadram - aquela compra onde escolhemos o produto mais barato, mas morremos de raiva quando o produto quebrou ou não funcionou, e foi preciso comprar outro, melhor e mais caro dessa vez... Ah, se a prudência estivesse lá para nos alertar...
Temos a tendência de agir sem pensar, sem refletir. Ser impulsivo é algo comum, principalmente na geração dos estímulos em que vivemos. As pessoas compram por impulso, agem por impulso, namoram por impulso... e principalmente, falam por impulso. O sábio tinha razão: "No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente" (Pv 10.19). Isso vale para todas as áreas da vida. Prudência é controlar os impulsos, e agir somente depois de refletir sobre as possibilidades. Jesus falou sobre o homem que age por impulso e, depois, amarga a vergonha e o prejuízo. Leia atentamente:
"Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar" (Lc 14.28-30).
A Bíblia recomenda fortemente a prudência e a moderação (Pv 1.4; Mt 7.24; 10.16; 24.45; 25.2-9; Ef 1.8; Fp 4.5; IITm 1.7). Não se deixe levar pelos impulsos, reflita antes de decidir e agir. Desenvolva o hábito de planejar, se aconselhar e ouvir o Senhor. Busque o fruto do Espírito Santo (Gl 5.22-23), que traz consigo o domínio próprio, virtude que impõe rédeas aos impulsos. Não seja refém da pressa e da ansiedade, mas procure exercitar a virtude da paciência e da longanimidade, que também estão no fruto do Espírito. Não se iluda com a propaganda, o marketing e outras formas de 'mentira legalizada', que se alimentam exatamente da impaciência e imprudência alheia. Não se deixe convencer facilmente, mas firme-se na verdade. Seja sábio e prudente em tudo!
E você? Como tem vivido? Prudente ou imprudentemente? Pense nisso!

Deus abençoe.
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[1] Dicionário Eletrônico Houaiss, versão 3.0, junho de 2009.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Quem responde pela tua fé?

"sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18b).

Existem perguntas que são frequentemente feitas aos pastores. Essa semana uma delas me foi feita novamente, e fiquei pensando nela por alguns dias. A pergunta foi: "Pastor, o que a Igreja pode fazer para ajudar os jovens cristãos a permanecerem firmes, enquanto o mundo oferece tantas coisas que parecem muito atrativas?". Essa pergunta, mesmo que formulada um pouco diferente a cada vez, é uma das mais frequentes. As vezes ela é feita por jovens, outras vezes pelos pais de jovens que estão 'fracos na fé' e perdendo o interesse nas atividades da Igreja.
Eu consigo perceber a preocupação das pessoas que fazem essa pergunta, principalmente quando ela vem pelos pais. Todavia, quero sugerir uma outra leitura da situação, um olhar por um prisma diferente, na tentativa de estimular reflexões e respostas para essa pergunta.
A primeira resposta que dei para essa pergunta foi uma outra pergunta. Eu perguntei: "O que os jovens podem fazer para que a Igreja permaneça firme, mesmo num mundo com tantos desafios?". Percebeu que eu inverti a pergunta? Se essa for respondida, então a outra também será.
Depois, eu respondi a quem me perguntou que essa pergunta só é feita pelas pessoas que não se consideram Igreja ou que não entenderam o que é ser Igreja. Igreja é a comunidade, a coletividade das pessoas que creem em Jesus como Seu Salvador e Senhor pessoal e coletivo, e que se esforçam para viver sob Seus ensinos, tendo a Bíblia como única e suficiente regra de fé e prática. Isso inclui os jovens. Porém, quando perguntamos: "o que a Igreja pode fazer para que o jovem fique firme", estamos dizendo que a Igreja e os jovens são grupos distintos, mas a verdade é que, se esses jovens creem em Jesus, então eles também são Igreja! Ora, se os jovens são Igreja, então a pergunta deveria ser feita assim: "o que a Igreja pode fazer para que a Igreja fique firme", pois os jovens são Igreja também! Os jovens não devem pensar que a Igreja são os adultos cristãos, enquanto eles são qualquer outra coisa. Não, os jovens que creem também são Igreja, portanto, eles devem fazer algo para que fiquem firmes, tanto quanto os adultos devem fazê-lo.
Outra implicação interessante do entendimento correto de Igreja é que a pergunta pode ser devolvida aos jovens assim: "O que os jovens da Igreja podem fazer para que os adultos da Igreja fiquem firmes, pois o mundo também oferece tentações e desafios monstruosos aos adultos?".
Devemos nos lembrar que ser Igreja é se responsabilizar e se importar com o outro. Adultos da Igreja devem se importar e colaborar para que os jovens da Igreja permaneçam firmes, mas os jovens também devem se importar e colaborar para que os adultos e crianças da Igreja fiquem firmes. A juventude cristã não deve se vitimar e ser passiva na vida da Igreja. Leia o que o apóstolo João escreveu: "Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno" (IJo 2.14b).
E isso não é só para os jovens. Serve para qualquer pessoa cristã. Pergunte-se o que você pode fazer para que a Igreja fique firme, e então poderá perguntar o que a Igreja pode fazer para te ajudar a ficar firme.
Não, eu não estou tentando desviar a responsabilidade da Igreja, como Corpo de Cristo, de preocupar-se com a juventude e discutir assuntos e estratégias para ajudar os jovens a crescerem na sua fé. O que estou me esforçando para fazer aqui é lançar um novo olhar sobre a questão, mostrando que a responsabilidade é compartilhada por quem pergunta, pois normalmente faz parte da Igreja. A pergunta que sempre fazem, do que a Igreja pode fazer para firmar os jovens na fé, parece supor que se a Igreja ficasse sem adultos e fosse formada só por jovens, então ela se desmancharia, pois os jovens não conseguem permanecer na fé sem os adultos. A pergunta parecer partir de um pressuposto de que jovens cristãos só conseguem ficar firmes na fé se adultos fizerem algo, e isso é um absurdo e, ouso dizer, maligno! Há, de fato, uma interdependência no Corpo de Cristo, que é a Igreja, mas o jovem precisa aprender que os adultos podem colaborar e ajudar muito, mas que eles  podem encontrar em Deus e na Bíblia tudo o que precisam para manter-se firmes na fé.
Nós somos os primeiros e maiores responsáveis pela manutenção da nossa própria fé, e isso precisa ficar claro. A Igreja tem seu papel na minha vida (leia a reflexão 'A Igreja é necessária?'), mas minha vida devocional pessoal eu posso desenvolve-la sozinho. A qualidade da Igreja, aliás, é o resultado da qualidade da vida devocional de cada membro dela.
Espero que esta reflexão lance novos olhares sobre a questão da responsabilidade da Igreja e do indivíduo sobre a fé pessoal, não só dos jovens, mas de todo cristão. Quem responde pela minha fé sou eu! E quem responde pela tua é você! Apesar disso, nós devemos nos estimular na fé, ao amor e às boas obras (IICo 9.2; Hb 10.24).
Enfim, como tem sido tua vida devocional pessoal? Você tem lutado para nutrir e desenvolver tua fé? Como você tem colaborado para que a Igreja fique firme?

Deus abençoe.

sábado, 25 de junho de 2016

Esconde-esconde com Deus

"Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte..." (Jr 29.13-14a).

Gosto muito desses versos da Bíblia, muito mesmo. Acho-os escandalosamente desafiadores! Eles me provocam, me atiçam. Mexem profundamente com o meu humor; sempre que os leio, tenho reações diferentes. Algumas vezes eles me pegam desprevenido, e me jogam lá em baixo, e me sinto muito mal, como se fosse incapaz de buscar Deus desse jeito tão intenso. Quando isso acontece sempre me vem à mente alguns outros versículos da Bíblia, como Rm 3.11, que diz que "não há quem busque a Deus", e Jr 17.9, que diz que o "enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?". Aí eu sou tomado de uma convicção enorme da distância que há entre o eu que sou e o eu que deveria ser, e uma consciência esmagadora de limitação, dependência, pequenez e imperfeição me arrebata, e chego a dizer como Paulo: "sou o principal dos pecadores" (ITm 1.15) e "desventurado homem que sou" (Rm 7.24).  Mas há vezes que os leio e sou tomado de uma coragem e bravura sem igual, como se fosse capaz de romper florestas, atravessar mares, transportar montes e suportar qualquer sofrimento, só para encontrar-me com esse Deus... Não me leve a mal, nem se apresse a me condenar por isso, mas por causa dessas reações eu chamo esse texto, particularmente e livre de qualquer preconceito ou maldade, de "texto das reações bipolares". Não num sentido pejorativo ou irreverente, mas tendo em vista minhas experiências com os versos... Mas, afinal de contas, esse trecho da Escritura sempre provocará reações naquele que os ler com coração atento; quem os lê sem reação alguma, não os leu como deveria...
Acredito que essas duas reações estavam nos planos de Deus quando inspirou o profeta Jeremias para escrever essa parte. Creio que Ele quis mesmo provocar um senso de distância entre nós e Ele, pois isso nos faria perceber que precisamos "buscá-Lo". Creio que Ele quis expor claramente que busca-Lo deve envolver todo nosso ser e toda nossa vida, ou seja, fazê-lo com todo nosso coração. Creio que Ele garantir que seria "achado por nós" é como antecipar o prêmio da tão intensa busca, para nos motivar e encorajar no processo. Creio que Ele quer mesmo que O encontremos, e isso é simplesmente demais, você não acha?!
Esse "serei achado de vós" é extraordinário, divinamente deslumbrante. Ele me faz ver Deus como um Pai que, brincando de esconde-esconde com seu filhinho pequeno, esconde-se atrás da porta, mas na verdade escondeu apenas a cabeça, deixando todo o resto do corpo à mostra, como os pais fazem com seus filhinhos 'pititinhos', para facilitarem o encontro. Mesmo assim, quando seus pequeninos demonstram dificuldades em encontra-Lo, mesmo com o Pai dizendo aqueles universais "cadê papai? Vem neném, cadê papai?" para orienta-los na busca, o Pai de um salto pula na frente dos pequeninos dizendo "achou... achou papai", e os pequenos O abraçam apertado, rindo alto por crerem de verdade que foi eles que O acharam, quando o Pai sabe que foi Ele Quem se fez encontrar... Os teólogos medievais e alguns reformadores disseram que Deus pode e quer ser conhecido, mas ao mesmo tempo que é o Deus absconditus (Deus escondido), que vê em secreto, invisível, que não pode ser visto (Mt 6.4, 6, 18; Jo 1.18; Cl 1.15; ITm 1.17; Hb 11.27).
Enfim, o que importa mesmo é perguntar, você tem buscado a Deus? Faz isso de todo o teu coração? Toda a tua vida, envolvendo sentimentos, intelecto, relacionamentos, família, emprego, dinheiro, tempo, sonhos, tudo está a serviço dessa busca? Deus só poderá ser encontrado por aqueles que O buscarem de todo o coração, com tudo o que são e possuem... Deus é o objetivo maior da tua vida? Se honestamente tua resposta for sim, então prepare-se, pois a qualquer momento Ele vai pular na tua frente! A qualquer instante Ele 'será achado por ti', e fará mudar a tua sorte, ou seja, mudará tua vida completamente. Ninguém que O encontra permanece o mesmo. O encontro pessoal, real, íntimo com Deus muda tudo, mexe com tudo. Nossos valores mudam. Nossos sonhos mudam. Nossos sentimentos e emoções sofrem alterações radicais. Nossa maneira de ver a vida e a realidade sofre transformações profundas. Na verdade, muda-se tanta coisa, e de forma tão profunda, que a Bíblia diz que passamos a ser novas criaturas (IICo 5.17; Gl 6.15).
E aí? Você já é um novo você? Ou ainda é o velho você?

Deus abençoe (e seja encontrado por ti)...

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Você quer ficar rico?

"Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores" (ITm 6.7-10).

A ganância é um pecado seríssimo. O desejo desmedido, exacerbado de ter e acumular riquezas nesta terra é uma armadilha antiga na qual os homens tem caído, e o diabo é mestre em arma-la. O desejo de ficar rico tem sido a mola mestra do mundo a muito tempo e, embora o capitalismo tenha lucrado com esse desejo humano, os sistemas econômicos são apenas efeitos, quando a causa encontra-se internalizada na natureza humana, caída, pecaminosa.
A riqueza não é pecado. Alguns homens de Deus, na Bíblia, foram ricos. Abraão (Gn 13.2); Jacó (Gn 30.43); Jó (Jó 1.3); Salomão (Ec 2.8); Josafá (IICr 18.1); José, de Arimatéia (Mt 25.57). O pecado não é possuir muito dinheiro, mas desejá-lo. O apóstolo Paulo disse não que os ricos caem em tentação, mas disse que os "que querem ficar ricos caem em tentação". É o desejo de ficar rico que Deus está tratando no texto, e não a riqueza.
Por que Deus, pelo apóstolo, se preocupa em alertar os crentes de tal perigo do desejo de enriquecer-se? Porque esse anseio pode cegar facilmente uma pessoa, e tirar-lhe o foco do que realmente importa na vida. O texto diz que tentação, cilada, concupiscência insensata e perniciosa, isto é, desejos desajuizados e nocivo, afogam os homens na ruína e na perdição. Poucas declarações são tão clara e visivelmente observadas na vida. A corrupção na política, por exemplo, é uma das maiores provas da verdade desse texto. O desejo de ficar rico é uma tentação implacável para os políticos, e as ciladas são muitas no âmbito do poder. As concupiscências perniciosas os levam a cometer crimes e insensatez de todo tipo, sempre para obter poder e dinheiro. Além da política, outro exemplo facilmente observado é o dos religiosos ávidos por dinheiro, que fazem da fé e da piedade fonte de lucro, e este é, justamente, o assunto do contexto que Paulo está tratando aqui. Há também que se case por dinheiro; mate por dinheiro; ... até finja que não viu o troco a mais por amor ao dinheiro...
O argumento do apóstolo está baseado no fato de que nada trouxemos para este mundo e nada também levaremos dele, no que tange às riquezas desta vida. Por isso, o incentivo é a um estilo de vida simples: "tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes". Paulo não está dizendo que voto de pobreza é necessário ao cristão. Não, ele está dizendo que o cristão não deve colocar seu coração nas riquezas, ao mesmo tempo que deve ser grato e saber viver contente com o que possui; vestuário e alimento ilustram as necessidades básicas. E aí é outro problema muito comum. Há muitas pessoas que não conseguem ser gratas pelo que tem, pois seu coração e seus olhos estão sempre fitos no que ainda não tem. Lamentam e murmuram por causa da sua "pobreza" e da riqueza que não possuem, perdendo a oportunidade santa de agradecer por terem o que Deus já concedeu. Sempre veem o que falta, nunca o que já possuem. Pessoas assim podem até chegar à riqueza que sonharam, mas perderão sua alma no caminho. Paulo diz que esse desejo, que é maligno, "afoga os homens na ruína e perdição". Quem é seduzido pela riqueza deste mundo para servi-la e cultua-la, torna-se idólatra: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mt 6.24). Idólatra é todo aquele que inverte as prioridades que Deus estabeleceu, "buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33). Buscam primeiro as demais coisas, deixando o reino e a justiça de Deus para serem acrescentadas. Idólatras não entrarão no céu (ICo 6.9; Ap 21.8; 22.15).
"O amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores". Desviar-se da fé cristã por amor ao dinheiro é basicamente falar o óbvio, mas além disso Paulo acrescenta que se atormentam com muitas dores os que passam a amar as riquezas deste mundo. Sofrimentos e perdas esperam por aqueles que caem na cilada do desejo de ficar rico, e devemos evitar isso. Na verdade, embora a Bíblia não condene o ser rico, mas o amor à riqueza, ela também recomenda que os servos de Deus tenham um estilo de vida simples (note que eu não disse estilo de vida pobre ou miserável, mas simples), que não busca algo além do necessário para a dignidade da vida na terra[1]. "A riqueza apresentava problemas para a igreja primitiva, e recebeu, muitas vezes, a atenção dos escritores cristãos"[2].
E você? Como tem lidado com a riqueza deste mundo? Tem sido grato pelo que tem? Tuas prioridades estão alinhadas com as de Deus?

Deus abençoe.
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[1] Se quiser ler mais sobre estilo de vida simples, ou teologia da simplicidade, recomendo fortemente a leitura do seguinte livro: Stott, John W. R. O Discípulo Radical. Viçosa, MG: Ultimato, 2011. Poderá também ler os seguintes livros de Richard Foster: A Liberdade da Simplicidade e também Celebração da Disciplina.
[2] Allen, Clifton J., ed. ger. Comentário Bíblico Broadman: Novo Testamento. Vol 11. 2. ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1988. p. 401.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Doutrina e comunhão: o que tem a ver?

"Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro" (ITm 6.3-5).

A palavra 'doutrina' significa, basicamente, um conjunto de ideias fundamentais de um sistema, neste caso religioso e teológico; é o corpo de ensinos e crenças de um indivíduo ou grupo.
No texto acima, o apóstolo Paulo orienta Timóteo sobre os pregadores e mestres que ensinavam uma doutrina diferente daquele que Paulo havia ensinado a Timóteo, baseada diretamente nas sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo. Com esta expressão Paulo se refere ao ensino direto de Jesus e as explicações que os apóstolos fizeram destes ensinos de Jesus (cf. At 2.42), chamado de 'doutrina dos apóstolos', que nada mais é do que o ensino de Jesus retransmitido pelos apóstolos e explicado e aplicado à vida dos cristãos.
No tempo dos apóstolos alguns assumiram a fé cristã, mas por motivos errados. Por exemplo, no livro de Atos dos Apóstolos Lucas registra a história de Simão, o 'mago', que assumiu a fé cristã e chegou a ser batizado, mas depois revelou suas verdadeiras intenções de obter poder e status (At 8.13-24). Por causa de Simão o comportamento de assumir a fé ou um título eclesiástico com vistas a obter lucro e status é chamado de 'simonia'.  Hoje em dia isso acontece muito também.
A preocupação do apóstolo, então, é alertar e orientar Timóteo, mais novo no ministério da liderança cristã, a lidar com esse tipo de gente e de ensino. Para Paulo, quem ensina uma doutrina não baseada na doutrina dos apóstolos, ou que torce (ou distorce) essa doutrina, não concordando com o que Jesus realmente ensinou e os apóstolos retransmitiram, é 'enfatuado', ou seja, presunçoso, com um conceito de si mesmo exacerbado. Além disso, nada entendem, e acabam trabalhando contra a unidade e comunhão da Igreja de Cristo. São pessoas cujas mentes são pervertidas e estão privados da verdade, portanto, vivendo na mentira e no engano.
Quero focar, entretanto, na questão de que onde não há uma identidade doutrinária não pode haver comunhão. É necessário que um grupo de pessoas creiam e pensem do mesmo modo, pelo menos nas questões de doutrina, para que vivam em plena comunhão e unidade. A presença de doutrina diferente quebra o espírito de unidade, prejudicando a comunhão do corpo de Cristo que é a Igreja.
Daí pergunto: qual o valor da doutrina? Qual o valor do ensino bíblico? Qual a função da aplicação teológica e do ensino doutrinário na Igreja? Ora, o valor disso encontra-se na colaboração da unidade e da comunhão da Igreja, além do mais importante, que é garantir que essa Igreja ande sempre sob a luz da doutrina apostólica, permanecendo fiel às sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo.
Vale lembrar que não é pelo nome do grupo que se identifica a doutrina apostólica. Um grupo de pessoas pode chamar a si mesmo de apostólico, de cristão, de evangélico, de igreja, mas se o seu corpo doutrinário não for fundamentado na Bíblia, e obtido através de uma interpretação coerente e sadia, que respeite as regras hermenêuticas (regras da interpretação bíblica) e trate o texto bíblico com reverência e honestidade, então pode ter o nome que quiser, mas não é cristão, nem apostólico, nem bíblico.
Além disso, Paulo diz que os mestres de outras doutrinas não concordam também com o ensino segundo a piedade, ou seja, seu ensino não vem acompanhado de uma vida de santidade. Aquele que ensina mas não vive, não é da parte de Jesus e dos apóstolos!
E você? Qual o valor que você dá ao estudo da Bíblia? Quanto você valoriza os bons mestres e as oportunidades que tem de aprender mais profundamente a doutrina dos apóstolos? Paulo dava tanto valor aos bons mestres, reconhecendo sua importância para a saúde da Igreja, que chegou a recomendar o seguinte: "Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros [líderes e mestres] que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino" (ITm 5.17).
Valorize o estudo bíblico profundo, coerente, reverente, e piedoso. Valorize seu professor da Escola Bíblica Dominical. Frequente a Escola Bíblica Dominical. Valorize o pastor que se dedica minuciosamente no estudo da Bíblia e da teologia bíblica. Viva o que aprendeu e busque a santidade... A tua doutrina poderá dizer se você concorda ou não com as palavras de Jesus!

Deus abençoe.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Crescendo diante de Deus e dos homens

Jesus ensina no templo com 12 anos
"O menino crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até ao dia em que havia de manifestar-se a Israel" (Lc 1.80). "E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens" (Lc 2.52).

Os dois primeiros capítulos do Evangelho de Lucas terminam com versos muito semelhantes. Lucas, um médico (Cl 4.14), historiador (Lc 1.3), missionário (Fm 1.24) e evangelista era muito atento aos detalhes, como é próprio dos homens da ciência. Ele gosta de encerrar trechos do seu Evangelho com versos que resumem a ideia exposta nos anteriores, e os dois versículos que lemos acima são prova disso.
O primeiro verso fala sobre João Batista; o segundo, sobre Jesus. Estes dois homens aparentados (Maria era parente de Isabel, mãe de João - Lc 1.36) nasceram na mesma época e tinham idade pareada (Lc 1.39-42).
Pouquíssimo se sabe sobre a infância e adolescência dos dois. Entretanto, isso não é de se estranhar, pois o propósito da Bíblia não era registrar a vida toda dos dois, mas apenas o que importava para evidenciar Jesus como Cristo e João como Seu precursor. Todavia, Lucas nos brinda com estes dois versos que resumem este período de silêncio histórico da vida dos dois.
Jesus cresce em sabedoria
Jesus, encarnado na concepção miraculosa do Espírito Santo em Maria (Lc 1.26-38), nasceu e cresceu como um ser humano, passando pelas fases da vida. Lucas diz que Ele crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens. Ao falar de João, diz que ele crescia e se fortalecia em espírito, mas não diz que ele crescia em graça diante dos homens. Entende-se que João crescia espiritualmente, mas nas relações sociais, diante dos homens, parece que ele não pôde desfrutar da mesma condição de Seu mestre. Talvez pelo fato de viver no deserto desde novo até o dia em que começou seu ministério, já adulto, não construiu muitos relacionamentos sociais que lhe permitissem "cair na graça" dos homens. É possível também que a personalidade de João fosse bem diferente da de Jesus, pois seu ministério severo e de duras palavras parecem indicar isso, o que dificultaria ainda mais que se tornasse atraente para amizades. Mas, no final, só podemos fazer conjecturas aqui; o fato é que ele não contou com a mesma graça que Jesus obteve diante dos homens durante aquela fase da vida. Já Jesus crescia em graça diante de Deus e dos homens, além de crescer em sabedoria e estatura.
O que quero destacar aqui é que, tanto João quanto Jesus, cresceram diante de Deus, e não somente diante dos homens. Vivemos um tempo em que há uma pressão muito grande sobre o indivíduo para que ele cresça diante dos homens. Precisamos crescer profissionalmente, financeiramente, intelectualmente, socialmente, etc. A concorrência está cada vez mais selvagem, e a lei do mundo é que o "maior engole o menor", portanto, a ordem é cresça o mais rápido possível. Nessa pressão muitas vezes o cristão, quando se dá conta, está tão envolvido na luta pelo crescimento diante dos homens que esquece de crescer diante de Deus. Ele conquista muita coisa diante dos homens, mas se perde diante de Deus ou, no mínimo, sua fé fica estagnada, e acaba esfriando e perdendo o primeiro amor.
Jesus cresce diante dos homens
Convido você a refletir nisso. Ainda vivemos neste mundo, e isso traz consigo os desafios da vida humana. Precisamos, sim, crescer diante dos homens. Só não podemos parar de crescer espiritualmente. Não podemos parar de crescer em sabedoria e graça diante de Deus. Quem pára de crescer em sabedoria e graça diante de Deus pode até ganhar o mundo inteiro, mas perderá a alma. Leia com atenção o que Jesus disse: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (Mc 8.36). O autor da carta aos Hebreus fala duramente contra a estagnação espiritual daqueles crentes, dizendo: "Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal" (Hb 5.12-14). Aqueles crentes pararam de crescer! Pelo tempo, já deveriam estar ensinando outros, mas estavam precisando voltar a serem ensinados nas coisas mais elementares da fé cristã. O autor ainda diz que é a prática que exercita as faculdades do discernimento e produz crescimento.
O crente que pára de crescer espiritualmente, em sabedoria e graça diante de Deus, corre um sério risco!
Não pare de crescer diante dos homens, mas principalmente diante de Deus. Busque na prática cristã o crescimento na graça diante de Deus. Que Ele nos perdoe pela estagnação espiritual e nos ajude a crescer diante Dele!

Deus abençoe.

terça-feira, 21 de junho de 2016

A Igreja é necessária?

"Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima" (Hb 10.24-25)

Tem se tornado cada vez mais comum encontrar pessoas que, por um motivo ou outro, dizem viver seu "cristianismo" com Jesus, mas sem a Igreja. Alegam independência, argumentando que precisam de Deus, mas não de Igreja; precisam de Jesus e de ninguém mais. Será??? O que a Bíblia diz sobre isso?
Bom, os dois versículos do capítulo dez da carta aos Hebreus, transcritos acima, deixam claro que é dever dos cristãos considerarem-se uns aos outros, para estímulo recíproco ao amor e às boas obras, e que jamais devemos deixar de nos congregar. O que é congregar? Congregar é juntar-se, reunir-se. Ora, se não deve o cristãos deixar de reunir-se com outros cristãos, como posso ser um cristão negando isso? A quem estimularei ao amor e às boas obras no isolamento? É possível até fazer alguma coisinha lá da minha casa, pela internet ou pelo telefone, que seja, mas não dá para cumprir o "congregar-nos" sem irmãos na fé, juntos, adorando a Deus, admoestando uns aos outros e estimulando-se ao amor e às boas obras.
Há, ainda, outro viés possível para esclarecer que não dá para ser cristão sem congregar[1]. Leia o que Jesus disse sobre a Igreja: "Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18). Leia também o que o apóstolo Paulo escreveu sobre a Igreja: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela" (Ef 5.25). Agora pensemos. Quem criou a Igreja? Jesus! Ele é Quem edificou a Igreja. Aliás, Ele chamou a Igreja de "a minha igreja". A Igreja é Dele, pois foi Ele quem a criou. E a criou por quê? Porque Ele amou a Igreja! E a que ponto Ele amou a Sua própria Igreja? A ponto de se entregar por ela, ou seja, quando Jesus morreu na cruz, morreu por amor à Igreja. Acompanhe a lógica: Jesus criou a Igreja e morreu na cruz por ela porque a ama. E alguém, hoje em dia, diz que ama Jesus mas não ama a Igreja? Como assim? Como será que Jesus receberá a adoração e a fé de alguém que diz, com sua postura e decisão de viver sem a Igreja, que Ele morreu e amou algo de que não precisamos? Ora, viver o cristianismo dizendo que a Igreja não é necessária e que não precisamos dela, é simplesmente dizer que Jesus é um idiota que morreu para criar algo de que não precisamos, algo sem valor, pois podemos ser tudo o que Ele pede que sejamos sem essa tal de Igreja. Anote aí nas tábuas do seu coração: Jesus JAMAIS aceitará a adoração de alguém que, deliberada e voluntariamente, rejeita a Igreja que Ele criou, amou, e se entregou por ela!!!
Ainda há outra maneira de provar a necessidade e valor da Igreja. A Bíblia ensina que, pela fé em Jesus, nos tornamos filhos de Deus: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome" (Jo 1.12). Então pensemos juntos. Alguém vira e diz que quer Deus como Pai, pois crê em Jesus. Mas e os outros que também creem em Jesus? O que são eles? Ora ora, anote aí também nas tábuas do seu coração: Deus não pode ser Pai daquele que não aceita Seus filhos como irmãos!!! Até nós, humanos, somos assim. Se alguém tem filhos, mas um outro diz que nos ama, quer nossa companhia e que frequentemos sua casa, mas diz claramente que não quer que nossos filhos nos acompanhe, pois não quer estar junto com eles, como nos sentiríamos? Por que cargas d'água Deus deveria aceitar aqueles que querem-No como Pai e amigo, mas não querem Seus filhos???
Não dá. Simplesmente não dá para ser crente, para ser cristão, sem a Igreja! Ela é falha, composta de gente, e gente falha. A Igreja não é Deus, não é ela quem salva o pecador, mas ela é fruto do amor de Jesus e da Sua morte na cruz. A Igreja é Dele! E todo aquele que quiser ser de Jesus deve também ser da Igreja, pois será mais uma pessoa falha no barquinho daqueles que procuram ser aperfeiçoados pelo Senhor Jesus.
Não deixe de congregar! Junte-se a nós, junte-se à Igreja de Jesus!

Deus abençoe!
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[1] Salvo, obviamente, nas situações em que, forçosamente, o cristão é impedido de congregar, tendo o direito de estar com seus irmãos na fé cerceado, como acontece em países onde o cristianismo é proibido ou, por exemplo, quando um cristão em viagem fica, por um tempo, impedido de estar com os irmãos.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Como é a oração que Deus se agrada?

"E, orando, disseram: Tu, SENHOR, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar. E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos" (At 1.24-26)

Ninguém que conhece quem foi o apóstolo Pedro discute sobre quão abençoado e abençoador foi este santo homem de Deus. É inquestionável seu caráter provado, sua fé sempre crescente, suas declarações de fé surpreendentes. Todavia, nessa ocasião que Lucas relata no livro de Atos dos Apóstolos, quando Pedro dá a iniciativa no processo de escolha do possível sucessor que preencheria a vaga deixada por Judas Iscariotes, podemos perceber algumas decisões precipitadas e ainda moldadas pelo entendimento judeu do Antigo Testamento. Vejamos:
Pedro percebe, acertadamente, que a lacuna que Judas deixou deveria ser preenchida, baseando corretamente sua fala em Sl 69.25 e 109.8. Então Pedro destaca os critérios que deveria satisfazer aqueles que seriam aptos candidatos ao ministério apostólico: deveriam ser homens que foram testemunhas oculares do ministério de Jesus, desde seu batismo realizado por João Batista até Sua assunção, e ser testemunha da ressurreição de Jesus, tendo-O visto ressurreto (vs. 15-22).
O grupo dos discípulos então lançam dois nomes como candidatos, José, chamado Justo, e Matias. Não há como questionar que estes dois homens eram crentes piedosos, fiéis desde o início do ministério de Jesus, e que contavam com a aprovação dos que já eram apóstolos, pois a sugestão dos seus nomes foi prontamente recebida e aceita pelo colegiado apostólico. Entretanto, o procedimento de Pedro em seguida é questionável. Diz o verso 24 que "orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido". Ora, perceba que Pedro ora dizendo que Deus conhece o coração de "todos", mas pede para Deus escolher dentre "os dois". Ao que me parece, Pedro pediu que Deus escolhesse dentro da escolha que eles mesmos já haviam feito. É como alguém que ora a Deus dizendo: "Senhor, tu és livre para escolher, desde que seja uma das opções que eu mesmo já escolhi de antemão". Isso é, ainda que inconscientemente, uma tentativa de limitar Deus a escolher só dentro do que me agrada, como um jovem que ora para Deus abençoa-lo com um cônjuge, pois deseja casar-se, mas oferece a Deus dois nomes "aceitáveis". Se Deus escolher alguém que não seja um destes dois nomes, o jovem simplesmente entenderia ou que Deus "não respondeu a oração", ou que "ele não ouviu a resposta ainda". Muitas vezes nossas orações são ingênuas tentativas de convencer Deus de que temos razão e que Ele vai se dar muito bem se confiar em nós, e isso não é oração bíblica. Oração bíblica é pedir a Deus que revele Sua boa, perfeita e agradável vontade, junto com a convicção e força necessárias para aceitá-la prontamente, mesmo que ela contrarie minhas expectativas e desejos; é preciso uma fé muito mais madura para orar assim do que do jeito do primeiro exemplo.
Outra coisa estranha que Pedro faz é que, logo após orarem, ele lança sortes para receber a "resposta" de Deus à oração. É sabido que, durante o tempo do Antigo Testamento, este tipo de recurso primitivo foi usado por Deus para revelar Sua vontade em alguns casos específicos, mas só porque o Espírito Santo ainda não habitava permanentemente nos crentes. Pedro tenta tomar uma decisão de escolha de liderança para a Igreja do Novo Testamento com o método do Antigo Testamento, antes do Espírito Santo ser derramado permanentemente, o que ocorreria logo em seguida durante a festa do Pentecoste. Parece-me que Pedro foi precipitado e ansioso, pois deveria ter esperado um pouco mais para que o Espírito Santo conduzisse o processo de escolha da liderança apostólica, como o fez de fato na escolha de Paulo, leia At 9.1-6 e verá que Quem escolheu Paulo para o apostolado foi o próprio Jesus, e tem mais: "Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram" (At 13.1-3). Foi o Espírito Santo Quem escolheu Paulo e Barnabé para o ministério missionário, e a Igreja só precisou orar e servir, e não lançar sortes.
Isso não significa que há demérito no ministério de Pedro, mas que talvez ainda não fosse tão maduro ainda sobre o guiar do Espírito na Igreja recém-nascida.
E nós? Quando precisar fazer escolhas e tomar decisões, como fazemos? Oramos a Deus aguardando pacientemente Sua direção ou "lançamos sortes" para "reconhecer Sua vontade"? Quando oramos, estamos prontos para ouvir a vontade de Deus, seja qual for, e nos submetermos a ela, ou estamos prontos para expor para Deus a escolha que já fizemos dentro do nosso coração, buscando apenas Sua aprovação, sem dar espaço para que Ele a contrarie? Pensemos nessas coisas, pois farão toda a diferença na nossa vida de oração.

Deus abençoe.

domingo, 19 de junho de 2016

Cristianismo, fé de iniciativa!

"Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros. Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo. Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o  que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado. Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou" (Ef 4.25-32)

Quando o assunto é fé e espiritualidade, principalmente a cristã, é muito comum as pessoas terem uma visão negativa e reativa da fé. Como assim? Explico.
Por perspectiva negativa da fé cristã quero significar aquela visão de que o cristianismo é basicamente um conjunto de proibições, de "pode e não pode", com muito mais "não pode" do que "pode". Qualquer pessoa que fizer uma leitura decente da Bíblia perceberá claramente que a fé cristã tem, sim, mandamentos proibitivos, como "não façam", "não sejam", etc. Porém, a fé cristã não é uma fé essencialmente proibitiva, negativa, mas é positiva. Há muito mais mandamentos prescritivos como "façam", "sejam", etc., do que os de cunho proibitivo.
Por perspectiva reativa da fé cristã quero significar aquela visão de que o cristianismo é uma filosofia de vida que ensina o cristão a ser neutro, apenas reagindo às circunstâncias da vida e às pessoas. Muito pelo contrário, a fé cristã assume uma perspectiva pró-ativa, de fazer e ser antes de reagir, embora haja instruções sobre como o cristão deve reagir. No cristianismo, agir é mais importante do que reagir.
Por que esclarecer isso? Porque o texto acima trata de visão acertada da fé. O apóstolo Paulo, instruindo a Igreja de Éfeso, deixou isso muito claro. Perceba que ele usa alguns aspectos morais para exemplificar essa verdade; ele usa a mentira e verdade, a ira e a reconciliação, o furto e o trabalho, a palavra torpe e a boa para edificação, coisas que provocam divisão e coisas que edificam uns aos outros. Peguemos dois destes exemplos para explicar melhor.
Paulo diz que aquele que mentia, não deve mais mentir. Este é o aspecto da negativa, instruindo a não mentir. Mas o ensino continua dizendo: antes fale a verdade para com seu irmão. O que vemos? Vemos que só "deixar de pecar" não é suficiente. Temos de começar a acertar!
Sobre o furto, o apóstolo ensina que aquele que furtava não deve mais furtar, mas deve trabalhar. É o mesmo princípio: deixar de pecar não basta, o cristão deve ser pró-ativo e começar a fazer o que é certo. E assim por diante.
A visão negativa e reativa da fé pode ser facilmente identificada na cultura popular quando o assunto fé surge numa conversa. As pessoas normalmente entram logo da defensiva e dizem algo como: "mas eu sou bom, eu não faço isso, nem aquilo, nem aquilo outro, etc.". Isso mostra que, para essa pessoa, o cristianismo é uma questão de NÃO SER, em vez de uma questão do que devemos SER.
O cristianismo é pró-ativo. Se uma pessoa peca menos agora do que pecava antes, isso é bom, mas ainda não é o cristianismo bíblico. Ninguém vai para o céu só porque parou de beber, de fumar, de adulterar, etc. Vai para o céu quando faz a vontade de Deus (Mt 7.21). Ser uma pessoa que peca menos não significa, necessariamente, ser um verdadeiro cristão.
E aí? Você vive o cristianismo bíblico, pró-ativo, de iniciativa? Você toma iniciativa para fazer o bem, ou apenas evita o mal?
"Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando" (Tg 4.17)

Deus abençoe.

sábado, 18 de junho de 2016

Arrependei-vos e convertei-vos...

"Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados" (At 3.19)

A frase acima foi falada pelo apóstolo Pedro no seu discurso no templo de Jerusalém, logo após ele e o apóstolo João curarem um coxo de nascença que esmolava à porta do templo. Pedro, cheio do Espírito Santo, prega um sermão magnífico, cheio de poder e ousadia, dentro do templo dos judeus, sobre como estes próprios judeus negaram Jesus como Messias, como o Santo e Justo, matando o Autor da Vida. Muita coragem e fé foram necessários para proclamar tal mensagem em tal lugar, para tal público.
Mas, dentro dessa obra prima da pregação cristã bíblica que foi este segundo sermão de Pedro depois da descida do Espírito Santo no Pentecoste (At 2), creio que o verso supracitado é o coração da mensagem cristã, o chamado ao arrependimento e à conversão para o cancelamento dos pecados. Qual pecado? De todos, sem dúvida. Pedro coloca o termo no plural, "pecados", propositadamente, incluindo toda a vida vivida até o momento em que se ouve este chamado. Mas, há o pecado que faz solidário todo ser humano ao seu semelhante, que é o pecado de ter negado Jesus e tê-lo "matado", como os judeus naquele sermão petrino. Sabemos que Jesus deu Sua vida espontaneamente, pois, verdadeiramente, ninguém poderia tê-lo matado se Ele mesmo não quisesse entregar-se, leia: "Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai" (Jo 10.17-18). No entanto, também sabemos pela Bíblia que só foi necessário que Jesus se doasse espontaneamente por causa dos nossos pecados: "graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai" (Gl 1.3-4 [1]). Ora, nossa conclusão óbvia é que, se todos pecaram (Rm 3.23), com exceção do próprio Jesus (Hb 4.15), e Jesus entregou-Se pelos pecados, logo eu também sou responsável pela necessidade da morte de Jesus, embora não o seja pela decisão Dele de entregar-Se para me salvar. Jesus decidiu entregar-Se por amor ao Nome de Deus e Sua glória e por amor aos homens perdidos[2], mas a necessidade da Sua morte encontra motivo no meu pecado. Assim, eu também matei Jesus, por extensão do sentido, sendo enquadrado no sermão de Pedro.
Já que todo ser humano é alvo do sermão de Pedro, percebe-se que a chamada ao arrependimento e conversão não é exclusiva para judeus, mas dirigida a todo homem e mulher, sem distinção qualquer, pois todos pecaram, e os pecados só podem ser cancelados por Jesus, mediante arrependimento e verdadeira conversão.
Arrependimento, na Bíblia, não é remorso, mas um reconhecimento do pecado acompanhado de firme e consciente decisão de abandoná-lo; esse arrependimento manifesta-se na confissão sincera e franca dos pecados (Pv 28.13; IJo 1.9). Conversão, conforme Pedro nos convoca, é, no Novo Testamento, o arrependimento somado à fé em Jesus Cristo, expressados pela confissão do Seu senhorio (Rm 10.9) e uma entrega, sem reservas, da vida toda a Ele para segui-Lo e obedecê-Lo[3]. Essa conversão e confissão de fé aceitas por Jesus Cristo, que efetivam o cancelamento dos pecados é que o Novo Testamento chama de salvação[4].
Concluímos, então, que só é possível livrar-se do pecado e dos seus efeitos através de verdadeiro arrependimento e genuína conversão a Cristo. Portanto não há, sob qualquer hipótese, salvação fora de Cristo[5]!
E você? Já se arrependeu dos pecados e se converteu a Jesus? Se não, eis o tempo, eis a hora! Tome já está decisão lançando-se aos pés Daquele que pode salvá-lo, Jesus, o Cristo de Deus!

Deus abençoe.
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[1] cf. também Is 53.5-10; Jo 1.29; Gl 2.20; Ef 5.2, 25; Hb 9.28; IPe 2.24; 3.18; IJo 3.5.
[2] Mt 10.22; 19.29; Jo 3.16; 14.13; Rm 5.8; IITs 1.12; IJo 4.19; Ap 2.3.
[3] Mt 16.24; Jo 12.26; Rm 6.16; 15.18; Hb 5.9; IPe 1.2; IJo 2.6.
[4] Lc 19.9; Rm 10.9; Fp 2.12; Hb 2.3; IPe 1.9. O próprio Jesus e o Seu Evangelho são chamados de salvação no Novo Testamento (Lc 2.30; Jo 4.22; At 28.28; Rm 1.16; Ef 1.13).
[5] Jo 14.6; At 4.12; Ef 2.13; ITm 2.5; IITm 2.10.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

O porto da obediência

"Logo a seguir, compeliu Jesus os seus discípulos a embarcar e passar adiante para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. E, tendo-os despedido, subiu ao monte para orar. Ao cair da tarde, estava o barco no meio do mar, e ele, sozinho em terra. E, vendo-os em dificuldade a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta da quarta vigília da noite, veio ter com eles, andando por sobre o mar; e queria tomar-lhes a dianteira. Eles, porém, vendo-o andar sobre o mar, pensaram tratar-se de um fantasma e gritaram. Pois todos ficaram aterrados à vista dele. Mas logo lhes falou e disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! E subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou. Ficaram entre si atônitos, porque não haviam compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido" (Mc 6.45-52)

Depois de um dia cansativo, Jesus faz seus discípulos embarcar e atravessar o mar da Galileia e ir para a cidade de Betsaida. Após despedir a multidão que O seguia sobe ao monte para orar, sozinho nesse caso.

O porto da obediência
A ordem de Jesus para os discípulos era para que atravessassem o mar da Galileia até Betsaida. Enquanto cumpriam a ordem o vento contrário mostrou-se uma problema sério, dificultando que chegassem ao destino. Nessa travessia marítima no meio da madrugada, podemos chamar a cidade de Betsaida de "porto da obediência", pois a ordem do Mestre era para que até lá chegassem. Remar noite a fora, mesmo com vento contrário, era exercício de obediência. Há algo interessante aqui. Sempre que um discípulo de Jesus começa a remar rumo à obediência, ventos contrários se levantarão. Perseguições, investidas malignas, dificuldades, tentações, sempre soprarão na direção oposta da obediência, procurando arrastar o barco da fé para trás. Imagine só em que estado estavam os braços dos discípulos, cansados de tanto remar contra um forte vento, sem sucesso, estagnados no meio do mar, mas sem desanimar, olhando firme para Betsaida, olhando firme para o alvo da obediência. Não importa a força do vento contrário, nosso papel é remar em direção ao destino ordenado por Jesus. Se nossos braços doem e as ondas se avolumam, podemos crer que Ele entra em nosso socorro!

O Senhor que tudo vê
Enquanto os discípulos pelejavam contra o vento no meio do mar, Jesus orava no monte. O mar da Galileia tem cerca de 12 quilômetros de largura. Marcos diz que o barco já estava no meio do mar quando Jesus decidiu ir ao seu encontro. "Meio do mar", aqui, não é uma medida exata, mas força-nos a crer que o barco já estava uma distância considerável da margem. Ainda assim, Marcos diz que Jesus os viu em dificuldades a remar: "E, vendo-os em dificuldade a remar". É difícil crer que Jesus, que estava em terra, distante alguns quilômetros, no meio da madrugada, conseguiria ver o barco e a dificuldade dos discípulos apenas com as faculdades humanas. Não, Ele viu a dificuldade dos discípulos porque Ele é Deus, Ele é onisciente! E mesmo que tenha recebido o conhecimento da situação por revelação do Pai, parece-nos justo supor que a oração que Jesus fazia no monte incluía uma intercessão pelos próprios discípulos, pois se o conhecimento lhe chegou por revelação, deve ter sido em resposta à oração. Aprendemos aqui que o Senhor sempre conhece as dificuldades que Seus discípulos enfrentam, seja onde e quando for, de que tipo for. Ele não esquece, não dorme, não toscaneja, mas está sempre atento e zela pelos Seus. O esforço obediente sempre atrai os olhares de Deus. O que mais importa, entretanto, não é o modo como Jesus soube da dificuldade, mas que empregou medidas para resolver o problema.

O Senhor que socorre os obedientes
Jesus vem ao encontro dos discípulos operando um milagre maravilhoso. Ele anda sobre o mar até alcançar o barco, pois a obediência dos discípulos e a dificuldade que enfrentavam comoveram Seu coração. Busca assumir a dianteira para guia-los até Betsaida e lembra-los de que Ele sempre estará lá quando precisarem, mostrando o caminho, sendo o caminho. Jesus não é um Senhor que não se importa com nossas dificuldades, muito pelo contrário. Ele intervem, entra com provisão e opera milagres, honra a obediência! Ele é Deus presente, orientador e protetor.

O Senhor que lança fora o medo
Os discípulos, ainda que obedientes quanto a ordem de atravessar o mar, não esperavam Jesus daquela forma. Pescadores experientes estavam no barco, como Pedro e João, homens acostumados ao ambiente do mar, homens que, ao ver alguém andando sobre as águas, naturalmente pensaram se tratar de algo sobrenatural e temeram. Mas Jesus, que não vê somente as dificuldades dos Seus discípulos, mas também seus temores, os acalma com Sua Palavra consoladora, dizendo: "Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!". Jesus sempre afasta os temores infundados. Sempre cuida dos corações temerosos quando estes estão no caminho da obediência. Aliás, vale notar que Jesus não se identifica pelo nome "Jesus", mas usa a expressão "Sou eu", ou "Eu Sou", fazendo os discípulos perceberem que o Grande Eu Sou estava com eles, portanto, não tinham o que temer.

E você? Está remando para o lado certo, para o porto da obediência? Ventos contrários tem se levantado? Seus braços já estão cansados e, por algum motivo, já pensou em desistir? Lembre-se de que o Senhor tem os olhos atentos para ti, e sempre socorrerá os que são Seus... Creia no Eu Sou!

Deus abençoe.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Tudo é possível ao que crê

"Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles. E logo toda a multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa, correu para ele e o saudava. Então, ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles? E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo; e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam. Então, Jesus lhes disse: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-mo. E trouxeram-lho; quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando. Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu; e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê. E imediatamente o pai do menino exclamou com lágrimas: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé! Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e nunca mais tornes a ele. E ele, clamando e agitando-o muito, saiu, deixando-o como se estivesse morto, a ponto de muitos dizerem: Morreu. Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou" (Mc 9.14-27)

Este episódio registrado pelo evangelista Marcos narra a libertação de Jesus operou na vida de um menino, e por extensão na vida de uma família, que sofria com as investidas de um demônio já há alguns anos. Um pai sofredor observara seu filhinho amado ser vítima dos ataques furiosos de um demônio desde a infância; não há no texto a idade do menino, mas a expressão "desde a infância" leva-nos a crer que alguns anos se contavam com o problema presente.
O pai do menino chamou o demônio de "espírito mudo" (vs. 17), enquanto Jesus se referiu a ele como "espírito mudo e surdo" (vs. 25), e o narrador, Marcos, o chama simplesmente "o espírito" (vs. 20) e "espírito imundo" (vs. 25). De qualquer maneira, é certo de que se tratava de um demônio, um espírito maligno.

A falta de fé
O pai trouxera o filho até os discípulos de Jesus com a expectativa de que pudessem socorrê-los, mas eles não puderam expelir o espírito (vs. 18). Jesus, ao ser informado do fracasso dos discípulos, aponta a incredulidade como a causa do fiasco, dirigindo-se à multidão em geral como "geração incrédula" (vs. 19). Ainda que seja provável que houvesse na multidão aqueles que não criam em Jesus, no caso dos Seus discípulos essa incredulidade não era falta de confiança em Jesus e em Seu poder, pois este já havia sido provado diversas vezes diante de seus olhos, mas falta de fé para agirem quando este Jesus estivesse fisicamente ausente, dependendo apenas de fé na autoridade que o próprio Jesus lhes havia outorgado (cf. 3.14-15).

Tudo é possível ao que crê
Jesus demonstra compaixão e interesse pelos aflitos ao indagar sobre a duração do problema na vida do menino (vs. 21). O pai, ao responder e descrever o tormento vivido, deixa transparente o seu último fiapo de esperança em resolver o problema do filho, dizendo a Jesus: "... mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos" (vs. 22). Diante do fracasso dos discípulo de Jesus o homem apresentou dificuldade em crer que o Mestre deles pudesse fazer algo além do que os próprios discípulos que O seguiam. Todavia, lá no fundo ainda havia aquela última brasinha brilhando no meio de toda aquela cinza que havia se tornado a fé daquele homem. Sua esperança estava por um fio; era seu último fôlego.
A resposta de Jesus vem sem titubear, repetindo inclusive as palavras do pai "se podes!" (vs. 23), como que convocando aquele pai a crer. Jesus também parece ser um tanto irônico ao repetir as palavras do pai, como se esse "se tu podes" do pai mostrasse que ele via Jesus como um mestre qualquer, sujeito a falhar e faltar com a fé como Seus discípulos; mas Jesus acrescenta: "tudo é possível ao que crê" (vs. 23). Com isso Jesus está chamando seus ouvintes a crer em Deus e na Sua bondade e poder, mas também deixando claro que Ele sempre crê e por isso mesmo tudo lhe é possível.
Quando Jesus ensina que "tudo é possível ao que crê" não está ensinando que, com fé, podemos fazer o que quisermos, mas que aquele que crê não atribui limites ao poder e bondade de Deus. A fé não é uma autorização para fazermos nossa própria vontade, mas justamente a força de submetê-la à vontade de Deus crendo, sem reservas, que a vontade Dele é que é boa, perfeita e agradável (cf. Rm 12.2).

A humilde e pequena fé
Diante do apelo de Jesus para que a "geração incrédula" passasse a crer, o pai do menino responde favoravelmente com um sonoro "Eu creio!" (vs. 24). Ele foi inspirado pela fé de Jesus e compreendeu a distinção entre o Mestre e Seus discípulos, passando então a crer que Jesus era Quem realmente podia salvar ele próprio e seu filhinho atormentado. Não obstante, o pai emenda à sua declaração de fé uma confissão em forma de súplica, dizendo: "Ajuda-me na minha falta de fé!". Ele assume que crê, mas confessa que falta-lhe fé. Como pode ser isto? O que o pai está dizendo, em outras palavras, é que agora ele crê que Jesus é Quem diz ser, Aquele que pode salvá-lo e a seu filhinho, mas que ele próprio está como um dos Seus discípulos, que também faltaram com a fé. O pai se coloca humildemente no grupo dos discípulos de Jesus, inclusive admitindo que falta-lhe ainda a fé ousada e experimentada, alvo de todo cristão. Ele reconhece que crê em Jesus, mas também reconhece sua necessidade de ajuda para crer.

Bom, de tudo o que falamos o que fica é o seguinte: Deus deseja que os homens creiam Nele, em Sua bondade e poder. A incredulidade não impõe limites a Deus, mas nos priva de sermos usados por Ele; ela não atrofia o braço forte do Senhor, mas atrofia nossa capacidade de recebermos e reconhecermos Sua graça e poder. Também aprendemos que Deus não conhece limites, e a fé deve lembrar-nos sempre disso. A honestidade espiritual e a humildade de reconhecermos que nossa fé pode ser real e verdadeira, mas que ao mesmo tempo pode ser frágil e débil, faz bem. É uma virtude viver a fé cristã com humildade, reconhecendo nossa própria limitação. Entretanto, precisamos experimentar e desenvolver essa fé, pois essa é a vontade de Deus para nós.
E você? Como vai tua fé?

Deus abençoe.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

O valor da comunhão

"Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta" (Mt 5.23-24).

Nestes pequenos dois versos do Sermão do Monte, como é conhecido o ensino de Jesus dos capítulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus, encontramos algumas lições preciosas sobre o valor da comunhão entre os irmãos. Primeiramente é bom saber que o termo "teu irmão" no Evangelho de Mateus é usado somente com relação aos que pertencem ao círculo cristão, de discípulos de Jesus. Portanto, Jesus tem em vista Seus discípulos quando diz estas palavras.

Conduta é mais importante do que liturgia e culto formal
Tasker, ao comentar estes versos, observa que "Deus não quer receber ofertas de cristãos que não estejam em paz entre si"[1]. Dizer que conduta é mais importante que liturgia e culto formal não diminui a importância da liturgia e do culto em si, mas apenas estabelece uma prioridade, pois o culto e sua liturgia não serão aceitos por Deus se a comunhão estiver comprometida.
A Igreja é a coletividade daqueles que submeteram-se a Cristo como seu Senhor pessoal crendo Nele como seu Salvador. Na Igreja, composta de gente, e gente imperfeita, atritos e desgastes são comuns. Em qualquer grupo de pessoas que convivem juntas, enquanto estiverem neste mundo e condicionadas às imperfeições da natureza humana terrena, estes desgastes existirão. Ajustes e cuidados são continuamente necessários para cultivar a harmonia e a comunhão entre os irmãos cristãos. Daí a ênfase que Jesus sempre colocou sobre a comunhão e o perdão entre os Seus discípulos (Mc 11.25; Jo 13.35; At 2.42; Cl 3.13).
Não é agradável a Deus o culto e a adoração prestados por aqueles que, cientes de que algum irmão tem algo contra ele, não buscaram primeiro a reconciliação. Note também que Jesus não diz "se tiverdes alguma coisa contra teu irmão", mas "teu irmão tem alguma coisa contra ti"; isso é proposital, pois Jesus quer mostrar que não é só quando somos ofendidos que devemos buscar reparação na relação, mas também quando ofendemos. Não depende de quem tem razão ou culpa, a reconciliação deve ser buscada sempre. Se meu irmão tem algo contra mim, e eu sei disso, devo dar a iniciativa na reconciliação, e não ficar investigando culpados e estabelecer um tribunal para julgar quem tem razão, mas simplesmente agir pelo bem da paz (cf. vs. 25-26).

A relação com Deus não está isolada da relação com os irmãos
Outra lição valorosa sobre como Deus vê a comunhão cristã é que Deus não isola Sua relação conosco das nossas relações humanas. Minha relação com Deus tem a ver com minha relação com próximo. Se não busco reconciliação com irmãos e cultivar a comunhão com eles, a comunhão com o Senhor também sofrerá consequências. Aos olhos de Deus não há dicotomia entre vida religiosa (relação com Ele) e vida secular (relação entre os homens). Um exemplo muito apropriado que pode ser dado aqui é um ensino do apóstolo Pedro na sua primeira carta, leia com atenção: "Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações" (IPe 3.7). Percebe que Pedro está dizendo que até a vida conjugal tem implicações na relação com Deus? Se sou um marido bruto, indelicado e deixo de reconhecer a natureza feminina de minha esposa, logo minhas orações - minha relação com Deus - podem ser interrompidas.
Simplesmente não há como negar, nossa relação com o próximo tem a ver com nossa relação com Deus.

Se, ao pensar em Deus e adora-Lo, algum irmão cuja relação está com problemas vier à mente, melhor é que se interrompa a adoração e busque logo a reconciliação. Se isso não é possível de imediato, na primeiro oportunidade dê a iniciativa e busque a restauração da comunhão, pois se Deus não encontrar em nossos corações o desejo pela comunhão e em nossas mentes a firme decisão de zelar por ela, então não aceitará nossa adoração, que tornar-se-á apenas perda de tempo.
E aí? Veio alguém à tua mente? Corra lá, reconcilie-se!

Deus abençoe.
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[1] Tasker, R. V. G. Série Cultura Bíblica: O Evangelho Segundo Mateus: introdução e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 1980, p. 55.